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She’s Funny That Way (2014) de Peter Bogdanovich

De Carlos Natálio · Em 11 de Novembro, 2015

Segundo se conta, mas lá está, não se sabe quanto disto é facto quanto é lenda, She’s Funny That Way (“tradução horrorosa”, 2014) entrou em pré-produção em meados dos anos noventa com o nome “Soup to Nuts”. Desta expressão que significa qualquer coisa como “do princípio ao fim” (e que é também o título de duas curtas metragens, uma de Laurel and Hardy e outra dos Three Stooges), passou-se à expressão central do filme “squirrels to the nuts”, fala de Charles Boyer em Cluny Brown (1946) de Ernst Lubitsch, citada aqui em jeito de frase esperanto de engate do seu protagonista, o realizador Arnold Albertson (Owen Wilson). E talvez a ideia inicial, a de fazer do filme uma homenagem a Tatum O’Neill – a menina entretanto feita actriz que Bogdanovich descobriu para Paper Moon (Lua de Papel, 1973) – tenha, como o passar dos anos, mudado um pouco.

She's Funny That Way (2014) de Peter Bogdanovich

A passagem dos anos, neste espectacular declínio que sofreu (à la Orson Welles) a carreira de Peter Bogdanovich, transformou She’s Funny That Way numa espécie de pet project, feito da acumulação de observações mais ou menos cómico-sórdidas dos bastidores do showbizz e ajustes de contas reprimidos. Porventura por isso, melhor do que insistir no lugar comum de que Bogdanovich quiçá seja um crítico de nome grande e um cineasta de rodapé na história do cinema, valerá antes a pena descortinar quanto desta espécie de retake de screwball comedy é, de facto, apenas e só, funny como o título indica. Talvez lendo o trajecto biográfico do cineasta, narrativa de grande paixões, traições, assassinatos e suicídios, se possa concluir que qualquer comédia que Bogdanovich faça, ou ainda venha a fazer, ela será sempre, por definição, dramática.

Parte da limitação e do fascínio do cinema de Bogdanovich é o de fazer-se sempre na tensão entre a tarefa do criador e a tarefa do crítico.

Eventualmente por isso, num filme sobre um encenador famoso da Broadway que engana a esposa com prostitutas em quartos de hotel, oferecendo-lhes grandes somas de dinheiro para refazerem a vida, Bogdanovich tenha sentido a necessidade de acrescentar (como quando se explica uma piada que ninguém entendeu), o adjectivo funny ao título. Não é que o filme não tenha graça, tem-na até bastante nestes triângulos amorosos entre o encenador, a esposa e a call girl transformada em actriz da própria peça do marido traidor. Contudo, este acto de nomeação, de criticar como vai ser o nosso próprio filme enquanto o fazemos (a nossa comédia será divertida) ilustra parte da limitação e do fascínio do cinema de Bogdanovich: o de fazer-se sempre na tensão entre a tarefa do criador e a tarefa do crítico.

Como se o amor pelo cinema e pela posição de espectador enformasse todos os seus filmes. Além das influências, já lá vou, há este duplo impulso de querer saber o que aconteceu de facto ao mesmo tempo que se tenta preservar a ilusão. Começa assim She’s Funny That Way. Com a entrevista a Izabella (ou Izzy antes da psicanálise em formato concentrado, ou Glowstick antes de terminar a carreira de “musa”). Um formato-entrevista-psicanálise que enquadra o filme, mas que também modelou muitas das suas relações com alguns cineastas importantes da história do cinema. Esta posição de “querer saber mais do passado” mas, na dúvida, a vontade de “imprimir a lenda” está presente em She’s Funny, mas é, de certa forma, também já o impulso investigador de The Cat’s Meow (O Miar do Gato, 2001).

O Heaven / I’m in Heaven de Sinatra, que se ouve no genérico inicial, é já a nossa colocação, pela mão do cineasta, num espaço de ilusão. Terá sido mesmo assim que a famosa actriz chegou ao topo, prostituindo-se? O espaço do amor pelo cinema acaba por abafar todas as relações mesmo ao ponto de pensarmos nas questões de verosimilhança. Porque é que o segundo encontro quase casual de Izabella e Arnold é logo no dia seguinte? Ou porquê se reúnem imediatamente todas as personagens, no mesmo restaurante, nos mesmos quartos, no mesmo retraçar de afastamentos e aproximações dos casais, sem pontas soltas? Nesta obra de coincidência total pode dizer-se que é a estrutura da rima cómica que casa com a inverosimilhança fabricada de um passado embelezado para ser vendido como mito. Se isto é parte da verdade, a outra metade é que Bogdanovich ama o racconto do cinema como uma casa onde tudo é perfeito, onde se está no céu da ilusão cinematográfica. Onde qualquer argumento deve ser pau para a obra de um idealismo, o mais das vezes postiço como o bigode do detective que segue a protagonista, detective que por sua vez é pai do dramaturgo que por sua vez … e a teia não tem fim à vista.

Um cineasta que gosta destas rimas é Woody Allen, um dos autores com o qual este filme mais de perto parece dialogar. Menos pela densidade dos personagens que aqui é bastante menor e mais pelo foco nas relações amorosas, com Nova Iorque e o mundo do cinema ou teatro como pano de fundo. Nesta Nova Iorque com os seus toques de telemóvel iguais, cãezinhos ama seca, psicoterapia como hobby e o tempo “opressivamente perfeito”, como diz Arnold ao chegar à cidade, She’s Funny That Way quer opor as serenatas masculinas do “squirrels to the nuts” à crença nos happy endings femininas. Ao mesmo tempo expõe-se a extravagância do dinheiro e os prazeres da carne no mundo do espectáculo, feito de birras, apresentações de perfumes e audições-cunha às filhas dos produtores.

Finalmente, o impulso criativo é o amor pelo cinema e a derradeira influência a do seu mundo nostálgico e maravilhoso. Lubitsch, Bogart, Audrey Hepburn, Sinatra, etc, etc, sempre presentes no argumento, são esse fazer-se rodear da aura de um passado, acompanhado de um presente composto por nomes que renovam esse amor. É Tarantino, outro film buff, na cena final, e são os nomes de Wes Anderson e Noah Baumbach como produtores executivos do filme.

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Carlos Natálio

«Keep reminding yourself of the way things are connected, of their relatedness. All things are implicated in one another and in sympathy with each other. This event is the consequence of some other one. Things push and pull on each other, and breathe together, and are one.» Marcus Aurelius

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