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Una vita difficile (1961) de Dino Risi

De Carlos Natálio · Em 9 de Abril, 2017

Já era a segunda vez que Silvio Magnozzi (o genial Alberto Sordi) abandonava Elena (Lea Massari). Da primeira vez tinha sido depois de umas semanas em que partilharam cama, num moinho, por entre aspirinas e cigarros, com a guerra lá fora: ele cansou-se da vida na horizontal e queria prosseguir a aventura da resistência com os partisans italianos e foi-se sem dizer água vai. Ela, que lhe tinha salvo a vida com um ferro de engomar na cabeça de um nazi, fica sem dele saber durante um par de anos. A segunda vez, vários anos depois, já eles estavam casados, a guerra terminada e a monarquia abolida. Ele bêbado, frustradíssimo, chama à mulher de estranha, que é uma “cabeça de avestruz”, que adormece quando ele lhe lê um livro, que nada têm em comum.Um rebanho passa entre eles, os dois vão apartar-se, e Silvio vai finalmente tentar publicar o seu romance que dá título ao filme de Dino Risi: Una vita difficile (Uma Vida Difícil, 1961).

O romance é uma bomba mas nem por isso será publicado: o advogado do possível editor diz-lhe que é “um convite à deserção, um desdém pelas forças armadas, e que contém ofensas ao exército, à magistratura, ao sistema carcerário e à religião”. O conteúdo é problemático, como é o próprio filme de Risi, que narra através das expectativas de um revolucionário e jornalista, um período de transição de cerca de 15 anos da historia italiana, desde a ocupação alemã, na 2ª Guerra Mundial, até ao início dos anos 60, já em pleno boom económico. A Sílvio dizem-lhe que o romance não tem estilo, que o melhor é tentar o cinema, que “lá eles pagam mais”. Numa cena passada na Cinecittá, o jornalista tentará convencer Alessandro Blasetti (que juntamente com Vittorio Gassman e Silvana Mangano surgem num cameo), sem sucesso, a fazer uma versão do seu livro.

Se é pacífico dizer que monárquicos, estalinistas, industriais corruptos, juízes, professores, editores ninguém sai muito bem da fotografia, não é assim tão fácil definir o estilo corrosivo de Risi. Isto porque, cenas há, especialmente na primeira metade do filme, em que se sente a influência do neorealismo, ou melhor, do idealismo e das expectativas que o pós-neorealismo tinha para a sociedade a reconstruir-se depois da guerra. De certa maneira, isso sente-se ainda no final desta “vitta difficile” que tentava preservar uma certa dignidade [que faz lembrar o desfecho de um filme sobre a crise contemporânea, La loi du marché (A lei do Mercado, 2015) de Stéphane Brizé] e que é feita com a saída das personagens pelo próprio pé (renegando o luxo dos automóveis). Algo que será já completamente impossível no ano seguinte em Il sorpasso (A Ultrapassagem, 1962), o capolavoro de Dino Risi, em que os carros não param de tentar ir mais rápido e mais rápido e rivalizam com as mulheres,  o amor dos homens.

Mas dizia, se Una vita difficile é um filme com um herói que busca, em vão, encontrar o seu lugar num país em mutação, o seu lado cínico, de entrada a fundo no género por excelência do milagre económico – a commedia all’italiana – completam o estilo de um filme que “acelera” para uma mudança social irreversível, para uma sociedade corrupta e doente da qual a personagem do comendador é o sinal mais visível. Nesta autopsia ao povo italiano vários já são os elementos que caracterizariam filmes de Risi como o já referido Sorpasso ou I mostri (Os Monstros, 1963). Desde logo, as elipses temporais, a toque de imagens de arquivo e manchetes de jornal (excepção para a mais genial, a primeira que, entre um presunto intacto e um presunto comido, anuncia a primeira união do par amoroso) indiciam o avanço por episódios na vida de Silvio. Episódios esses que no ano seguinte serão as paragens de automóvel de Bruno e Roberto (ou Gassman e Trintignant) num dos primeiros road movies italianos e que no ano imediatamente a seguir são assumidos como uma estrutura da moda- o filme por segmentos. Outros traços evidentes são a vida a crédito, o contorno das regras, a oposição norte/sul e cidade/campo, a corrupção, a paixão pela velocidade, pela conquista, etc.

Para terminar, gostava apenas de chamar à discussão Jacques Lourcelles que no seu terceiro tomo de Dictionnaire du cinéma, na entrada sobre o filme de Risi, diz que Alberto Sordi é tão autor de Una vita difficile como o realizador ou o argumentista, Rodolfo Sonego. E mais. Escreve ele: “Pendant quarente ans, Sordi, incarnant ses espoirs et ses déceptions, a pour ainsi dire elaboré une véritable biographie sociale du peuple italien.” Se houve actores que encarnaram a esperança, os risos e as lágrimas, e depois a decepção dos anos de chumbo até ao final de comédia italiana, foram Sordi e Gassman que não por acaso surgem par a par numa das obras que abrem o “manual da comédia em tempos de guerra”, falo de La grande guerra (A Grande Guerra, 1959) de Mario Monicelli.

E em Una vita difficile, filme prefácio ao grande sucesso de Dino Risi, Alberto Sordi dá-nos tudo: a coragem do soldado resistente, o amor que não consegue explicar, o olhar ora sedutor ora desprotegido, os gestos alcoólicos, a perseverança, a moralidade, a dúvida. Tudo num só homem, numa só personagem. Curiosa nota que Risi e o actor nos mostrem as posturas da dignidade. Silvio rejeita ficar na cama com uma guerra lá fora, rejeita sentar-se no automóvel da riqueza ou inclinar-se na subserviência da corrupção (é assim uma das últimas vezes que Elena o vê, a fazer vénias às pessoas importantes de Roma). O Silvio Magnozzi de Sordi é um homem que conquista a verticalidade e é só quando Elena compreende a importância desta que a vida de ambos se acomoda, dignamente, na dificuldade.

Una vita difficile será exibido hoje pelas 21:30, na sala Félix Ribeiro, no âmbito do ciclo dedicado à obra de Dino Risi que a Cinemateca Portuguesa organiza em colaboração com a 10ª Edição da Festa do Cinema Italiano.

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Carlos Natálio

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