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Críticas, Em Sala 0

The Look of Silence (2014) de Joshua Oppenheimer

De Carlos Natálio · Em 11 de Junho, 2015

Foi em 2012 que o norte-americano Joshua Oppenheimer, formado em Harvard, cravou a fundo a sua estaca no território minado da cinefilia contemporânea com o besta-bestial The Act of Killing (O Acto de Matar, 2012).  O documentário, que eriçou os pelinhos dos mais ferrenhos espinozistas e deleitou os adeptos do dito marxista sobre a repetição da história “first as tragedy then as farse”, colocava alguns dos carrascos do genocídio de mais de um milhão de “comunistas” indonésios, na segunda parte dos anos 60, a re-apresentar, desta vez para a câmara em jeito de filme ou pequeno teatrinho, as suas atrocidades. A polémica gerada deveu-se em parte ao facto do cineasta confiar em demasia no potencial sublimador freudiano da liberdade total dada aos assassinos, que a História, o regime, não chegou a punir. Os quais, muitos deles, vivem hoje uma velhice confortável, com um vago estatuto de herói, pouco ou nada atormentados pelo “fantasma” dos comunistas que às suas mãos perderam a vida. Obviamente, gritou-se que aqui faltava um verdadeiro olhar de confrontação: ou das vítimas ou, pelo menos, de uma presença menos camaleónica de Oppenheimer.

Rezam as (mais ou menos) más línguas que as vítimas viriam a seguir e que The Act of Killing foi concebido inicialmente como um díptico do qual este The Look of Silence (O Olhar do Silêncio, 2014) seria a conclusão. Neste (e como aconteceu com o primeiro com a aprovação cautelar dos produtores executivos Werner Herzog e Errol Morris) há uma espécie de “direito de resposta” aos familiares das vítimas, aproximando-se assim de uma estrutura documental mais convencional. Essa resposta toma a forma de um inquérito/confrontação de uma família que viu o seu filho assassinado no genocídio e que, sabendo da identidade dos culpados que andam à solta (ou melhor, são vizinhos), os procura. Este confronto é levado a cabo por Adi, oftalmologista, o outro filho da família e irmão da vítima.

Mas como o sangue, que os assassinos bebiam para não enlouquecer e que se diz ser agridoce, também The Look of Silence, como o seu predecessor, continua a ter um tom acre e um tom doce.

Este “olhar do silêncio” que quer funcionar, percebe-se, como uma reparação face à grand folie pouco explicativa que procurava encenar fellinianamente no primeiro filme essa coisa a que se designa matança (como se fosse possível/desejável abstrair da história para repor afinal da contas a “justeza” da própria história) toma aqui várias formas. É o olhar silencioso de gritante revolta de Adi ante as desculpas dos assassinos do irmão, é o não olhar do seu pai (que dizem já deve ter uns 140 anos) ou o olhar silencioso dos carrascos. Estes surgem frequentemente acompanhados de muros feitos de sorrisos amarelos, a política como assunto que tudo desculpa, a velhice que (quase) tudo desculpa, as frases reveladoras, “você faz muitas perguntas”, “não fique preso ao passado se não quer que isto tudo volte a acontecer”…

Mas como o sangue, que os assassinos bebiam para não enlouquecer e que se diz ser agridoce, também The Look of Silence, como o seu predecessor, continua a ter um tom acre e um tom doce. A apologia do silêncio do olhar de Oppenheimer, que permitia que os assassinos andassem à solta para perseguirem o seu momento de fama, não deixava despercebida a sua voz audível por exemplo nos planos em que um ex-jagunço, matulão de 100 quilos envergava (a bem do filme, claro) um justo vestido rosa choque e se fazia diva/deusa da morte. Imagens poderosas, capitalizáveis contra o silêncio e a neutralidade.

Isto volta a acontecer neste segundo filme, com a voz do “espectáculo” do voyeurismo que não emudece o cineasta. O desnecessário adereço simbólico dos óculos, marca de uma possível reparação de olhares (do espectador, dos assassinos), quebra o melindre que se julga existir em toda a situação. A forma como Oppenheimer filma o pai, velhinho, sem dentes, cego, magérrimo, entre a admiração e o freak, são reveladores de um certo “entusiasmo cinematográfico e documental” que faz o espectador duvidar das suas propostas originais de refuncionalização dos gestos e das situações, para produzir imagens justas para um genocídio sem contraditório. Que venha alguém de fora mexer tão a fundo, e por vezes, de forma até solta, no trauma e nas feridas de outrem não tem como não causar desconforto. Mas talvez seja este o preço a pagar para começar a sarar feridas. Nós por cá demos-lhe um prémio, o especial do júri em Veneza, acreditando por agora mais na missão do que no bluff.

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Carlos Natálio

«Keep reminding yourself of the way things are connected, of their relatedness. All things are implicated in one another and in sympathy with each other. This event is the consequence of some other one. Things push and pull on each other, and breathe together, and are one.» Marcus Aurelius

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