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Chevalier (2015) de Athina Rachel Tsangari

De Carlos Natálio · Em 6 de Julho, 2016

Na ressaca das emancipações do século transacto o cinema contemporâneo tem-se vindo a colocar uma salutar questão: como pode o discriminador retratar o discriminado? Um exemplo. Veja-se o mais recente filme La academia de las musas (A Academia de Musas, 2015) onde o “truque” de José Luis Guerín e da sua academia (naquela as mulheres teriam uma função de “musa activa” para ajudar na reactivação da poesia do mundo; seja lá o que isso seja) foi visto por alguns como “machismo” encapotado. Mas toda esta questão se expande por outras tensões ante a noção de um filme como espaço de responsabilidade: de que forma podem os brancos falar dos negros? E os ricos dos pobres? Ou os heterossexuais dos homossexuais e os colonizadores dos colonizados? Neste campo a história ameniza a preocupação que poderia ter a grega Athina Rachel Tsangari quando decidiu “explorar” a masculinidade competitiva de meia dúzia de homens de meia-idade durante uma viagem veraneante de iate.

Chevalier (2015) de Athina Rachel Tsangari

Já que falamos de história pensemos na do cinema que nos ensinou que os homens falam dos homens (Ford, Peckinpah, tantos outros), os homens falam das mulheres (Cukor, Minnelli, Sirk) e, quando muito, as mulheres falam das mulheres (Akerman, Martel, Arzner). Agora, mulheres aventurando-se no mundo da poeira, do suor e da testosterona já não é tão comum. Bom… talvez Bigelow e Reichardt mas não muitas mais. Athina, depois da habitual história de crescimento com o seu filme anterior Attenberg (2010), resolveu satirizar alguns dos elementos que a sociedade valoriza hoje como símbolos de um homem forte e de sucesso.

É precisamente esta energia, se lhe quisermos chamar filosófica, que envolve Chevalier e que ajuda a transportar o filme de uma batalha de géneros para um exercício de maiêutica individual e, como alguns nele viram, nacional.

Nessa dita viagem de iate, para combater o tédio, seis amigos resolvem jogar a um jogo: quem será o melhor homem? As regras são flutuantes e tudo conta. Quem roe as unhas ou ressona? Quem monta mais rápido um móvel do Ikea, tem menos colesterol no sangue ou a pila maior? Nesta comédia de amizade e competição masculina, o barco devém ringue e torre de espionagem. Interessa, claro, observar a mínima falta no outro para sair vencedor.

Há uns tempos a cantora islandesa Björk disse que normalmente quando se viam mulheres no cinema estas pareciam estar encerradas numa jaula composta por energia masculina. Interessante que com Chevalier parece acontecer o oposto. Estes homens – cavaleiros contemporâneos no seu torneio medieval: o prémio para o vencedor é um anel, símbolo de orgulho e distinção – parecem batalhar rodeados de energia feminina. Um deles, já descontrolado acaba mesmo a perguntar por telefone à esposa se acha que ele tem as pernas gordas. Mas o olhar de Atina, feminilizando um pouco o jogo másculo das suas personagens (a atenção ao detalhe do outro como estereótipo do feminino) acaba por resistir à tentação de tornar as coisas espalhafatosas à medida que o jogo avança e a rivalidade aumenta. Aliás, é o final do filme, em tom suave (com os planos de despedida dos amigos à noite da doca, quando o barco chega ao porto e com o mero vislumbre do vencedor), o que permite ao espectador ávido de alegorias parar para pensar na condição de um país que, estando em crise, eleva os valores da rivalidade entre os seus, para perceber quem é o melhor ou o menos culpado de toda esta pseudo-ruína financeira.

Outra energia, mais vaga, não deixa de pairar nesta comédia com diálogos sobre responsabilidade por toques de telemóvel ridículos ou sobre a melhor forma de grelhar lulas. Formulações como: “deixa-me fazer-te uma pergunta” ao que o outro responde “com prazer”, ou interrogações como “não seria óptimo estar sempre de férias?”  fazem parte de uma cadência de diálogos de revelação em caminho de uma descoberta da verdade, que a história grega sempre encenou, pelo menos a partir dos famosos diálogos socráticos. Essa cadência da argumentação, das refeições em conjunto, da filiação masculina já faziam parte de um ideal de competição e sobretudo de melhoramento do corpo e da alma do homem grego. É precisamente esta energia, se lhe quisermos chamar filosófica, que envolve Chevalier e que ajuda a transportar o filme de uma batalha de géneros (uma mulher a satirizar os homens) para um exercício de maiêutica individual e, como alguns nele viram, nacional.

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Carlos Natálio

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