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Bacalaureat (2016) de Cristian Mungiu

De Luís Mendonça · Em 24 de Novembro, 2016

O cinema de Cristian Mungiu, já deu para perceber, baseia-se numa cuidadosa construção narrativa. Narrativa entendida aqui como teia moral, no seio da qual as suas personagens se vão envolvendo, até já não lhes vermos o pescoço. A câmara filma à distância, naquilo que se tornou o regime estético predominante nesta fulgurante geração do cinema romeno, na qual Mungiu é a figura de proa, mas em que não está só (têm tido lugar marcado nas nossas “dietas cinéfilas” nomes como os de Cristi Puiu, Corneliu Porumboiu, Radu Jude ou Radu Muntean). Falei em “distância”, mas que isso não se confunda necessariamente com “frieza”. A câmara filma ao longe, mas está completamente envolvida ou intimamente implicada na vida das suas personagens. A rede que se monta parte, por norma, de um “acontecimento da vida” que funciona como rastilho. Por exemplo, no notável 4 luni, 3 sãptãmâni si 2 zile (4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, 2007), a simultaneamente mais surpreendente e justa Palma de Ouro na história recente de Cannes, era um aborto. Em Bacalaureat (O Exame, 2016) – o título é muito claro e nada esconde – é um exame de escola.

A filha de um médico tem a oportunidade de sair de uma Roménia desesperançada e ingressar numa universidade de prestígio no Reino Unido. O pai está pronto a pôr o amor incondicional pela filha ao serviço dessa oportunidade. Quando digo que não há nada de condicional no amor deste pai por esta filha quero dizer que nada o irá demover desse projecto de vida, projecto que é retratado no filme, pelo seu ritmo intenso, como um desesperado e desesperante plano de fuga. A filha tem de passar no exame para ter um futuro fora da triste Roménia? Passará, então, a qualquer custo, se assim tiver de ser.

Da entrevista curta, mas muito elucidativa, realizada pela walshiana Inês Lourenço para o Diário de Notícias recorto estas palavras ditas pelo cineasta romeno: “As pessoas estão desiludidas, apesar dos progressos que fizemos – historicamente foram grandes, mas não se vive a uma escala histórica, antes humana. Nessa escala há muitas coisas que ainda não estão bem. É por isso que O Exame fala, ao mesmo tempo, de corrupção social, mas também de escolhas pessoais e compromisso”. É aqui que está a grande lição, diria neo-realista, deste filme: a partir de um microcosmos, a câmara de Mungiu traça o diagnóstico de todo um país (não só o económico e social, mas também o psicológico, estando este ligado a uma depressão generalizada que, no fim de contas, está enraizada no decadente modelo europeu de sociedade).

Não há nada de antinómico aqui na relação entre câmara e protagonista, uma vez que ambos são impulsionados pelo mesmo: um estado fixo, um chão para o futuro, a dignidade da sua educação.

Se o filme de Mungiu tem no centro um médico cirurgião e nos fala da dependência de todo um futuro num exame escolar (que significa a fuga de uma Roménia “desapontada”, para citar de novo o realizador nessa entrevista), então formalmente a obra é como as personagens e os seus gestos. A determinação do pai é brusca, precisa, de facto, quase cirúrgica. Mas não há nada de frio aqui. Pelo contrário: O Exame é um dos filmes mais calorosos sobre o amor que um pai sente pela sua filha. É por esse amor que o pai decide jogar o jogo dos cínicos e dos moralmente corruptos. Não o censuramos. Estamos literalmente com ele. E essa literalidade é mais forte – e humanamente aquecida – que qualquer metáfora ou parábola sociológica que, com o mesmo material dramático, Mungiu pudesse ter desenhado.

A câmara é, assim, com(o) ele. Mungiu monta uma rede de dilemas morais, de poderosíssimas implicações (a tal “corrupção social” que é uma praga na Roménia, mas o que dizer de Portugal?), a partir de um découpage de rigor clínico, mas sem nunca se desapossar da carga dramática e humana da história que conta… Não, o verbo certo aqui é outro, portanto, reescrevo: “… da história que acompanha“. Na senda de uns irmãos Dardenne, Mungiu filma as suas personagens em planos largos, colando-se às suas costas ou filmando-as de perfil – vemos poucas vezes o rosto inteiro do protagonista que aqui se oferece, inteiro, ao filme (pujante interpretação de Adrian Titieni).

Como é que um filme que se vai urdindo detalhe a detalhe tem tão poucos planos de pormenor? A câmara não se limita a mostrar: se não vemos propriamente o vulto que terá sido apanhado por uma imagem tirada de uma câmara de vigilância, se não sabemos ao certo de onde vêm as pedras arremessadas aos vidros da casa do protagonista, se não sabemos tanta coisa é porque a câmara, ao contrário desta história repleta de guinadas morais, não oscila. Ela é eticamente inamovível na sua distância sobre a acção. Em contraste, o caminho que ela traça, colada ao protagonista, é um de permanente agitação – isto é, ela corre, direita, em solidariedade com a agitação que documenta, sendo atraída, como o pai, pelos precipícios da acção. Não há, portanto, nada de antinómico aqui na relação entre câmara e protagonista, uma vez que ambos são impulsionados pelo mesmo: um estado fixo, um chão para o futuro, a dignidade da sua educação. Ou, concretamente, para usar a palavra mais definidora aqui, uma qualquer forma de preservar a rectidão numa sociedade com a espinha quebrada.

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Luís Mendonça

"The great creators, the thinkers, the artists, the scientists, the inventors, stood alone against the men of their time. Every new thought was opposed. Every new invention was denounced. But the men of unborrowed vision went ahead. They fought, they suffered, and they paid - but they won." Howard Roark (Gary Cooper) in The Fountainhead (1949)

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