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Laura Palmer

De Tiago Ribeiro · Em 7 de Março, 2017

“The letter that was extracted from beneath the fingernail of Teresa Banks gives me the feeling that the killer will strike again. But like the song goes, who knows where or when…”- Special Agent Dale Cooper.

Não deixa de ser curioso, numa primeira observação, que a série que elevou David Lynch a um invulgar convívio com o “grande público” tenha dado origem a um dos seus filmes mais malignos, menos apreciados, e com uma residual taxa de sucesso junto do mesmo “grande público” que pouco tempo antes tinha elevado as taxas de audiência de Twin Peaks a níveis estratosféricos. Com mais cuidado, chega-se à conclusão de que nada disso foi surpreendente. A série, surgida em 1990 (nesse imemorial tempo em que as séries ainda não eram “melhores que 150% do cinema contemporâneo!”) e cancelada um ano depois, obteve uma inacreditável adesão na sua primeira época para derrapar em grande estilo na segunda, alienando cada vez mais a base de fãs através de uma bizarria progressiva (estranho, para uma produção do Lynch). Quando, pouco tempo depois do fim da série, Lynch anunciou que iria realizar um filme-prequela sobre os últimos dias de Laura Palmer, ninguém quis saber, inclusive alguns dos actores icónicos de Twin Peaks, como a Lara Flynn Boyle ou a Sherilyn Fenn. E quando aconteceu a estreia mundial, no Festival de Cannes de 1992, Twin Peaks: Fire Walk with Me (Twin Peaks: Os Últimos Sete Dias de Laura Palmer. 1992) foi carinhosamente recebido com sonoros apupos e barulhentas pateadas. O universo Twin Peaks parecia estar morto e enterrado. Anos depois, os Cahiers du Cinéma, para chatearem o povo, colocam o filme como um dos dez melhores da década de noventa.

Além da saturação da “marca” Twin Peaks, talvez o maralhal esperasse um regresso à “límpida” narrativa da primeira época da série; em vez disso, obtiveram um filme do David Lynch até aos ossos, onde o sublime e o ridículo não são as duas faces da mesma moeda, mas apenas e só uma única face. Por momentos, pensamos até se tudo não será um grande gesto de provocação do cineasta para a choldra, dando-lhe exactamente o oposto do que pretendiam: os vestígios de camp e kitsch atingem em Twin Peaks: Fire Walk with Me níveis que mais nenhum filme da sua obra poderá ter o orgulho em exibir. Afinal, esta é uma obra em que se vê, em plano de pormenor, uma papa qualquer a entrar na boca de um anão (Michael J. Anderson, outro dos habitués de David).

Laura Palmer (Sheryl Lee), aparição fantasmagórica na série, é no filme uma presença viva. Os seus últimos sete dias, reduzidos ao esqueleto, podem-se resumir assim: acordar, comer, dormir, snifar cocaína, ser comida pelo pai, ser comida pelo seu dealer, ser prostituta de noite, ser o objecto de amor de um motoqueiro com o carisma de uma formiga, ser comida pelo pai, snifar cocaína, acordar, fumar cigarros, ser comida pelo pai, escrever num diário, ter conversas sobre o “sentido da vida” com a sua melhor amiga, ser comida pelo pai, e por aí. E é nesta bagunceira de vida que Lynch vai costurando a sua “visão do mundo”, e que já antes — Blue Velvet (Veludo Azul, 1986), Wild At Heart (Um Coração Selvagem, 1990) —  e depois — Mulholland Dr. (Mulholland Drive, 2001) onde até existem duas partes para nos facilitar o trabalho — tinha sido e seria genialmente burilada: para David, um homem hiper-romântico, existe o Bem e o Mal, o verso e reverso, a santa e a puta, a loura e a morena, o sagrado e o profano, o recato e o deboche, as luzes e as trevas, o ego e o id. E qual a melhor personagem na sua filmografia do que Laura Palmer para personificar isto tudo? Ela, que de dia é a pacata miúda suburbana e de noite se transforma na “homecoming fucking queen” de Twin Peaks? Duas sequências, e que no filme são sucessivas, demonstram muito bem a dualidade presente nos domínios de Laura Palmer/David Lynch.

Na primeira, apanhamos Laura a caminho de um trabalho que será, esperamos nós, muito bem remunerado. Entra num bar e em palco encontra-se a angelical Julee Cruise, a cantar o etéreo Questions In A World Of Blue. Não faltará muito para logo a seguir Laura Palmer entrar em período de choro. Temos, então aqui, uma canção de uma profunda melancolia a levar personagem a reconhecer a sua há muito perdida inocência. Esta cena faz ecoar uma outra, de meia dúzia de anos antes, quando o Dennis Hopper se contorcia com memórias traumáticas enquanto ouvia o Roy Orbinson/Dean Stockwell a cantar o In Dreams. Não há duvida de que Lynch é o senhor e mestre no que toca a evocar angústias interiores por meio de canções e músicas aparentemente inofensivas. Regressando a Laura e ao seu bar: está na altura de limpar as lágrimas, esquecer as tristezas, de acender um cigarro e de ser profissional. É hora do regabofe, que surgirá num dos grandes momentos de Lynch. Pink Room, um recanto no Canadá onde prolifera não o rosa mas o vermelho-sangue, onde há mulheres a dançarem semi-nuas agarradas umas com as outras, onde há uma banda musical a tocar uns acordes hipnóticos com uns décibeis altíssimos, e onde os diálogos entre as personagens mais do que absurdos são completamente inaudíveis. Como diz Jacques, o proprietário, “There’s no tomorrow”. A Laura de há uns minutos, imersa nas suas feridas, é agora a deusa da promiscuidade. Até a candura da sua melhor amiga, Donna (Moira Kelly), é transformada em devassidão neste buraco negro, perdão, vermelho. No momento em que Laura a vê em actividades lúdicas, Lynch prega-lhe um clarão no rosto, como se fosse um regresso temporário a um estado de lucidez. Acreditamos piamente que todos os actores, nesta cena, estariam em notável estado de bebedeira.

Será a última festa temática de Laura Palmer. Dias depois, o seu destino estará traçado. O seu corpo aparecerá no rio, envolto em plástico, e quando é descoberto, transforma-se em matéria iconográfica da história da televisão. Injusto que o seus últimos dias não tenham entrado para o mesmo panteão histórico. Dia 1 de Maio a aventura recomeça.

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Tiago Ribeiro

Em Dezembro de 1963, Jean-Luc Godard, sentado numa esplanada em Saint-Germain-des-Prés, proferiu o seguinte: "estou sentado numa cadeira numa esplanada e o cinema faz este mês sessenta e oito anos". Um "jeu de mot" polémico (como sempre, no mestre) mas que em retrospectiva nos parece de uma clarividência singular.

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