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Ama-San (2016) de Cláudia Varejão

De Raquel Morais · Em 2 de Fevereiro, 2017

Lá em baixo impõe-se o silêncio.
No entanto, há muito para ver.
Há todo um mundo maravilhoso por entre as rochas.

Ama-San (2016), de Cláudia Varejão, é uma espécie de célula-filha originada por uma célula-mãe. Essa matriz, que se divide em corpos mais pequenos, é uma comunidade de mulheres japonesas que, mergulhando em apneia, recolhem búzios, ouriços do mar, abalones.

Ama-San (2016) de Cláudia Varejão

A realizadora portuguesa foi ao seu encontro e o objecto que trouxe no regresso replica o ritmo do quotidiano daquelas pescadoras e, sobretudo, a lentidão dos movimentos dos seus corpos debaixo de água. Mas mais até do que a fotografia (a suavidade das cores equipara-se à tranquilidade daquelas vidas), é a sonoplastia (os ruídos dominantes são ténues chilreios de pássaros, o crepitar do fogo, o som de uma televisão ao fundo) que melhor materializa o mergulho de Varejão.

A actividade das Ama-San (e elas mesmas) são entidades silenciosas, sossegadas, e o seu ofício depende da penetração num meio de que não fazem parte. Para que essa seja uma entrada branda e sem resistência é necessário um longo ritual de preparação: avançar mar adentro num barco cujo capitão tenta há anos perscrutar os segredos daquelas mulheres; ajustar ao corpo (para o proteger, mas também para que facilmente se funda com a água) um fato de borracha que se torna a única camada de separação entre a pele e o mar; envolver a cabeça com o que parece ser o véu de uma freira (depois de igual modo recoberto por um capuz negro, extensão daquele fato); finalmente, colocar sobre os olhos uma máscara de mergulhador, que os escuda da água, mas que serve também como uma espécie de óculo fantástico.

Aquela é uma viagem dura e perigosa (como as Ama-San lembram nas suas conversas): o sol parece inofensivo, mas queima, e o mar, que surge nas imagens como uma massa curvilínea que promete a amenidade, é na realidade um elemento agreste. Esse perigo demora a saída: quando regressam, como quem volta do submundo, restituem à pele a humidade que o sal lhe retirou e aquecem-se, no interior de um espaço comum, junto de fogueiras que devolvem o calor aos corpos (que talvez lhes devolva mesmo a alma).

Varejão aprendeu através da observação daquelas incursões aquáticas a necessidade do vagar, da delicadeza e da minúcia.  

Varejão aprendeu através da observação daquelas incursões aquáticas a necessidade do vagar, da delicadeza e da minúcia. E ainda que seja consideravelmente pequena a porção do filme que acompanha as idas ao mar (menor ainda a que mostra os mergulhos propriamente ditos) a proporção achada é justa, porque dá conta da simbiose entre trabalho e vida que caracteriza a existência das Ama-San. Conhecê-las passa também por vê-las aquecer um solitário jantar, dar banho aos netos, passear com os filhos, vê-las em terra, escondendo com roupas de pano a sua natureza de seres marinhos.

Como a realizadora explica, aquele nome significa precisamente mulheres do mar – porque o frequentam, porque trazem dele o alimento, porque, de algum modo, lhe pertencem (e ele lhes pertence a elas, ou não fosse aquele véu também o de uma noiva). O olhar educado das pescadoras nota o que à maior parte passaria despercebido, tal como às crianças que encontramos numa das cenas finais passaria despercebido o movimento de uma cobra, que a olhos não treinados surge como um pirilampo.

As Ama-San descobrem debaixo de rochas ou entre a imensidão das algas moluscos valiosos, e a sua atenção é, por via de um trabalho que executam em conjunto, mas de modo circunspecto, emudecidas pela água, transformada em moeda de troca. Ao sair do mar, os animais que recolhem (porque mesmo empunhando facas os seus gestos não são de captura) são reduzidos a uma massa avaliada pelo seu peso, quando nas mãos delas eram ainda objectos singulares.

Aquelas mulheres (que nos seus fatos de mergulho quase parecem um molusco também), integrando a natureza, conhecem e põem em contacto cada uma das suas partes – os deuses, o vento, o mar, o vinho, as árvores, os bichos. Aproximando-se delas, a câmara de Varejão pede acesso a esse mundo. Vai quieta, lenta, disfarçada, mimetizando, como outros animais, o seu meio.

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2010'sCláudia Varejão

Raquel Morais

“Teus dois cinemas, um ao pé do outro, por que não se afastam/ para não criar, todas as noites, o problema da opção/ e evitar a humilde perplexidade dos moradores?/ Ambos com a melhor artista e a bilheteira mais bela,/ que tortura lançam no Méier!”

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