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À pala de Walsh
Festivais, IndieLisboa 2

IndieLisboa 2016: Cinema, em ti cremos

De Francisco Noronha · Em 28 de Abril, 2016

Deliberadamente ou não, o IndieLisboa proporcionou ontem, a quem se deslocou ao Cinema São Jorge, um (des)encontro com Deus e as questões da fé. Em comum, ainda, a tendência para a re-actualização de factos ou histórias de outros tempos à luz da nossa contemporaneidade. Como é hábito, ninguém saiu resolvido, mas ainda bem: o cinema é a fé dos inquietos, imparável gerador de interrogações e meias-respostas, luzes e sombras. Amen.

Le fils de Joseph (2016) de Eugène Green

Le fils de Joseph (2016), de Eugène Green

Curioso ovni, este, o que passou na sala 3 do Cinema São Jorge, desde logo pelo modo como se constitui num puzzle artístico onde cinema, pintura e música clássica se interpenetram, nunca pretensiosamente mas sempre com um propósito substancial (ainda que enigmático). Quando o filme terminou, a minha companhia disse que era “muita manteiga para pouco pão” (ou ao contrário, o ditado não consta do Google e a minha avó, sempre cirúrgica neste tipo de dúvidas, não atende o telefone), mas o certo é que, já cá fora e enquanto íamos comentando o filme, o slogan de Fernando Pessoa ganhou força – o último filme de Eugène Green (dramaturgo, além de cineasta) é um daqueles objectos que primeiro se estranham e depois se entranham, imagens e sons que ficam a reverberar nas nossas cabeças no caminho para casa. Essa estranheza deve-se, por um lado, à bressionana direcção de actores e, por outro, por mais paradoxal que isto seja relativamente à filosofia dos modèles de Bresson, à coreografia teatral que Green imprime às cenas e aos diálogos, filmando muitas vezes duas personagens em plano americano, de frente uma para a outra, falando com um ritmo e uma erudição absolutamente anti-naturalistas.

É isso que, de resto, confere um humor insólito ao filme e faz dele uma grande “comédia bíblica” (além das alfinetadas aos críticos), mais concretamente, uma alegoria da história do nascimento de Jesus Cristo situada na nossa contemporaneidade, com Vincent (Victor Enzenfis) no lugar de Jesus e Marie e Joseph a interpretar as correspondentes figuras bíblicas (e nem falta o burro, que aparecerá já quase no final do filme). E quem é, afinal, Oscar Pormenor (Mathieu Amalric), o pai que rejeitou Vincent, o homem que inseminou Marie? Será Deus, na contemporânea versão do Dinheiro-Todo-Poderoso? E se não for… quem é Deus, então? A sua eventual ausência do filme quererá sugerir a sua não existência? Joseph afirma que não foi Deus quem ordenou a Abraão que matasse o seu filho; que foi Abraão quem tomou essa decisão e que foi Deus, sim (e não um Anjo), que lhe disse para não o fazer. Com excepção desta “tese”, nada é explicativo ou assertivo no filme, tudo simbólico e especulativo, muito a lembrar o P’tit Quinquin (O Pequeno Quinquin, 2014) de Bruno Dumont (ele próprio um autor tributário de Bresson) no que de teológico ele carrega: a culpa (logo no primeiro roubo, só por “desporto”, de Vicent ressoando o Pickpocket de Bresson), a vingança e a violência (a degolação que Vincent, iluminado por uma imagem alva, aborta no último instante), a misericórdia, a redenção (a ilibação de Pormenor ao seu filho perante a presença da polícia).

