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Críticas, Em Sala 2

O Cinema, Manoel de Oliveira e Eu (2016) de João Botelho

De Ricardo Vieira Lisboa · Em 12 de Outubro, 2016

O Cinema, Manoel de Oliveira e Eu (2016) de João Botelho é um objecto estruturalmente singular que toma uma forma: algures entre o filme de homenagem a Oliveira e aos seus filmes, o conto pessoal de um realizador tocado pelo cinema do seu mestre e, por fim, uma incursão entre o mimético e o festichista de um projecto nunca realizado do cineasta portuense. A forma como o filme me surge tripartido parece querer forçar-me a dobrá-lo sobre si próprio e a encontrar os reflexos que se estabelecem entre as suas partes numa espécie de jogo interactivo onde sou impelido a múltiplas combinações intertextuais dentro do próprio cinema de Oliveira e depois com o de Botelho. Se é um exercício didático que se quer, então Let’s play.

O Cinema, Manoel de Oliveira e Eu (2016) de João Botelho

O Cinema, Manoel de Oliveira e Eu (2016) de João Botelho

Round One 

Três camas (talvez mais) pontuam o filme de Botelho, a começar, a sequência de Conversa Acabada (1981) que abre o filme — onde Oliveira-actor abençoa antes da morte um Pessoa à beira da morte (acompanhado de uma freira ajoelhada, Elsa Wallencamp, a actriz que dera corpo a Mariana) — rima depois com a cena de cama, também funerária, de Francisca (1979), que introduz a curta metragem Prostituição ou A Rapariga das Luvas (o tal projecto nunca realizado por Oliveira) que, não de propósito termina com uma reprodução quase perfeita dessa mesma cena (vejam-se as imagens, se restarem dúvidas). Botelho parece divertir-se nestes jogo de reflexos entre uns filmes e outros, entre a cópia e a homenagem, entre o mimético e o reinterpretativo.

Round Two

Mas mais que o simples jogo de recorrências (nunca tinha encontrado tanta água nos filmes de Oliveira como agora, pelo olhar de Botelho) há um toque de especial lirismo entre o primeiro plano de O Cinema, Manoel de Oliveira e Eu e o último. O filme começa com a voz de Botelho descrevendo uma fotografia da rodagem da sua obra de estreia em que surge Manoel com o braço sobre os ombros de um muito jovem realizador. Oliveira veste-se de padre e Botelho diz-nos que aquele filme ainda lhe parece abençoado. A mão do mestre sobre o ombro do discípulo. Já o último plano do filme corresponde ao último plano de A Rapariga das Luvas. Nele vemos as mãos da menina morta, deformadas pelas queimaduras que o pai lhe infligira como castigo. Outra mão se aproxima, é a do pai, arrependido. Pega na mão morta e beija-lhe a palma. O pai que beija a deformação por ele causada e que fora factor fundamental da desgraça da sua filha. Toques de mãos em sentidos inversos: Oliveira abençoando Botelho, o pai pedindo perdão por não ter abençoado a filha. Todo o filme se faz neste intervalo entre a bênção e a maldição, entre a descendência e degenerescência.

Também O Estranho Caso de Angélica (2010) constitui um dos argumentos não realizados publicados num catálogo da Cinemateca Portuguesa, onde se encontra este Prostituição, mas a juntar a esses houve O Gebo e a Sombra (2012), Singularidade de uma Rapariga Loira (2009), Velho do Restelo (2014) ou mesmo ‘Non’, ou a Vã Glória de Mandar (1990). Todos projectos terminados várias décadas após a sua primeira concepção. Talvez a expressão a assinalar se encontre numa das declarações de Manoel de Oliveira ao Primeiro de Janeiro, nos idos anos 1980, em que afirmava: “os filmes que não fiz estão de certo modo amadurecidos nos que fiz mais tarde”. Pondo essa ideia em perspectiva torna-se evidente que os filmes que por fim concretizaram os projectos não realizados se reflictam nos projectos do entremeio, mais ainda quando é habitual “Oliveira ‘responder’ com uma obra à anterior” como o disse Augusto M. Seabra a propósito do filme de todas as respostas, Porto da Minha Infância (2001). A obra de Oliveira é um enredado de recorrências formais e temáticas e Botelho joga com os fios da teias, puxando uns e repuxando outros a seu bel-prazer. O Cinema, Manoel de Oliveira e Eu é pois a malha dessa cinéfila devota, reconfortante ainda que russa de tanto uso.

