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Toni Erdmann (2016) de Maren Ade

De Tiago Ribeiro · Em 16 de Fevereiro, 2017

Com um lastro de reconhecimento “prestigiante” sem muito paralelo nos últimos anos, estreia em Portugal Toni Erdmann (2016), a terceira longa metragem da bissexta Maren Ade, que nos entretantos andou a produzir os filmes do Miguel Gomes. Perante esta admiração quase unânime, quase que somos levados a ir na cantiga da “obra-prima da década” ou então de sermos cínicos e perguntar o porquê de tanto alarido (Miguel Marias!). Nem uma cousa nem outra: Toni Erdmann é “apenas” um muito bom filme, o melhor da cineasta, que tem na sua duração e possíveis efeitos redundantes as suas exactas virtudes e os seus (poucos) exactos defeitos. E convenhamos que é muito complicado não gostar de um filme que acaba ao som da “Plainsong” dos The Cure e em que há a melhor cover de sempre de uma canção da Whitney Houston.

Toni Erdmann (2016) de Maren Ade

Uma das perguntas que, amiúde, as personagens de Maren Ade costumam fazer umas ás outras é a seguinte: “O que estás aqui a fazer?”. O tom da pergunta não é encabeçado nem por alegria nem pela mínima quantia de curiosidade, antes por um sentimento de incómodo de quem nos quer lixar o dia. Personagens solitárias e cheias de “boas intenções” que não fazem a mínima ideia de quando estão a ocupar demasiado tempo e demasiado espaço do outro, com poucas ou nenhumas noções do que significa a palavra “embaraço”. A “boa educação” e as convenções sociais impedem que o incomodado envie o inoportuno imediatamente para tal sítio, mas, como inevitável resultado da bola de neve que se vai formando, a explosão irá acontecer e não será bonita de se ver. Era assim na obra de estreia da alemã, Der Wald vor lauter Baumen (2003), onde se assistia à degradação psicológica de uma professora através da sua incapacidade de ter o comportamento “certo” para determinada ocasião, e também era, embora bem menos, o que acontecia em Alle Anderen (Todos os Outros, 2009), em especial na desbocada personagem da namorada do casal protagonista.

Toni Erdmann estará relativamente mais próximo dos pequenos festivais de episódios inconvenientes de Der Wald vor lauter Baumen do que da rotineira e estafada história de “um casal e seus problemas” (pessoal, o Bergman já disse tudo o que havia para dizer sobre isto há quarenta anos. Já não há mais nada para remexer. É chover no molhado. Seja em plano fixo ou câmara aos caídos, seja em Technicolor ou em “austero preto-e-branco”) de Alle Anderen. “Relativamente” porque as semelhanças acabam aí. Aos concisos oitenta minutos do seu primeiro trabalho, Toni Erdmann responde com uns langorosos cento e sessenta e dois, e ao sucedâneo do Dogma style que é o seu trabalho de 2003, o último filme de Maren opõe um “neutro” classicismo. O primeiro é um filme caseiro, filmado na cidade natal da realizadora, Karlsruhe (já conhecemos mais pessoas desta cidade além do Oliver Kahn), com cenas curtas e urgentes, em que as personagens se encontram em constante movimento; Toni Erdmann está de malas e bagagens em Bucareste, no mundo da alta finança, filmado com uma câmara de altíssima definição, e em que as cenas e sequências se prolongam no tempo, tornando-se praticamente filmes em si mesmas.

Situações rídiculas e absurdas não significam, necessariamente, a entrada por caminhos cómicos, e se as há, e muitas, em Toni Erdmann, elas estão impregnadas de constrangimento.

Para se ter uma ideia desta durabilidade “excessiva”, pode-se escrever, sem perigos de maior, que a personagem que dá nome ao filme só entra em cena já lá vai decorrida uma hora de filme. E o que aconteceu nos sessenta minutos anteriores e o que sucederá nos cem posteriores levam-nos a concordar com o critico espanhol Miguel Marias, que na World Pool de 2016 da Senses of Cinema achava muito confuso que Toni Erdmann fosse classificado como “comédia”. Situações rídiculas e absurdas não significam, necessariamente, a entrada por caminhos cómicos, e se as há, e muitas, em Toni Erdmann, elas estão impregnadas de constrangimento. Não se chega perto do (involuntário) comportamento masoquista de Der Wald vor lauter Baumen – até porque aqui tínhamos uma personagem contra o mundo, e em Toni Erdmann há uma relação mútua com pathos a atravessar-se à frente -, mas os momentos de quase fecharmos os olhos perante tanto embaraço alheio também não estão nada em falta. Algumas das vezes, é tudo um exercício do mais sádico suspense: como acabará esta situação onde ninguém sabe o que fazer? Não há nada melhor para exemplificar isto do que o encontro dos (magníficos) Peter Simonischek (pai) e Sandra Huller (filha) numa reunião com os chefes e colegas desta num hotel de Bucareste. Até nos alegrámos por ali não estar. Mais: suspirámos por um filme do Todd Solondz.

O momento de catarse das personagens, presente nos últimos planos dos dois primeiros filmes, é agora expandido numa sequência de um quarto de hora que é apenas digna de ser vista, não descrita. Diremos apenas que começa por envolver um vestido e uma festa de anos. Dê por onde der, há que admirar o completo abandono dos actores nesta cena. É o momento, certamente, onde a fronteira entre os actores e as suas personagens se esbatem por completo, onde menos se conseguirá descortinar as diferenças entre aqueles actores a serem eles mesmos ou a usarem o corpo e a mente para dar vida a criações fíctícias.

No final, o happy ending nesta história de um pai e de uma filha é meramente ilusório. Maren Ade resgata, assim, o seu filme das garras simplórias da mensagem “ai, tens de aproveitar a vida e não dar tanta importância ao trabalho e ás aparências”, que bem poderia ser o mandamento de um dos chefões de Hollywood para mais uma comédia feel good. A última imagem de Toni Erdmann alimenta pelo menos a hipótese de a “mensagem” não ter passado de um interlúdio. Amanhã é outro dia, outra vez na alta finança, e há que trabalhar no duro e manter as aparências convencionais. Siga.

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Tiago Ribeiro

Em Dezembro de 1963, Jean-Luc Godard, sentado numa esplanada em Saint-Germain-des-Prés, proferiu o seguinte: "estou sentado numa cadeira numa esplanada e o cinema faz este mês sessenta e oito anos". Um "jeu de mot" polémico (como sempre, no mestre) mas que em retrospectiva nos parece de uma clarividência singular.

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