Dom Juan & Sganarelle (2015) de Vincent Macaigne

Dom Juan & Sganarelle (2015), de Vincent Macaigne

A primeira longa-metragem do também actor Vincent Macaigne, um dos Heróis Independentes (a par de Paul Verhoeven) desta edição do IndieLisboa, fez estrondo (do bom) na Sala Manoel de Oliveira. Estreia soberba, esta, de Macaigne, que adapta, não sem algum dedo pessoal (a bandeira da União Europeia, já no final…), Dom Juan ou le Festin de Pierre (1683) em cinco actos fiéis à estrutura da peça original de Molière, e da qual faz uma re-leitura para os nossos dias com os actores da Comédie Française, com a particularidade de ter disposto de apenas 13 dias para a rodagem (o que, se só por si, é assinalável, depois de se ver o filme, é obra). Se as opiniões se dividiram quando Sofia Coppola deixou umas sapatilhas All Star na sapateira de Marie Antoinette (2006), aqui, os constantes gestos “actualizadores” de Macaigne não causam estranheza nenhuma, nunca caindo na patetice ou no piroso: momento brilhante é, por exemplo, quando, numa cena filmada no lago entre Dom Juan e Mathurine, esta puxa do telemóvel e coloca a tocar a ópera Don Giovanni de Mozart. Depois de o filme se iniciar com a interrogação, em off, “Como é possível não acreditar, de todo, em Deus? E no Diabo?”, Dom Juan e Sganarelle enterram um padre (e com ele Deus, a religião, a moral, as convenções) e seguem para uma festa techno num hotel com sexo, cocaína e deboche generalizado; nada gratuito, porém, tendo Macaigne explicado no Q&A que a peça de Molière tem sido amplamente desvirtuada no imaginário popular, no sentido em que a figura de Dom Juan passou a ser identificada tão-somente com um sedutor indómito quando, na verdade, o propósito original de Molière foi o de disparar uma crítica social e política à hipocrisia vigente à sua época, sendo a sexualidade apenas um dos tópicos-veículos utilizados nessa demanda. “Deixai-nos cair em tentação e não nos livres de mal”, bem podia ser a frase de guerra de Dom Juan.

Macaigne afirmou também que os (exíguos) 13 dias de que dispôs foram complicados para conseguir dos actores exactamente o que queria (até porque, disse ele, os actores de teatro são “mais resistentes”), mas a verdade é que tanto Loïc Corbery (interpretando Dom Juan e lembrando, na sua fisicalidade “nosferatiana”, o Denis Levant dos filmes de Leo Carax e, na sua aparência punk, um Sid Vicious) como Serge Bagdassarian (Sganarelle) estão formidáveis na construção da relação tumultuosa (e proto-homossexual) entre mestre e servo, forte e fraco. Mas serão, na verdade, duas personagens? Ou não serão, antes, duas cabeças da mesma personagem, razão e emoção, norma e subversão, bem e mal, céu e inferno, Deus e Diabo? A suposta transformação moral de Dom Juan no final do filme (acompanhada da exumação do padre), passando-se para o lado do “bem”, é “sabotada” pelo próprio, na medida em que, quando a faz, já sabe que o passo seguinte é a morte (“I WANT TO DIE” é a tatuagem que ostenta nas costas desde os primeiros minutos do filme). Resistência ou morte, eis o mote mobilizador de uma figura literária a necessitar de ser redescoberta pelo público. A filmografia de Vincent Macaigne enquanto actor segue nos próximos dias.

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Francisco Noronha

francisconoronha10@hotmail.com

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2 Comentários

  • IndieLisboa 2016: Flutuando | À pala de Walsh diz: 29 de Abril, 2016 em 15:45

    […] Tal como no dia anterior, o IndieLisboa congregou, no mesmo dia e no mesmo lugar (dia 28, Cinema Ideal), talvez inconscientemente, um espaço-ambiente comum, a saber, um barco onde pobres (no caso de Flotel Europa) e ricos (Chevalier) convivem em diferentes processos de socialização e introspecção. Ambos integrados na secção Competição Internacional, e pese embora os seus pontos fortes, os dois filmes não nos parecem, porém, sérios candidatos à vitória. […]

    Inicie a sessão para responder
  • IndieLisboa 2016: a verdade como modo de ser em Vincent Macaigne | À pala de Walsh diz: 2 de Maio, 2016 em 13:09

    […] realizador (ele que é também um importante encenador de teatro, convém não esquecer), escrevi já sobre Dom Juan & Sganarelle (2015) (embora aí o francês também faça algumas aparições como actor), a sua primeira e […]

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