Por esta altura do ano, cinema e Vila do Conde são já sinónimos, não estivesse prestes a começar a 24ª edição do Curtas Vila do Conde, que decorre este ano entre 9 e 17 Julho. Além de uma mostra do melhor que se faz a nível nacional e internacional em curtas-metragens, não faltam os motivos do costume, como os filme-concertos, retrospectivas, diversas competições e debates em torno da sétima arte. O primeiro grande destaque da edição deste ano vai para a apresentação ao vivo no dia 13 de Julho (Quarta às 20h e às 22h30, esta última já esgotada e a primeira a caminho de estar) de “The Waiting Room”, o novo álbum dos ingleses Tindersticks, num filme-concerto acompanhado por um leque de curtas-metragens (de nomes como Claire Denis, Christoph Girardet, ou o próprio Stuart Staples, vocalista da banda) que ilustram visualmente as 11 canções do álbum. Outros filmes-concerto programados na secção Stereo do festival incluem espectáculos de Jay-Jay Johanson, The Greg Foat Group e The Legendary Tigerman.
A secção In Focus, normalmente dedicada a um realizador, é este ano dedicada ao colectivo americano Borderline Films, do qual fazem parte Antonio Campos (Simon Killer, 2012) [dia 10 às 23h30 na Sala Dois], Sean Durkin (Marta Marcy May Marlene, 2011) [dia 15 às 23h30 na Sala Dois] e Josh Mond, que estará em Vila do Conde para apresentar James White (2015) [dia 9 às 23h na Sala Um], e falar sobre o trabalho deste trio de autores irreverentes na linha da frente do cinema independente americano, com uma oportunidade para ver algumas das suas curtas-metragens [dia 13 às 17h na Sala Dois]. A sessão de abertura [Sábado dia 9 às 21h15 na Sala Um] apresenta em estreia Diamond Island (2016), primeira obra de ficção de Davy Chou, filme vencedor do prémio SACD na Semana da Crítica do Festival de Cannes em 2016, e que prolonga a sua curta anterior Cambodia 2099 (2014), vencedora do Grande Prémio do Curtas Vila do Conde em 2014.
A competição nacional é mais uma vez o centro das atenções, com a apresentação em estreia de várias curtas que permitem atestar a qualidade da produção nacional. Entre as obras programadas, destaque para os nomes de realizadores repetentes em Vila do Conde, como Leonor Noivo (Menção Honrosa em 2012) com Setembro (2016) [dia 11 às 21h15 na Sala Um, repete dia 12 às 20h na Sala Dois], Tiago Rosa-Rosso (Menção Especial do Júri em 2011) com Zootrópio (2016) [dia 12 às 21h15 na Sala Um, repete dia 13 às 20h na Sala Dois], Gabriel Abrantes (Menção Especial do Júri em 2011) com A Brief History of Princess X (Uma Breve História da Princesa X, 2016) [dia 15 às 21h15 na Sala Um, repete dia 16 às 20h na Sala Dois], Paulo D’Alva e António Pinto que apresentam Fim de Linha (2016) [dia 15 às 21h15 na Sala Um, repete dia 16 às 20h na Sala Dois], André Santos e Marco Leão que apresentam Pedro (2016) [dia 16 às 21h15 na Sala Um, repete dia 17 às 20h na Sala Dois], e Diogo Costa Amarante com Cidade Pequena (2016) [dia 16 às 21h15 na Sala Um, repete dia 17 às 15h na Sala Dois]; entre os estreantes, destaque para o filme de Anabela Moreira, a actriz que apresenta aqui O Dia do Meu Casamento (2016) [dia 16 às 21h15 na Sala Um, repete dia 17 às 20h na Sala Dois], e Pierre-Marie Goulet, com Feitos e Ditos de Nasreddin II (2016) [dia 16 às 21h15 na Sala Um, repete dia 17 às 15h na Sala Dois]. Antes do início da Competição Nacional, será exibido no Domingo dia 10 às 21h [Sala Um] um Panorama Nacional que abrange uma série de curtas portuguesas exibidas já noutros festivais, como é o caso de Balada de Um Batráquio (2016) de Leonor Teles, filme vencedor do Urso de Ouro em Berlim este ano, e Ascensão (2016) de Pedro Peralta, exibido na Semana da Crítica de Cannes. Caso tenha tempo não deixe de espreitar a secção Take One [Segunda dia 11 às 18h30 e Terça dia 12 às 18h30, na Sala Dois], com filmes de várias escolas de cinema e audiovisual: nos últimos anos saíram premiados nomes como João Salaviza ou Leonor Teles.
Duas novas iniciativas este ano prometem suscitar grande interesse e encantar cinéfilos: primeiro, uma carta branca concedida aos realizadores João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, que escolheram uma série de filmes a serem exibidos como complemento à sua exposição patente na Solar, Galeria de Arte Cinemática, a sua primeira em Portugal – será possível assistir a verdadeiros tesouros como Film (1966) de A. Schneider e Samuel Beckett ou Un Chant D’Amour (1950) de Jean Genet. Depois, a acompanhar o Workshop de Crítica de Cinema, serão exibidos vários filmes no âmbito dos ensaios audiovisuais, com uma sessão imprescindível dedicada a Mark Rappaport, um dos mais originais e importantes autores do género; será também possível assistir a A Movie (1958) de Bruce Conner. De referir que a habitual Competição Experimental, além de dois filmes de autores portugueses, como Paulo Abreu com o NYC 1991 (2016) e a dupla Karen Akerman e Miguel Seabra Lopes com Confidente (2016), inclui nomes de relevo como Lav Diaz, Jay Rosenblatt e Ana Luz.
