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À pala de Walsh
Arrival (O Primeiro Encontro, 2016) , de Denis Villenueve
Contra-campo, Sopa de Planos 0

Sopa de planos especial Óscares 2017

De À pala de Walsh · Em 24 de Fevereiro, 2017

Nesta edição especial da Sopa de Planos, pedimos aos nossos walshianos para recortarem um plano de cada um dos filmes nomeados para o Óscar de Melhor Filme. Bom apetite!

Arrival (O Primeiro Encontro, 2016) , de Denis Villenueve

Arrival (O Primeiro Encontro, 2016) de Denis Villeneuve

Não tendo visto todos os filmes que compõe esta sopa e que são os nove filmes nomeados ao Oscar de melhor filme, não tenho grandes dúvidas que Arrival deva ser o melhor deles. Não vou sustentar esta afirmação em comparação com os demais filmes, vou apenas salientar aquele que me parece ser o aspecto fundamental do filme e que o torna um objecto de extrema relevância. Esse aspecto está concentrado no plano acima (e em muitos outros ao longo do filme, não fosse esse o seu tema central), a linguagem e as suas ramificações na compreensão do real (ou mais importante, o real formado e formatado pela linguagem). O filme, sob a capa da ficção científica (como manda a tradição), versa sobre os medos da contemporaneidade, em particular esta vaga que hoje em dia procura alterar a escrita e a linguagem no sentido de a tornar mais inclusiva. A exclusão de certas palavras, o recurso a certas expressões mais abrangentes, a modificação das terminações características do género (e a sua substituição por “@”, “e”, “x” ou “_”), entre outros. Estas propostas de metamorfose das línguas têm como objectivo final aquilo que no filme de Denis Villeneuve a língua alienígena tem na personagem de Amy Adams, a compreensão diferente do real. Alterando a língua procura-se alterar o modo de pensar e portanto destruir, por dentro, os pensamentos discriminatórios e adjuntos. Para uns este movimento é um de correcção, na medida em que a língua foi sendo construída para expressar certas ideologias nefastas e portanto é necessário desconstruir a língua para abolir essas ideologias. No entanto o nódulo formal desta medida prende-se no facto de este processo ser também uma forma consciente de domínio do pensamento. Talvez, como no filme, isto permita compreender mais profundamente o mundo que nos rodeia, mas talvez não. Villeneuve tem a sua posição tomada, eu tenho dúvidas. Ah, e sim, isto está tudo lá, num filme mainstream com efeitos especiais, CGI, estrelas de Hollywood e trinta por uma linha.

Ricardo Vieira Lisboa

Fences (Vedações, 2016) de Denzel Washington

Fences (Vedações, 2016) de Denzel Washington

No momento-chave do desfecho do segundo acto do Fences, a personagem de Troy Maxzon, caída em desgraça – “Can’t taste nothing…”, diz – , brande um taco de baseball e olha para a câmara. “Come on, anytime you want. This is between you and me, now.” Denzel Washington já nos havia mostrado, momentos antes, a súbita luz vinda da janela do andar de cima de sua casa e através da peça homónima de August Wilson já tínhamos a informação que, no passado, Troy pensava ter vencido a morte numa luta corpo a corpo, evitando morrer precocemente de pneumonia. Mas agora, após a expulsão do filho de casa e os problemas conjugais, esse novo desafio já não é com a bola segura pendurada na árvore do seu quintal mas sim um novo jogo com a morte, do qual apenas um poderá sair vencedor. Naturalmente que Denzel, enquanto realizador e protagonista do filme, afirma o momento como a disputa final do personagem também com o espectador. Não deixa assim de ser interessante esta ideia da lente da câmara como uma oponente da ficção e um aliado do voyeurismo, uma mesma cortina a marcar dois pontos de partida, mais uma “fence” a adicionar à metáfora dupla das vedações que ora abrigam o cá dentro, ora excluem o lá fora. (Juntamente com Lion (Lion – A Longa Estrada Para Casa, 2016) de Garth Davis este é o segundo filme desta corrida aos Óscares a falar de integração e exclusão, isto é, a dar um double bill perfeito para mostrar numa sessão de “esclarecimento” a Donald Trump.) Seja como for, ainda sobre a questão da vedação como limite, esse é o principal pecado de Denzel Washington neste filme: colocar-se sempre no centro de tudo – actuação, realização – não conseguindo enxergar as linhas de demarcação que tornariam um e outro trabalho mais secos e sérios.

