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Written on the Wind (1956) de Douglas Sirk
Críticas, Noutras Salas 1

Written on the Wind (1956) de Douglas Sirk

De João Araújo · Em 23 de Outubro, 2015

Ver um filme de Douglas Sirk é como entrar num universo diferente. Em Written on the Wind (Escrito no Vento, 1956), os gestos são repletos de simbolismo, as cores mais vibrantes, a música sempre presente, os cenários demasiado falsos, os actores parecem de plástico e as personagens trágicas. Aqui os dramas são melodramas e os sentimentos são exagerados! Tudo é reduzido ao que as personagens estão a sentir no momento, num mundo fechado em relação ao exterior, onde não existe mais nada.

Tudo o que se segue durante o filme está logo na primeira sequência de Written on the Wind. Ao anoitecer, um carro acelera até uma mansão, e o seu condutor atira uma garrafa de whiskey contra uma parede, as árvores agitam-se com o vento, as folhas soltas entram pela casa, ouvimos um tiro, alguém deambula até cair morto à entrada e uma mulher desmaia ao ver isto por uma janela – tudo enquanto ouvimos a canção Written on The Wind, dos Four Aces. O melodrama torna-se literal e o título do filme reforçado. O prólogo anuncia, desde logo, para onde o filme vai caminhar, um fim anunciado que irá pairar sobre a acção, como um aviso de que o destino é inescapável. Resta tentar perceber como tudo aconteceu.

Um dos pontos fortes é a caracterização das personagens, cujos traços largos são definidos desde logo, para ao longo do filme poderem manter-se fiéis ou não a essas características, como um teste de personalidade. No centro desta história encontramos dois irmãos de uma família do Texas que enriqueceu com o negócio do petróleo, cada qual com as suas desvirtudes. Kyle Hadley, interpretado por Robert Stack, é um playboy alcoólico que vive na sombra do seu amigo de infância, Mitch Wayne, interpretado por Rock Hudson. Mitch, de origem mais humildes, é um amigo leal e íntegro, que não se pode dar ao luxo dos mesmos excessos de Kyle. Mesmo considerando-se um falhado, Kyle não esconde a mágoa e inveja perante a admiração do seu pai por Mitch. Se a relação entre os dois é baseada numa amizade inabalável, tudo se complicado devido ao comportamento da irmã de Kyle, o outro lado turbulento da família. Marylee Hadley, interpretada por Dorothy Malone, está perdidamente apaixonada por Mitch, mas ao não encontrar correspondência nesse amor, procura criar problemas a todos, e substitui Mitch por qualquer homem que esteja disponível.

Se a trama entre este triângulo de personagens parece complicada, próxima mesmo de uma novela, a aparição de uma nova personagem, que irá despertar o interesse dos dois amigos, vai confundir ainda mais o rumo desta história. Lucy, interpretada por Lauren Bacall, aparece como uma mulher independente e sofisticada, que resiste aos avanços dos dois homens, mas que, numa elipse própria de um filme de exageros, acaba rapidamente casada com Kyle. Durante algum tempo persiste uma espécie de calma enganadora, que o final já anunciado desmente. O alcoolismo de Kyle e os seus receios de ser infértil explodem quando Lucy anuncia uma gravidez e este começa a suspeitar de Micth, atiçado pela sua irmã – os dados estão lançados para o desabar do terceiro acto do filme. Se Hudson e Bacall são os baluartes no qual o filme procura uma atitude mais responsável, as interpretações, igualmente impressionantes de Robert Stak e Dorothy Malone, são o pêndulo que fazem deslocar as emoções do filme, dando corpo aos excessos e impulsividades das suas personagens.