Por fim, mas talvez o lado mais importante do Festival, que ao longo dos 24 anos de Festival tem funcionado ao mesmo tempo como cartão de visita e chamariz principal para os que se deslocam até ao Teatro Municipal de Vila do Conde: a competição internacional. Destacamos 10 filmes como forma de sugestões, mas podiam ser muitos mais (como Fiesta de Pijamas de David Pantaleón, Import de Ena Sendijarevic, ou Une Tête Disparaît de Franck Dion):
- A Moça que Dançou com o Diabo (2016) de João Paulo Miranda Maria: do Brasil, e de Cannes, onde recebeu uma Menção Especial do Júri, chega uma fantasmagórica e surpreendente adaptação de uma antiga lenda sobre uma rapariga que desobedece aos pais para ir a um baile, num confronto simbólico entre a religião e o modernismo [dia 11 às 22h30 na Sala Um, repete dia 12 às 23h30 na Sala Dois];
- Die Pferde des Rittmeisters (Os Cavalos dos Rittmeisters, 2016) de Clemens von Wedemeyer: documentário a partir de filmagens encontradas por von Wedemeyer no sotão do seu avô, sobre cavalos perdidos que eram usados pelo exército na Segunda Grande Guerra, revela um comovente olhar para o passado [dia 10 às 20h na Sala Dois, repete dia 12 às 22h30 na Sala Um];
- The Illinois Parables (As Parábolas de Illinois, 2016) de Deborah Stratman: um documentário estruturado em 11 capítulos que ocupam quase uma hora de filme, é uma experiência recompensadora pelo seu âmbito político. A história deste estado norte-americano a longo dos tempos acompanha a construção e evolução de um país, das diferentes facetas da sua população, sob a linha efémera da renovação e extinção;
- Limbo (2016) de Konstantina Kotzamani: da mesma realizadora grega de Washingtonia (2015), e com outro filme em Competição este ano, Yellow Fieber (2016), chega-nos um filme sobre um estado de indefinição, em suspensão hipnótica. Uma alegoria sob a forma de encantamento, evoca o sentimento de inocência ao acompanhar um grupo de crianças na descoberta de uma baleia que aparece numa praia [dia 10 às 18h30 na Sala Dois, repete dia 15 às 17h na Sala Um];
- Oh What a Wonderful Feeling (Oh Que Sentimento Maravilhoso, 2016) de François Jaros: neste sonho, ou melhor, pesadelo Lynchiano, uma estação de serviço no Canadá ganha amplitude como espaço para estranhas personagens deambularem a par de sons cativantes, num devaneio assombroso [dia 11 às 22h30 na Sala Um, repete dia 12 às 23h30 na Sala Dois];
- L’Enfance d’Un Chef (O Nascimento de Um Líder, 2016) de Antoine de Bary: um divertido olhar sobre a vida caótica de um jovem actor, é também um elogio à amizade em alturas de mudança e de afirmação de personalidade, que surge em paralelo com a construção de uma personagem fictícia [dia 12 às 21h45 na Sala Dois, repete dia 14 às 22h30 na Sala Um];
- Home (Lar, 2016) de Daniel Mulloy: no que parece ser um filme sobre refugiados a caminho de abrigo noutro país, acompanhamos afinal uma família inglesa de classe média a fazer o percurso inverso. Nesta surpreende inversão de papéis, as perigosas viagens dos refugiados que chegam à Europa tornam-se assim próximas de quem assiste de longe às notícias, nesta sátira devastadora [dia 12 às 21h45 na Sala Dois, repete dia 14 às 22h30 na Sala Um];
- Él Eden (O Éden, 2016) de Andrés Ramírez Pulido: neste primeiro filme (presente na secção Generation do Festival de Berlim), fábula sensorial sobre as aventuras de dois jovens irrequietos que decidem transpor a fronteira proibida de um hotel abandonado, há uma tensão crescente que não abandona o espectador, algures entre um realismo mágico sul-americano e o olhar voyeurista de Gus Van Sant em filmes como Elephant (2003) [dia 10 às 20h na Sala Dois, repete dia 12 às 22h30 na Sala Um];
- Planemo (2015) de Veljko Popovic: Planemo é nome dado a um planeta sem sistema solar, sem estrela. Um objecto solitário portanto, tal como o protagonista desta animação melancólica sobre alienação, conjugada com uma visão futurista da sociedade [dia 11 às 20h na Sala Dois, repete dia 13 às 17h na Sala Um];
- There is a Happy Land Further Away (Há Uma Terra Feliz Muito Longe, 2015) de Ben Rivers: Um filme-poema a partir de Vanuatu, em que a emoção contagiante da narradora que lê histórias sobre o seu país, entre vários recomeços, é acompanhada de belíssimas imagens que sublinham o perigo de desintegração no horizonte, e a felicidade que se evapora [dia 11 às 20h na Sala Dois, repete dia 13 às 17h na Sala Um];
Correndo o risco de nos repetirmos: não faltam motivos de interesse para uma visita a Vila do Conde durante a próxima semana, entre dia 9 e 17 de Julho. O programa completo do festival pode ser consultado neste link.