Carlos Natálio

Hacksaw Ridge (O Herói de Hacksaw Ridge, 2016) de Mel Gibson

Hacksaw Ridge (O Herói de Hacksaw Ridge, 2016) de Mel Gibson

O jesuíta português de Scorsese foi à Segunda Guerra Mundial. Mas, lamentavelmente, Silence (Silêncio, 2016) não foi nomeado para o Óscar de Melhor Filme. A personagem sacrificial, santa, de Andrew Garfield parece atravessar filmes com o mesmo registo de inocência e candura. Uma fragilidade que no filme de Gibson choca com a experiência ultra-violenta da guerra, mas também com um diálogo invisível – e inaudível – com Deus. Em Scorsese temos só corpo e espírito, um longo ritual de provação da fé de mãos dadas com uma luta pela sobrevivência. Os campos de batalha não mudam muito, nem mesmo a paisagem. Estamos no Japão e o nosso herói combate pela e com a fé, apenas. Sem arma – objecto-fetiche de qualquer realizador ultra-violento tal como é Mel Gibson e o plano que trago aqui não me desmente – a paz faz-se corpo na personagem de Garfield. Em Hacksaw Ridge ele interpreta um dos grandes heróis da Batalha de Okinawa. Salvou várias dezenas de camaradas e sem levar consigo um único fuzil, uma única bala. Sabemos como o realizador de The Passion of the Christ (A Paixão de Cristo, 2004) gosta deste heroísmo saído da carne e da alma, abençoado pelos céus. É um tipo de cristianismo diferente do de Scorsese, que é mais silencioso, mais apaixonado pela tortura psicológica e menos embevecido pela “arte sacra” da violência – ou pela violência da “arte sacra”. Teria sido interessante ver Garfield e Garfield, isto é, Gibson e Scorsese na disputa pela estatueta.

Luís Mendonça

La La Land (La La Land: Melodia de Amor, 2016) de Damien Chazelle

La La Land (La La Land: Melodia de Amor, 2016) de Damien Chazelle

La La Land abre com o logo do Cinemascope cortado pelo enquadramento televisivo do 4:3 e a preto e branco, recordando-nos da era em que os clássicos de ecrã largo passavam na televisão em formatos amputados recorrendo à famosa técnica do pan e scan. Logo depois o ecrã alarga-se para dar a ver o logotipo na sua total extensão e coloração. Esta abertura do filme de Damien Chazelle poderia dar a ideia de que haveria uma intenção de emendar a mão do que que foi (e vem sendo) uma certa cinefilia que recorrentemente encara os filmes numa perspectiva filológica (e que portanto descura formatos, suportes, e outras componentes propriamente técnicas do meio, que fazem parte das suas limitações ontológicas, quer se goste quer não — agora mais ou menos implodidas pelo reinado do digital que tudo re-escreve e tudo faz esquecer). Ou seja, poderia pensar-se que aqui estaria uma empresa de rememoração consciente do passado. Na verdade não é isso que acontece, muito pelo contrário, a torrente de “homenagens” que o filme apresenta surgem como uma sucessão de piscadelas de olho mais ou menos vesgas para o que é (e o que foi) a história do cinema clássico americano. Piscadelas à memória colectiva que temos dessa história cada vez mais vaga e indiscriminada. Por isso o plano que escolho para esta sopa é exactamente o que se segue a esse logo do Cinemascope: um tavelling para a direita que percorre uma fila de carros parados no trânsito infernal de L.A.. Esse plano tem o condão de percorrer os carros na direcção oposta à do sentido em que caminham, criando um efeito óptico que faz parecer que sejam estes que de facto se movimentam (e não a câmara). Simbolicamente é este o plano-chave do filme, fazer com tudo se pareça mexer sem que na verdade as coisas saiam do sítio (ou, posto de outro modo, dar a ideia de que se recupera um género em desgraça, o musical, quando na verdade se espeta o último dos ferrolhos no seu caixão). Mas estou em crer que Chazelle está consciente deste processo e creio mesmo que La La Land fala exactamente desse olhar contemporâneo que recorda o cinema clássico através dos clips canónicos do YouTube ou dos lugares comuns que se instalaram através da memória televisiva desses mesmos clássicos. Aliás, a sequência final que pretende re-escrever todo o filme aborda exactamente isso, os eventos do passado filtrados por uma fantasia do que esse passado foi, fantasia adocicada, melosa, dourada, publicitária. É isso que acontece à história do cinema clássico e é exactamente sobre isso que La La Land versa, sobre essa forma de esquecimento hiper-romantizada.

