Decorre nos próximos dias 1 a 8 de Dezembro o segundo Porto/Post/Doc, depois de uma promissora primeira edição. Tal como no ano passado, o Festival ocupa três locais de exibição próximos do centro da cidade: o Teatro Municipal Rivoli, o Cinema Passos Manuel e o Espaço Cultural Maus Hábitos. O primeiro grande destaque da programação vai para uma colaboração entre o À Pala de Walsh e o Porto/Post/Doc, através do qual será apresentado, sob o lema Working Class Heroes, um ciclo de filmes de Lionel Rogosin, um dos nomes mais importantes da história do documentário, pela forma como combinava o género documental com a ficção: On The Bowery (No Bowery, 1956) [dia 5 às 18h30, TM Rivoli], revela um retrato intemporal sobre um bairro problemático em Nova Iorque, onde os marginais da sociedade acabavam entregues à sua miséria e donde raramente voltavam a sair, e Come Back, Africa (Volta, África, 1959) [dia 8 às 18h30, TM Rivoli], que através de filmagens clandestinas, mostrava as condições de vida durante o apartheid na África do Sul, como nunca tinha sido feito antes. Durante o festival estará patente uma exposição de fotografias de Lionel Rogosin, no foyer do Auditório Isabel Alves Costa do Teatro Municipal Rivoli, a partir de uma seleção feita por Michael Rogosin, filho de Lionel, e que estará presente no Porto para apresentar estas sessões e o seu documentário sobre a obra do pai, The Perfect Team: The Making of On the Bowery (A Equipa Perfeita, 2009) [dia 7 às 10h, TM Rivoli]. Este ciclo de filmes será também alargado a Lisboa, numa parceria com a Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, onde os filmes serão exibidos no dia 9 e 10 de Dezembro.

Além de Lionel Rogosin, o festival apresenta outros dois ciclos dedicados a dois nomes incontornáveis no panorama do documentário. Thom Andersen, cineasta eminente do género filme-colagem-ensaio, será alvo de uma retrospectiva quase integral ao longo do festival (com a excepção do seu filme mais famoso, Los Angeles Plays Itself, 2003, exibido no edição anterior). Será a oportunidade de (re)ver Red Hollywood (Hollywood Vermelha, 1996) [dia 3 às 22h30, Passos Manuel] ou a estreia do seu filme mais recente, The Thoughts That Once We Had (Os Pensamentos que Outrora Tivemos, 2015) [dia 6 às 22h15, Passos Manuel], uma análise da história do cinema à luz da obra de Deleuze, numa associação livre de sequências da história do cinema, no que será um dos momentos altos do Festival para qualquer cinéfilo. O outro nome destacado pelo festival é Chantal Akerman, numa homenagem à realizadora belga recentemente falecida, com a exibição do seu último filme, No Home Movie (2015) [dia 1 às 22h15, Passos Manuel], um comovente filme sobre a relação de Akerman com a sua mãe; News From Home (Notícias de Casa, 1976) [dia 7 às 22h15, Passos Manuel], onde Akerman percorre as ruas de Nova Iorque como nómada enquanto lê cartas da sua mãe; e finalmente o documentário I Don’t Belong Anywhere – Le Cinéma de Chantal Akerman (Não Pertenço a Lado Algum – O Cinema de Chantal Akerman, 2015) de Marianne Lambert, que acompanhou Akerman durante vários meses à procura de um esboço de um retrato desta realizadora esquiva – o filme apenas será exibido dia 3 às 10h, no TM Rivoli, mas será seguido de uma masterclass de Marianne Lambert.
