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Riot grrrls

De Tiago Ribeiro · Em 3 de Outubro, 2016

Quando falamos ou escrevemos sobre a “visão do mundo” de determinado cineasta, pensamos nas formas e conteúdos em que ele ou ela enquadram as problemáticas pessoais, sociais, estéticas, económicas, culturais, arquitectónicas, políticas e por aí adiante que estão inseridas no planeta Terra. No caso de Russel Albion Meyer, a “visão do mundo”, no seu espectro mais simplista, pode ser reduzido a estes propósitos: contrapicados de mulheres com mamas gigantes. Uma “visão do mundo” tão válida como outra, e visualmente talvez um pouquinho mais satisfatória no imediato.

Faster, Pussycat! Kill! Kill! (1965) de Russ Meyer

Mas, atenção, escrevemos “no seu espectro mais simplista”, pois não se pense que tais contrapicados sugestivos são sinónimo de mera objectificação sexual do corpo da mulher; quer dizer, também o é, mas apenas na cabeça das bruxas ultra-feministas que viam nos trabalhos de Meyer uma mera exploração das, digamos, habilitações corporais da mulher, escapando-lhes, por mais incrível que pareça, que Russel é um dos mais feministas cineastas da história do cinema americano, simpatizando com a sua (da mulher) libertação física e psicológica dos grilhões impostos pelos códigos patriarcais da sociedade. Se tivessem de usar o corpo para isso, melhor ainda. Estamos certos de que se fosse vivo, Mizoguchi teria gostado, um poucochinho que fosse, de alguma coisa na obra de Meyer.

Atentai, a modos de exemplo, nos primeiros minutos do seu Faster, Pussycat! Kill!, Kill! (1965). Depois de um prólogo onde um narrador (John Furlong), numa voz trovejante, discursa sobre as componentes da Violência e sobre os perigos das mulheres assassinas que andam por aí à socapa à espera de assaltarem física e moralmente pobres e estúpidos homens indefesos, a acção passa para um cabaret onde três dançarinas ( deusas Tura Satana, Haji e Lori Williams) exibem, sob o som do magnífico tema-título dos The Bostweeds, os seus variados méritos dançarinos e libidinosos, para gáudio dos machos ululantes que povoam a sala. Vista menos diligente retirará desses segundos uma catrefada de injúrias para Meyer e seus métodos de “ver o mundo”, mas uma apreciação de seres superiores (como nós e você) descortinará uma Laura Mulvey atrás das câmaras. Elas sempre enquadradas como seres inatingíveis, eles sempre configurados de cima, elas a divertirem-se, a leste dos urros e dos “go-gos” deles, numa montagem onde a gramática vai dos picados e contrapicados aos planos oblíquos, e a um dinamismo velocista que estava a leste do clássico cinema de estúdio da época (em estado de decomposição).

Mulheres que nem chegavam a 1.70m são filmadas de tal forma que parecem atingir os três metros de altura. Tapadas por generosos decotes, autênticas torres que parecem quebrar a quarta parede (para isto é que serve o cinema 3D, ou lá o que é).

E será esta textura de sons e imagens ao longo do filme. Mulheres que nem chegavam a 1.70m são filmadas de tal forma que parecem atingir os três metros de altura. Tapadas por generosos decotes, autênticas torres que parecem quebrar a quarta parede (para isto é que serve o cinema 3D, ou lá o que é). E os homens, que dizer? Um é literalmente retardado mental, outro é um velho paralítico que odeia mulheres, outro é educado mais brando, outro, um funcionário de uma estação de serviço, é outro imbecil devorador de decotes (escriba a ver-se ao espelho), e ainda outro, talvez o mais forte deles todos, terá um fim condizente com a sua ousadia. Mas livrai-nos de palavreado e mostremos um fotograma que explica tudo este female power às mil maravilhas:

Faster, Pussycat! Kill! Kill! (1965) de Russ Meyer

E o gozão que Meyer é? Juntando ao tal prólogo inicial que nos avisa sobre a natureza melíflua da mulher independente, o final de Faster, Pussycat! Kill Kill encarregar-se-á de nos providenciar um “final feliz”, restabelecendo a “ordem moral” do mundo, homem e mulher juntos e prontos para constituir família. Mas é tudo tão cartoonesco, tão inverosímil e tão folião, que a impressão mais primária que nos dá é que o americano está é a enviar um grande manguito às convenções que regem este mundo. Deve ser o “final feliz” mais ilusório e pantomineiro da “história do cinema” desde o de Der letzte Mann (O Ultimo dos Homens, 1924).

Faster, Pussycat! Kill! Kill! é, talvez, o melhor filme de uma obra obrigatoriamente desigual, onde a variedade vai desde o muito bom ao indigente; ossos do ofício de quem mergulhou a fundo nas águas do low budget, qual Roger Corman (seu contemporâneo, no less) dos “nudities”. Mas, mesmo nessa “indigência”, sempre um cuidado, por mínimo que fosse, em questões menores como “mise-en-scène” e criatividade para arranjar soluções para certos problemas, quando, por exemplo no brilhantemente inane Cherry, Harry & Raquel (1970), depois de imenso filme ter sido perdido no laboratório, ele atreveu-se a filmar uma mulher nua no deserto e a a colocar tais planos como inserts  psicadélicos no filme, para dar ares de coerência narrativa e de prolongamento de película. Houve quem, deleitado, clamasse por “genialidade surrealista”. Meyer riu-se e foi para o cabaret mais próximo, para mais uma sessão de casting. Morreu em 2004, riquíssimo e com vida farta. Tarantino manda um abraço.

 

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Tiago Ribeiro

Em Dezembro de 1963, Jean-Luc Godard, sentado numa esplanada em Saint-Germain-des-Prés, proferiu o seguinte: "estou sentado numa cadeira numa esplanada e o cinema faz este mês sessenta e oito anos". Um "jeu de mot" polémico (como sempre, no mestre) mas que em retrospectiva nos parece de uma clarividência singular.

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