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À pala de Walsh
Críticas, Em Sala 1

Clouds of Sils Maria (2014) de Olivier Assayas

De João Lameira · Em 2 de Julho, 2015

No seu filme anterior, Après Mai (Depois de Maio, 2012), Olivier Assayas reconstituía a sua juventude (pós-)revolucionária. O cineasta francês nem se esforçava muito para esconder a autobiografia – o nome do protagonista podia não ser o seu, mas a história era demasiado semelhante à sua. Nesse sentido, era de leitura fácil. Pelo contrário, em Clouds of Sils Maria (As Nuvens de Sils Maria, 2014), Assayas diverte-se a brincar com várias camadas de interpretação, jogando com as expectativas e o conhecimento do espectador, pegando na “vida real” das actrizes.

Clouds of Sils Maria (As Nuvens de Sils Maria, 2014) de Olivier Assayas

Simplificando (ou rebuscando), Clouds of Sils Maria funciona em três níveis, que poderão ou não corresponder às três partes em que o filme se divide (contando com o epílogo) ou até mesmo às três actrizes principais – Juliette Binoche, Kristen Stewart, Chloë Grace Moretz: subtexto, texto e hipertexto. Boa parte (a melhor parte) das obras de ficção funcionam textual e sub-textualmente, é certo, mas raras vezes o subtexto é tão explícito e o texto tão fugidio e misterioso. Já o hipertexto é, acima de tudo, um exercício meta não muito surpreendente, talvez o “texto” mais desinteressante.

Elaboro:

E Kristen Stewart, de longe a presença (transformada em ausência) mais desconcertante, faz de vazio. Ela representa o mistério, o não-dito, um buraco negro que absorve tudo em volta.

Subtexto. Na segunda parte do filme, Maria Enders, consagradíssima actriz francesa, e a sua jovem assistente pessoal Valentine assentam arraiais num chalet nos Alpes suíços, quando a primeira se prepara para ensaiar Cobra de Maloja, peça de teatro do falecido (na primeira parte, fora de cena) Wilhelm Melchior que lançara a sua carreira. Pelo que se vai ouvindo dos diálogos, a peça é incaracteristicamente óbvia (para obra tão conceituada): sem grandes subtilezas, trata da relação entre uma empresária de meia-idade e a jovem assistente que a seduz e a leva à ruína e ao suicídio. Ainda principiante, Maria interpretara o mais suculento papel da assistente. Agora, vê-se no papel da outra, vulnerável e decadente, obrigando-se a lidar com o envelhecimento e a previsível (inevitável) perda do lugar debaixo das luzes da ribalta. A sua assistente, entretanto, é convocada para ler o papel de assistente consigo, diálogos que comentam (ou criam) a tensão sexual entre as duas.

Texto. Porém, a relação entre Maria e Valentine é bem mais complexa do que a da peça (ou seja, Clouds of Sils Maria é mais bem escrito do que Cobra de Maloja). Primeiro, nada tem de abertamente sexual, apesar de alguns olhares e contactos. Quando muito, representa o recalcamento do desejo, quando na peça as personagens se entregavam desenfreadamente/loucamente a este. Depois, é retratada com uma ambiguidade crescentemente assustadora. Nunca se sabe muito quem depende mais de quem, se a actriz à beira de um ataque de nervos ou a assistente à procura de uma figura maternal, se a actriz condescendente ou a assistente despreocupada e arisca. Nesta mise en abyme, os papéis confundem-se, trocam-se, justapõem-se, lembrando o famoso plano de Persona (Máscara, 1966) de Ingmar Bergman, no qual os rostos de Bibi Andersson e Liv Ullman se tornam num só. Ou, mais taxativamente, o confronto entre Charlotte Rampling e Ludivine Sagnier em Swimming Pool (2003). Como no filme de François Ozon, estabelece-se uma “luta de idades”, entre a alta cultura da meia-idade (da meia-classe) e a baixa cultura juvenil, da mitologia dos super-heróis (os novos deuses gregos).

Hipertexto. Essa batalha das idades é clara na oposição entre a primeira parte do filme e o epílogo. Na primeira parte, o fulcro é o círculo do dramaturgo eremita, da grande actriz francesa, do velho actor mulherengo. É o mundo dos jantares oficiais e da pompa dos festivais de cinema. O mundo de Maria. As redes sociais, os escândalos instantâneos, os paparazzi irrompem pelo epílogo. Jo-Ann Ellis, nova coqueluche de Hollywood, heroína de blockbusters em busca do prestígio do teatro, contratada para interpretar o papel da assistente atrai e arrasta esses elementos, onde quer que vá. É uma crítica pouco original (vista e revista) aos bastidores do espectáculo. Bem mais curiosa é a escolha do elenco de Clouds of Sils Maria. Juliette Binoche faz de Juliette Binoche, numa versão mais tolerável, porque desarmada, do que o habitual (Binoche resvala em alguns filmes para o tal papel de “grande actriz francesa”). Chloë Grace Moretz, estrela em ascensão no cinema norte-americano, faz de Kristen Stewart, cuja vida privada é uma instituição pública. E Kristen Stewart, de longe a presença (transformada em ausência) mais desconcertante, faz de vazio. Ela representa o mistério, o não-dito, um buraco negro que absorve tudo em volta. Sem ela, Clouds of Sils Maria seria apenas um exercício pós-moderno engraçadote (aliás, é o que acaba por ser lá para o fim). Com ela, é algo mais, inefável.

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João Lameira

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