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Críticas, Em Sala 1

Sausage Party (2016) de Greg Tiernan e Conrad Vernon

De Luís Mendonça · Em 16 de Setembro, 2016

Deus, guerra, Holocausto, sionismo, terrorismo islâmico, multiculturalismo, homossexualidade, consumismo, alienação e cultura das drogas. Isto tudo ou “a minha salsichinha no teu papo-seco”. Sausage Party (Salsicha Party, 2016) é a mais recente invenção da trupe Seth Rogen, Jonah Hill, James Franco, Michael Cera, Danny McBride e companhia – a quem se junta a fabulosa Kristen Wiig. Mais uma comédia concebida para dar a volta a temas sérios ou soturnos – lembram-se de Interview (Uma Entrevista de Loucos, 2014), o filme que encavacou todo um regime, e “mandou abaixo” a Internet? E de This is the End (Isto é o Fim!, 2013), que tornava o advento do Apocalipse numa espécie de “empata-fodas” de proporções bíblicas? Pois, desta feita, esta malta com poucos escrúpulos, que parece cozinhar ideias em brainstormings severamente ganzados, faz uso de uma potente arma secreta, que ainda não lhe tinha passado pela cabeça activar: a animação. Antes de ser mais um filme do gang Rogen e amigos, Sausage Party é uma proposta de dinamitação do território mainstream da animação. Os papo-secos, as salsichas, os bagels e todo o tipo de produtos que fazem parte desse autêntico melting pot apartheidizado chamado super-mercado são uma delícia, mas também são mal-educados pra caralho.

Desde os primeiros minutos que os “fucks” e os “shits” saem, sem freios, das boquinhas de cada uma destas personagens. É escusado ameaçar pôr pimenta na língua, porque a pimenta aqui pode, ela própria, saber como se brande o vernáculo mais porcalhão. A sociedade de consumo baudrillardiana revolta-se contra si mesma na figura dos seus produtos adestrados por Deuses – quem são Eles? Nós, claro, os humanos que os cortam aos pedaços, fervem em água escaldante e os abocanham sem dó nem piedade. O Deus é o consumidor humano. As vítimas desta religião são as pobres criaturas que, devidamente etiquetadas e arrumadas em prateleiras, se concentram em grandes e assépticas superfícies comerciais. Diz-se que o lado de lá é o “great beyond”, um paraíso onde os Deuses humanos acarinham os seus artigos de mercearia, recompensando-os dos tempos duros de cativeiro. Mas os nossos protagonistas vão desconfiando destas histórias lendárias à medida que chegam relatos de sobreviventes vindos do “lado de lá”. Acreditar nesse paraíso é uma profissão de fé daqueles que se recusam enfrentar as evidências: os Deuses humanos são, na realidade, consumidores diabólicos sem qualquer tipo de ética.

É humor sem grande refinamento, mas com boas pinceladas de sentido crítico. Elas, as pinceladas, servem de mostarda ao muito hot cachorro-quente que aqui se serve.

Para se desfazer a fé não basta, contudo, comprovar, é preciso um ingrediente especial: know how político. Esta é, talvez, a mensagem mais interessante do filme: quando este chega perto do final, a questão da tolerância, até aí aflorada com um sentido de humor ligeiro, ganha uma outra profundidade. Para se desfazer um dogma, é preciso saber mostrar um caminho; no caso, indicar à multidão de iludidos – a maior parte com prazos de validade muito curto – as maneiras de se viver contra ou na ausência de Deus. Claro que um super-mercado sem a ordem humana, produtora desta nossa economia sem ética, abre a perspectiva para a eclosão de um regime libertário, sem regras, que não fornece garantias de espécie alguma. O final orgiástico delirante encena esta espécie de pensamento pós-apocalíptico difícil de conceber: o fim do capitalismo as we know it. Os produtos a vencerem e a conquistarem o seu idílio. Dito de outra maneira: a descobrirem a verdade e a imporem um regime completamente heteróclito, feito à sua medida.

Não digo que este seja o Animal Farm dos nossos dias – não tem invenção crítica para tal -, mas anda perto de conseguir afirmar-se como uma das mais brilhantes alegorias políticas que o cinema de animação americano mainstream nos deu desde Antz (Formiga Z, 1998). Entre esses dois filmes – este mais recente é o retrato de uma sociedade concentraccionária regida pela lei do consumo, ao passo que o outro é uma parábola cheia de ironia que faz troça do modelo de sociedade comunista – há uma persona em comum: Woody Allen. De facto em Antz – Woody Allen dá voz ao protagonista. Já em Sausage Party Edward Norton imita Woody Allen no corpo de um bagel, que tem uma relação de amor-ódio com uma espécie de pão árabe particularmente temperamental. Não há subtileza alguma aqui. Sausage Party ri-se desbragadamente de todas as formas de intolerância, desdogmatizando-as, tratando-as como parte daquela piadola que está ao nível de um garoto com nove anos: “a minha salsichinha no teu papo-seco”. É humor sem grande refinamento, mas com boas pinceladas de sentido crítico. Elas, as pinceladas, servem de mostarda ao muito hot cachorro-quente que aqui se serve. Abra a boca e trinque, antes que ele o trinque a si.

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Luís Mendonça

"The great creators, the thinkers, the artists, the scientists, the inventors, stood alone against the men of their time. Every new thought was opposed. Every new invention was denounced. But the men of unborrowed vision went ahead. They fought, they suffered, and they paid - but they won." Howard Roark (Gary Cooper) in The Fountainhead (1949)

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1 Comentário

  • Paulo Ayres diz: 25 de Setembro, 2016 em 1:07

    “Antz” (1998) é um dos piores filmes da Dreamworks. Um anticomunismo dos mais rasteiros, baseando-se na tradição filosófica irracionalista do individualismo existencialista (a sombra do neurótico de Woody Allen cai como uma luva aqui), onde se hipostasia uma caricatura blasé-niilista do mito liberal de indivíduo x sociedade. Uma “robinsonada” infantil patética. Reflexo da decadência ideológica burguesa para crianças de Shopping.

    “A Bug’s Life”, diferentemente, vai na raiz da degradação humana do período moderno: “as formigas trabalham, o fruto do trabalho pertence às formigas”. Na veia.

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