Outros nomes consagrados fazem parte da programação, com realce para a apresentação do filme mais recente de Frederick Wiseman, cuja carreira aproxima-se dos 50 anos, que com In Jackson Heights (Em Jackson Heights, 2015) [dia 8 às 19h, Passos Manuel] investiga um bairro multi-cultural de Nova Iorque debaixo de uma crise de identidade e um problema de gentrificação que é cada vez mais actual – Wiseman regressa a um tema mais político e em grande forma. De Albert Maysles, realizador celebrado pelos seus filmes Grey Gardens (1975) e Gimme Shelter (1970), e falecido há poucos meses, chega o seu penúltimo filme, Iris (2014) [dia 1 às 22h, Grande Auditório TM Rivoli], um retrato de Iris Apfel, um ícon de Nova Iorque que aos 93 anos de idade continua a agitar o mundo da moda. Do desconcertante realizador José Luis Guerín chega o polémico L’Accademia Delle Muse (A Academia das Musas, 2015) [dia 7 às 22h15, Passos Manuel], uma experiência-documentário que pode afinal não ser o que aparenta, questionando a percepção do espectador. Menção ainda para o filme da sessão de abertura, The Wolfpack (A Matilha, 2015) [dia 1 às 22h, Grande Auditório TM Rivoli], filme sobre um grupo de irmãos que vivem escondidos num apartamento em Manhattan, cujo único acesso ao mundo exterior é através dos filmes que vêem e recriam apaixonadamente – foi o filme vencedor do Festival de Sundance 2015 na categoria Documentário.

Por todos os programas paralelos ao longo do Festival, é na secção da Competição que podemos encontrar um barómetro da produção contemporânea do género documental. A selecção deste ano incide numa aposta sobre vários realizadores em início de carreira, ainda relativamente desconhecidos, prometendo a descoberta de novos talentos. Alguns destaques incluem: Beixi Moshuo (Behemoth, 2015) de Zhao Liang [dia 3 às 22h30, TM Rivoli; repete dia 6 às 16h30, Passos Manuel], um filme que contrasta as novas paisagens que vão surgindo com o progresso económico com um olhar poético, vencedor de dois prémios no Festival de Veneza; Toponimia (Toponímia, 2015) de Jonathan Perel [dia 2 às 15h, TM Rivoli; repete dia 5 às 19h, Passos Manuel], sobre um conjunto de pequenas cidades na província de Tucumán na Argentina e as marcas deixadas pela passagem do tempo; Killing Time – Entre Deux Fronts (Tempo Para Matar, 2015) de Lydie Wisshaupt-Claudel [dia 2 às 22h30, TM Rivoli; repete dia 5 às 16h30, Passos Manuel], retrato do dia a dia de um grupo de marines de regresso do Afeganistão e do Iraque, estacionados algures na paz terrena de uma base militar nos EUA; Las Letras (As Cartas, 2015) de Pablo Chavarría Gutiérrez [dia 1 às 19h, TM Rivoli; repete dia 4 às 15h, TM Rivoli], que procura reconstruir as memórias de um um professor e ativista indígena mexicano através de cartas escritas a partir da prisão; Cartel Land (Terra de Cartéis, 2015) [dia 3 às 16h30, Passos Manuel; repete dia 6 às 22h30, TM Rivoli] de Matthew Heineman, que acompanha duas histórias paralelas na fronteira entre o México e os EUA e o ciclo de violência que as circunda; a excepção é o já veterano Sergei Loznitsa com Sobytie (O Evento, 2015) [dia 1 às 22h30, TM Rivoli; repete dia 4 às 16h30, Passos Manuel], uma reconstrução através de imagens de arquivo do golpe de estado falhado em 1991 na União Soviética. Destaque ainda para os dois filmes portugueses presentes na competição: A Toca do Lobo (2015) [dia 3 às 15h, TM Rivoli; repete dia 6 às 19h, Passos Manuel] de Catarina Mourão, filme vencedor do prémio do público no Indielisboa, e uma viagem íntima através da história da família da realizadora, interligada com a do próprio país, num percurso entre gerações, e Portugal – Um Dia de Cada Vez (2015) [dia 2 às 16h30, Passos Manuel; repete dia 5 às 22h30, TM Rivoli] de João Canijo e Anabela Moreira, um roteiro sobre as personagens transmontanas que o filme vai encontrando.
Existem ainda vários outros pontos de interesse ao longo do Festival: desde filmes de Apichatpong Weerasethakul e Manoel de Oliveira; ao Fórum do Real (dia 4, entrada gratuita), um debate sobre o estado actual do documentário; uma secção dedicada ao olhar sobre a adolescência (Teenage) ou outra dedicada à música (Transmission), esta com a estreia de Blur: New World Towers (2015) e Keith Richards: Under the Influence (Keith Richards: Sob Influência, 2015), não faltarão filmes a descobrir – ao todo são 70 filmes, 44 estreias nacionais e 11 estreias mundiais, ao longo de 8 dias. A programação diária do Porto/Post/Doc está disponível neste link.