Há dias tinha escrito no Facebook umas breves palavras sobre a notícia do próximo projecto de Shyamalan, alegadamente uma sequela de Unbreakable (O Protegido, 2000). Este filme, mais do que ter prenunciado a tara por super-heróis que tomou conta de Hollywood depois dos ataques às Torres Gémeas, era – é cada vez mais, na realidade – o manual mais completo para se sobreviver hoje aos efeitos da retórica messiânica feita, sem nuances, de luz e escuridão. Escrevia na dita rede social que não via como muito útil que se retomasse um discurso que estava mais fresco do que nunca. Em 2000, Unbreakable viu mais longe do que todos nós. Este filme, que por sinal tinha revisto há pouco tempo, não precisava de sequela. Precisava quanto muito disso: de ser revisto, reavaliado ou reconsiderado. O mundo que se seguiu a ele era a sua sequela mais justa: os super-heróis e, ainda mais tentadores, os super-vilões estão em todo o lado – até na Casa Branca -, nascidos, renascidos, “kitados”, mais ou menos plastificados, mais ou menos suicidas. Não estava certo de que o cinema de Shyamalan (nos) fosse beneficiar com uma actualização nesses moldes. Mas há nesta história um pormenor que muda tudo e esse pormenor é a razão de ser desta crítica: quando escrevi aquilo ainda não tinha visto Split (Fragmentado, 2016).
O presente texto foi publicado no livro de compilação O Cinema Não Morreu – Crítica e Cinefilia À pala de Walsh. Pode adquiri-lo junto da editora Linha de Sombra, na respectiva livraria (na Cinemateca Portuguesa), e em livrarias seleccionadas.
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[…] sombria e chuvosa que prevalecia. À sua quietude, seguiu-se 16 anos depois o verborreico Split (Fragmentado, 2016), onde a câmara largava a sua inventividade para se submeter à figura […]