Vale Abraão (1993) de Manoel de Oliveira à esquerda e O Cinema, Manoel de Oliveira e Eu (2016) de João Botelho, à direita.

Vale Abraão (1993) de Manoel de Oliveira à esquerda e O Cinema, Manoel de Oliveira e Eu (2016) de João Botelho, à direita.

Game Over 

Se me parece ser na compreensão do gesto da homenagem e da citação que Botelho encontra o seu filme e pensa o seu cinema (que sempre viveu paredes meias com a homenagem e a citação), talvez o momento em que o perde seja no tom da sua narração: entre o missal de domingo e a pregação porta-a-porta dos jeovás. Convertei-vos ao oliveirianismo e assim descobrirás as maravilhas do verdadeiro cinema, sentirás a revelação do plano fixo, observarás a magnificência da abolição do contracampo em Francisca e demais milagres cinematográficos. Nesse sentido Botelho segue as várias tentativas que se vêm tentado fazer de confirmar a obra de Oliveira como precursora (ou pelo menos, contemporânea) dos vários momentos marcantes da história do cinema, assim as vanguardas de Ruttman, Vertov e Cavalcanti desembocaram no Douro, Faina Fluvial (1931) o neo-realismo despontou em Aniki Bóbó (1942), a ironia buñueliana originou de A Caça (1963) ou de O Passado e o Presente (1971), Pasolini é antecipado por Acto da Primavera (1963) e as não-adaptações literárias de Straub e Hulliet têm o seu par em Amor de Perdição (1979). Esta vontade de rescrita da história do cinema português afim de uma mitologia lusa das vanguardas cinematográficas mundiais é já tão batida que passa por verdadeira, e Botelho confirma-a com gosto.

Bonus Level

A juntar a isto, creio que há um aspecto curioso e que não se deverá descurar. Ao contrário de, por exemplo, João Bénard da Costa: Outros Amarão As Coisas Que Eu Amei (2014) de Manuel Mozos, onde se louvava a experiência da sala de cinema e da película como suporte dos filmes adorados por Bénard. Em O Cinema, Manoel de Oliveira e Eu o acesso à obra de Oliveira faz-se através do digital e as soluções de montagem do filme aproximam-se, por vezes, de uma estética do vídeo-ensaio online. Nesse sentido, o filme de Botelho revela, de modo indirecto, as próprias formas da cinéfila dos torrents em que o cinema é um ficheiro infinitamente retalhável. Daí que A Rapariga das Luvas surja como filme mudo em cristalino 4k num exercício anacrónico à la Guy Maddin. Isto, de certo modo questiona como serão vistos os filmes de Oliveira no futuro: num écran de smartphone, talvez. Ainda bem! Que sejam vistos. Essa é a função deste tipo de objectos, construir interesse pelo cinema, fazendo-o.

Francisca (1979) de Manoel de Oliveira

Francisca (1979) de Manoel de Oliveira

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Ricardo Vieira Lisboa

O cinema é um milagre e como diz João César Monteiro às longas pernas de Alexandra Lencastre em Conserva Acabada (1999), "Levanta-te e caminha!"

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2 Comentários

  • Jorge Romariz diz: 12 de Outubro, 2016 em 15:30

    A ultima Imagem pertence ao filme “Francisca” de 1981 e não ao “Amor de Perdição”. 🙂

    Inicie a sessão para responder
    • Ricardo Vieira Lisboa diz: 12 de Outubro, 2016 em 16:35

      Corrigido. Obrigado pelo Reparo.

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