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Críticas, Em Sala 3

Dheepan (2015) de Jacques Audiard

De Luís Mendonça · Em 12 de Maio, 2016

Vai fazer agora um ano que Jacques Audiard recebeu das mãos do júri presidido pelos irmãos Coen a Palma de Ouro de Cannes. Foi uma das mais inesperadas consagrações na história do festival. Pouco se havia escrito a propósito deste drama social sobre um homem, uma mulher e uma criança do Sri Lanka que fogem para os subúrbios de Paris na posse de identidades falsas que os vão obrigar a viver como uma família. Dheepan (Dheepan – Refúgio, 2015) terá beneficiado daquilo que costumo apelidar de “síndrome do filme do meio”: quando há uma dispersão de gostos entre os membros do júri, normalmente o prémio máximo acaba destinado àquele filme que, sem aquecer ou arrefecer, é mais capaz de gerar consensos. Foi, portanto, deste modo que um filme embaraçado consigo mesmo ganhou a Palma de Ouro? É capaz de ter sido.

Audiard não é – nunca foi – um cineasta particularmente subtil, mas até certo ponto Dheepan era um dos seus filmes mais silenciosos, um dos menos ansiosos na procura por um efeito ou por uma “mensagem”. Contudo, chegamos a um momento em que e o próprio protagonista traça uma linha. Essa linha significa uma coisa: a partir dali, o realizador vira as costas às personagens. Já não se compraz em as seguir, na sua lenta e árdua integração naquela comunidade. Foge-lhe o pé da chinela e aquilo que era silencioso, sereno e temperado vira uma explosão de acção estilizada. Os espaços de intimidade, e de contacto tímido com o interior das três personagens que compõem aquela família, dão lugar a um exercício ruidoso de cinema de acção tão abrupto quanto despropositado. Audiard cansa-se das suas personagens e transforma Dheepan num Taxi Driver (1976) que se estampa de frente com um La haine (O Ódio, 1995). Torna-se assim o filme numa fórmula de cinema patética, dada a maneira como parece desfazer-se em desculpas por tudo aquilo que fora antes.

O pobre protagonista, que no exercício das suas funções enquanto “zelador” varreu as escadarias dos prédios, arranjou candeeiros e pôs elevadores a funcionar, torna-se, subitamente, num “boneco articulado” que interpreta uma raiva e que canaliza uma tensão que traem em toda a linha sua própria – tão bem patrocinada até aí no filme – natureza de “homem bom”. É uma loucura duplamente significativa, porque Dheepan como que destrói tudo aquilo que tão judiciosamente havia procurado reparar – uma ordem nem sempre estável, mas quase sempre sossegada, chamada “quotidiano”. Ele sopra contra uma pirâmide feita de cartas, que tanto trabalho lhe deu a erigir. Ora, Audiard faz o mesmo com o filme: passa uma esponja sobre o que fizera antes.

Em Dheepan, uma visão auto-depreciativa da realidade parisiense resulta no seguinte: o caminho mais rápido para “encher” de pertinência discursiva um filme que se revela, a certa altura, aterrado com a sua falta de didactismo.

O realizador de De rouille et d’os (Ferrugem e Osso, 2012) e De battre mon coeur s’est arrêté (De Tanto Bater o Meu Coração Parou, 2005) gosta de efeitos. Ele não se sente à vontade com um filme sobre “um homem bom” que quer viver em paz e ser feliz, mesmo que isso implique esquecer as suas raízes. Audiard não consegue fugir ao seu ADN. Entenda-se: o esforço de contenção inicial, que na realidade ocupa boa parte – e a parte boa – do filme, até à explosão despropositada de sangue, suor e lágrimas, é tão “de fachada” quanto o casamento que liga, no filme, homem e mulher. Audiard nem chega a atingir aqui os picos patéticos – digo agora patético no sentido eisensteiniano do termo – dos seus outros filmes, em que sobressai o frisson dos corpos – os lábios, as pernas, os troncos, as mãos, a fúria da carne e a violência do toque…