O campo de acção do filme é reduzido ao drama interno desta família e aos tumultos internos das personagens, como se nada mais importasse, contudo, o filme preenche esse espaço exíguo com gestos ampliados, cheios de dramatismo

O campo de acção do filme é reduzido ao drama interno desta família e aos tumultos internos das personagens, como se nada mais importasse, contudo, o filme preenche esse espaço exíguo com gestos ampliados, cheios de dramatismo. Este afunilamento psicológico é correspondido pelo enquadramento da acção, com recurso a uma encenação virtuosa, onde nada é deixado ao acaso. É o cinema como espectáculo sentimental, sem subtilezas. Quando Kyle recebe do médico a notícia que Lucy não é infértil, conclui que o problema deve ser dele, e sai intempestivamente para a rua, onde encontra uma criança a brincar, numa crueldade cénica. Sucedem-se diferentes temas, num somatório kitsch que acentua o tópico do falhanço pessoal sentido pelas personagens, mas a abordagem visual mantem-se constante. Marylee é a personagem mais interessante, onde o filme encontra uma imagem para a sua exuberância, quer através das suas roupas ou acessórios vermelhos, quer na sua atitude libertina, sugestiva quanto baste para a época. Depois de ver, mais uma vez, os seus avanços amorosos em relação a Mitch recusados numa conversa telefónica (“don’t bother Mitch, not unless you have an exciting evening in mind – and you know exactly what I mean by an exciting evening”), rodeada de encarnadas flores plásticas, derruba o retrato de Mitch que guarda no seu quarto.

Não admira que Sirk fosse um dos nomes enunciado pelos Cahiers du Cinéma em relação à teoria de autor, como alguém cujo estilo visual transcendia o material abordado. A sucessão de acontecimentos do filme poderia facilmente cair para o tele-novelesco, mas o tratamento estilístico eleva o filme, precisamente pela sua forma ser mais importante que o conteúdo. É impossível olhar para esta história, e para a encenação desta história, sem encontrar ironia no olhar de Sirk, como alguém que observava o espectáculo de fora. Desde cenários demasiado falsos, diálogos carregados e gestos grandiosos, é tudo exagerado, de forma a corresponder ao dramatismo interior das personagens.

Não deixa, também, de ser significativa a escolha de Sirk em revelar o fim logo no início. Se por um lado prende a atenção de espectador e alerta para os contornos trágicos da história, por outro, influencia a leitura da história à medida que tentamos perceber o puzzle narrativo que leva a história àquele momento, encurralando as personagens para as decisões que levam àquela resolução. Porém, a grande surpresa do filme é a forma como ultrapassa isso, levando-o para além desse fim: afinal é em Marylee que reside a única hipótese de redenção. É como se o filme estabelecesse a necessidade de um tradicional happy ending, ao mesmo tempo que coloca essa hipótese desde logo como impossível. Afinal, é apenas o happy ending possível no meio desta tragédia, o mais irónico dos happy endings. Se não há melodramas felizes, este pelo menos contenta-se em divertir-se com o próprio espectáculo.

Written on the Wind de Douglas Sirk será exibido dia 23 de Outubro, pelas 21h45, no Auditório do Museu Municipal de Caminha, numa sessão promovida pelo Cineclube Locus Cinemae.

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1950'sDouglas SirkLauren BacallRock Hudson

João Araújo

"I don't think the film has a grammar. I don't think film has but one form. If a good film results, then that film has created its own grammar" Yasujiro Ozu in "Ozu and The Poetics of Cinema", David Bordwell

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1 Comentário

  • António diz: 6 de Julho, 2018 em 0:40

    Nunca gostei muito do género melodrama e este “written on the wind” não foi exceção. Quase tudo neste filme me pareceu forçado e exagerado. Não criei qualquer empatia com nenhum dos quatro personagens principais. A primeira metade do filme é extremamente aborrecida e não convence, a segunda parte aumenta um pouco de nível. As atuações de Lauren Bacall e de Rock Hudson são (estranhamente) bastante fracas. Robert Stack e Dorothy Malone, sobretudo esta, estão em bom nível. Achei o final do filme bastante patético.

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