Ricardo Viera Lisboa

Manchester by the Sea (Manchester à Beira-Mar, 2016) de Kenneth Lonergan

Manchester by the Sea (Manchester à Beira-Mar, 2016) de Kenneth Lonergan

É-me relativamente fácil recortar um plano de Manchester by the Sea. Até porque na minha crítica ao filme não parei de andar à volta dele. Se tenho por vezes a sensação de que todo um filme é pretexto para um único plano, aqui, neste mais recente título de Kenneth Lonergan, tenho a convicção de que o epicentro do drama está aqui, na sequência em que o casal atormentado – e desfeito – pela morte dos filhos se reencontra. Não concordo nada com quem escreve que Manchester by the Sea é o resultado de um prodigioso trabalho de argumento. O filme é muito escrito, sem dúvida. Mas a sua força está num trabalho, por vezes absolutamente franco, do realizador com os seus actores. E é aí, nessa sequência, onde as palavras não chegam, quando não conseguem dizer nada, que o filme se eleva e se torna tocante. Casey Affleck e Michelle Williams sabem da exigência deste momento e nós assistimos à maneira como eles se embaraçam na sua própria convulsão interior com o sentimento de estamos a testemunhar algo de incomunicável – uma dor que os atravessa e que deixa um golpe indelével na nossa experiência do filme. Até aí Manchester by the Sea era demasiado literal – porque literário – na sua vontade de nos invadir de drama. A partir daí lidamos com pessoas ante um mar que não sossega. Menti: na verdade não foi fácil escolher este plano, porque há outro tão ou mais poderoso. É o da escuridão do genérico final que se abate sobre a imagem de uma cena de amena confraternização entre a personagem de Casey Affleck e o seu sobrinho. É aí que percebemos que há feridas que não se saram. Que o mar pode sossegar um pouco, mas que não acalma totalmente.

Luís Mendonça

Moonlight (Moonlight, 2016), de Barry Jenkins

Moonlight (Moonlight, 2016) de Barry Jenkins

Escolho este plano de Moonlight por um motivo um pouco incorrecto, faz-me lembrar um outro, o da famosa cena de banheira em Gummo (1997), onde um miúdo comia um prato de massa à bolonhesa e uma tira de bacon se encontrava agarrada aos azulejos da casa de banho com fita-cola. Faço isto porque me parece que no filme de Barry Jenkins falta um pouco da crueza que conhecemos do cinema de Harmony Korine. Moonlight é um filme sobre o bullying e sobre a discriminação (e sobre o medo que essas duas coisas provocam) e de como um indivíduo se molda através (e por causa) de um ambiente que o rejeita e o amputa. Construído em três capítulos que acompanham três momentos da vida do personagem principal, infância, adolescência e jovem adulto, vemos a forma como este homem vai fabricando para si uma carapaça que o protege do mundo e simultaneamente o esconde dele. Este trabalho fragmentado concentra portanto nas elipses que separam cada capítulo a (de)formação da personalidade. Tudo certo. Aliás, talvez certinho de mais. Moonlight é um filme correcto e delicado que dá espaço aos seus actores e cria personagens nos quais conseguimos acreditar, mas fá-lo com uma doçura wong-kar-waiana que de certo modo contraria a crueldade do mundo que pretende retratar (especialmente no último capítulo). Falta-lhe um olhar que encare a pobreza sem ser ao ralenti. Falta-lhe a imundice kitsch de Korine. Ficam-me, no entanto, dois planos (um deles o primeiro) em que a câmara de Jenkins (na exibição das potencialidades da steadycam) persegue em movimento centrípeto os seus personagens e se afunda neles.