Nesse artigo que foi um verdadeiro cocktail molotov lançado à geração de cineastas conformados do pós-guerra, «Uma Certa Tendência do Cinema Francês», o crítico dos Cahiers du cinéma François Truffaut criticava a falsa moralidade da maior parte do cinema francês. Os seus grandes mestres estavam tão convencidos da sua “magistralidade” quanto ideologicamente acomodados a uma crítica preguiçosa aos costumes e à boa moral cristãs. A rebeldia herética das suas posições tornou-se num tique aburguesado da cabeça aos pés. Virou pose. Em Dheepan, uma visão auto-depreciativa da realidade parisiense – como território de uma guerra cega que está em toda a parte – resulta no seguinte: o caminho mais rápido para “encher” de pertinência discursiva um filme que se revela, a certa altura, aterrado com a sua falta de didactismo. A retórica de Audiard é canhestra. Para se atingir o coração da realidade, ele afasta o filme da única realidade que interessa: a das suas personagens e a da luta pela sua sobrevivência. Luta entre elas e com o meio tal como ele se mostra, já suficientemente forte sem todo o fogo de artifício (vão, fátuo) que Audiard acaba tentado a lançar com estrondo nos minutos finais. Não falo aqui, portanto, da luta tonitruante das balas – ou dos cocktails molotov – mas da luta que faz as personagens ganharem raízes num lugar e perdê-las ao mesmo tempo noutro. Para ser mais claro, diria: era aí que estava o filme.

Resumindo e concluindo, o  “filme do meio” de Cannes 2015 não soube lidar com o rico espaço intermédio, situado algures entre Paris e o Sri Lanka, que tinha à frente. Audiard queria falar ruidosamente sobre a realidade e não apenas mostrá-la. Quis exibir as suas ideias tendo como pretexto as personagens, de modo a actualizar nelas o “discurso do momento” no que diz respeito ao actual estado geral de medo que perpassa a sociedade francesa – o melhor é mesmo, ó doces e queridos migrantes, tentarem Inglaterra… Enfim, não é de estranhar que Dheepan acabe afogado numa – ou afagado por uma – retórica cobarde e sonsa que faz temer o pior: estará o premiadíssimo “realismo francófono” à beira de se tornar numa “certa tendência”?

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Luís Mendonça

"The great creators, the thinkers, the artists, the scientists, the inventors, stood alone against the men of their time. Every new thought was opposed. Every new invention was denounced. But the men of unborrowed vision went ahead. They fought, they suffered, and they paid - but they won." Howard Roark (Gary Cooper) in The Fountainhead (1949)

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3 Comentários

  • dio diz: 12 de Maio, 2016 em 19:08

    É engraçado, pois acabo por chegar à mesma conclusão, mas por razões completamente opostas. Para mim, o banho de sangue é o ponto em que o filme efetivamente se torna bom, uma manobra inesperada que transforma Dheepan num thriller competente. Abandonar as personagens é uma vantagem, porque elas nunca o foram tanto quanto representações ocas de certas ideias: essa procura do homem bom, a mulher forte, a menina que sofre discriminação na escola. Tudo isto é comovente e inspirador ao ponto de querer fazer vomitar. É tudo tão geral e cliché que o filme por não apresentar um ideia interessante que seja. Trata-se de uma retórica politicamente correta que insiste em contar-nos coisas que já sabemos e acha-se incrivelmente inteligente e sociologicamente importante por o fazer.

    Inicie a sessão para responder
    • dio diz: 12 de Maio, 2016 em 19:11

      *o filme ACABA por não apresentar (…)

      Inicie a sessão para responder
      • Luís Mendonça diz: 12 de Maio, 2016 em 20:43

        É uma perspectiva, de facto. O meu entusiasmo com “a primeira parte”, chamemos-lhe assim, não estava a ser grande. Tinha a mesma desconfiança de que falas quanto a esse retrato pio das personagens. Mas estava interessado em ver até onde Audiard levava esse apego àquelas personagens e como pequenas nuances poderiam ir ganhando forma — era um processo lento de aprendizagem do universo interior de cada um dos elementos daquela família, um grupo de três indivíduos obrigados a se tornarem numa família por força das circunstâncias e em razão da sua vontade de não só sobreviverem como de comunicarem. O amor, a comunicação, o embate com o outro. Não acho que nascesse aqui uma obra-prima do Audiard – nunca vi uma obra-prima do Audiard e duvido que ela venha a existir. Mas o caminho parecia-me ser mais este do que, destrambelhadamente, virar a mesa e jogar o jogo do “thriller competente”, como dizes.

        Isto para dizer: acho que estamos mais em sintonia do que possa parecer, porque o queria enfatizar, acima de tudo, é a existência de “dois filmes” dentro de um, o que acaba por o descompensar irremediavelmente. Se “o filme” estava na “primeira parte” ou na “segunda”, aí temos opiniões contrárias, mas o fundamental é encontrarmo-nos na outra divisão: a do filme, e a da cabeça do Audiard.

        Cumprimentos,

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