Ricardo Vieira Lisboa

Lion (Lion - A Longa Estrada Para Casa, 2016) de Garth Davis

Lion (Lion – A Longa Estrada Para Casa, 2016) de Garth Davis

Uma das piadas recorrentes de Ricardo Araújo Pereira é sobre a peça Romeu e Julieta de Shakespeare. Diz ele que a tragédia que ocorre pelo desencontro dos amantes jamais teria lugar se existissem telemóveis. A mesma coisa apetece dizer do destino do pequeno Saroo que vinte e tal anos depois de se perder em criança numa pequena província da Índia, acaba por achar a sua casa através do Google Earth, já vivendo na Austrália junto com a sua família adoptiva. Se a primeira parte de Lion (Lion – A Longa Estrada Para Casa, 2016), quase sem diálogos, é sobre perder-se, a segunda, no mundo da tecnologia e da industrialização, é sobre encontrar-se. Este plano corresponde precisamente a este segundo segmento, bem menos interessante, onde o publicitário Garth Davis monta de forma enjoativa e recorrente planos do presente de Saroo (já encarnado pelo desinspirado Dev Patel) a flashes do passado na Índia onde andou perdido e afastado da família. Talvez os planos que o realizador use directamente do google maps (inaugurando um período onde parece ser impossível perder-se no espaço) sejam os menos eloquentes e ao mesmo tempo os mais certeiros. A simulação digital do espaço faz a personagem reviver o espaço real ao ponto de o percorrer com o indicador (e depois com os pés e a mente). Dito isto merecia a pena ainda dizer que a adaptação deste caso verídico, vertido em tearjerker panfletário sobre o número elevadíssimo de crianças que se perdem anualmente na Índia, está tudo menos perdido. Assim como Patel sente o aroma proustiano do passado nos jalebis que come agora (e que queria poder ter comido com o desaparecido irmão, em criança) também nós encontramos em Patel, ou nos planos de miséria de uma Calcutá perigosa, as coordenadas, o “célebre aroma” de Slumdog Millionaire (Quem Quer Ser Bilionário?, 2008).

Carlos Natálio

Hidden Figures (Elementos Secretos, 2016) de Theodore Melfi

Hidden Figures (Elementos Secretos, 2016) de Theodore Melfi

Três mulheres afro-americanas fazem a festa em Elementos Secretos. São verdadeiros crânios, que estiveram por detrás das primeiras expedições da NASA, fazendo os cálculos fundamentais para as missões no Espaço serem bem-sucedidas. Historiazinha verídica. Tirando o justo princípio laudatório, e as três atrizes negras empenhadas na energia do filme, tudo o resto se conjuga para sublinhar exaustivamente, e de modo simplório, os traços da segregação. Elementos Secretos acaba por ser uma lista de situações discriminatórias (como se não soubéssemos que “aquilo” aconteceu), que em vez de fortalecer a causa, torna-a vulgar. Um filme cuja simpatia pelas personagens não salva a fraca imaginação e subtileza para trabalhar o contexto.

Inês N. Lourenço

Hell or High Water (Custe o que Custar, 2016) de David Mackenzie

Hell or High Water (Custe o que Custar, 2016) de David Mackenzie

A decadência do western enquanto género não tem necessariamente a ver com uma quebra nos padrões culturais que o autorizavam a retratar a América profunda do wild wild west. Contudo, no filme de Mackenzie é a circularidade do dinheiro que torna o modo de agir dos bank robbers em algo demodé. Dois irmãos a fazerem algo juntos, vestidos de cowboy mas com máscaras de ski a entrar pelos bancos adentro, sem pensar muito nas câmaras de vigilância, e a acumular notas à antiga. Mas quem ainda rouba bancos? “Vocês nem são mexicanos”, diz-lhes um dos clientes do banco. O dinheiro vai ser lavado no casino, circulado em fichas, e depois o grande movimento circular do filme que é o facto do dinheiro do banco roubado ser aquele que servirá para pagar a esse mesmo banco que iria executar o rancho da família. Porque tudo pode ser tudo, o texas ranger branco já pode gozar com o texas ranger mexicano, já podem vestir-se de forma igual e sobretudo perceber, como é o caso deste plano, que as perseguições são de outrora e que agora é sobretudo um tempo de estratégia e espera. Aqui, a personagem de Jeff Bridges explica isso mesmo ao seu parceiro: mais vale antecipar a próxima jogada de um xadrez que já não anda a golpes e esticões de violência, mas é antes um affair de gestão de um capital circular e fugidio. O seu parceiro Alberto diz-lhe que ele quer esperar pois quer prolongar ao máximo aquilo que está prestes a terminar dada a eminência da reforma. Não é que também não tenha razão mas é esta espera que faz com que Hell or High Water termine com um adiamento – Bridges dirá a Pine que um dia irão continuar a conversa que poderá finalmente esclarecer a sua culpabilidade. Essa cena final do filme, já com Pine de volta com a família em mais um gesto circular do argumento, ilustra bem esse saborear de um momento antes dele terminar. E já há décadas que esse fin de jeu paira sobre o mundo do western.

Carlos Natálio

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