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Os Bichos

De Tiago Ribeiro · Em 7 de Maio, 2017

Lisandro Alonso e Lucrecia Martel são os dois nomes mais conhecidos/relevantes da asensão internacional do cinema argentino ocorrida nos inícios deste século. A segunda, depois de quase uma década sem longas-metragens, completou Zama (2017), e o primeiro, após meia dúzia de anos sem dar notícias, regressou em 2014 com Jauja (2014), onde, escandaleira das grandes, se instaurava uma ambição narrativa “lynchiana” numa filmografia que sempre tinha feito da “estória” uma mera arte ilusória.

Foi em 2008, mas já não recordamos como chegámos ao contacto com o cinema de Alonso. Provavelmente através de uma qualquer referência ou artigo lido em qualquer parte, mas não será de descartar a hipótese de termos ido ao Google procurar qualquer notícia sobre o Lisandro Lopéz (o verdadeiro, não o arremedo de central que joga no Benfica) e o caminho ter-nos desviado para o outro Lisandro. Recordamos, e razoavelmente bem, é que depois de vistos os seus três primeiros filmes (em ordem não cronológica) ficámos à espera do quarto, que estrearia ainda nesse ano. Mais alegrados ficámos quando soubemos que o argentino apresentaria esse seu novo filme, Liverpool (2008), no Lisbon & Estoril Film Festival, que teria aí a sua segunda edição. Chegado esse dia de Novembro de 2008, saímos da cave e fomos direitinhos para o Centro de Congressos do Estoril, onde por volta já não sabemos de que horas o Lisandro e o Miguel Gomes iniciaram a apresentação do filme. Foi bonito. Gomes elogiava Lisandro, “um dos maiores realizadores da actualidade”, Alonso ripostava para Miguel “mas tu também és!”, e, depois de descortinar João Pedro Rodrigues na assistência, acrescentaria, “e João Pedro Rodrigues também!”, ou algo com o mesmo sentido de admiração. Terminado o filme, houve a costumeira sessão de perguntas e respostas entre realizador e público; infelizmente, a memória só reteve a exasperação de uma senhora chilena, que confessava que não percebia que cinema era aquele nem qual o seu objectivo, com o seu compatriota continental respondendo que fazer filmes Disney não era o seu desígnio. Recuemos, no entanto, uns minutos, até ao momento em que Liverpool termina e um bem conhecido realizador português, sentado umas duas cadeiras à nossa esquerda e com os pés apoiados no vazio banco da frente, sussurra para o vizinho ou vizinha, em tom levemente reprovador: “isto [o cinema de Alonso] é sempre a mesma coisa”. Talvez, passados meia dúzia de anos, este celebrado cineasta tenha gostado, enfim, de Jauja, que já está bem longe de “ser a mesma coisa”.

Uma câmara, um homem, e uma determinada geografia do planeta Terra: é isto Los muertos.

Esse sussurro – amargamente exprimido por esse realizador que acha que o Jaws (Tubarão, 1975), sendo o principal responsável pelos cataclismos cinematográficos norte-americanos dos últimos quarenta anos, nem sequer é um mau filme – também poderia trazer consigo um espírito de profundo arrebatamento, se proferido em tons mais joviais e menos agressivos, pois isso significaria que o cinema de Alonso continuaria a maravilhar com o recurso às mesmas “ferramentas” que já se tinham  apresentado em La libertad 20021), Los muertos (2004) e Fantasma (2006). Um cinema “observacional”, com planos de longa duração mas sem descambar nas armadilhas da contemplação poseur, de personagens solitárias que deambulam por espaços conhecidos ou desconhecidos com a mesma determinação selvagem, de uma quase total abstinência comunicacional, ao ponto de, sem exagero, se poder aventar a hipótese de esses filmes puderem ser vistos por qualquer cidadão que não conheça uma única palavra de espanhol. Fantasma, desses três primeiros trabalhos, e apesar de manter o memso MO, diferencia-se pela sua dimensão de exercício de Mise en Abyme, pois observa Argentino Vargas, numa sala de cinema, a observar-se a si próprio em Los muertos, o anterior filme de Lisandro Alonso. Um filme de espaço urbano que cortava com a natureza primitiva de La libertad e Los muertos, que voltaria a ser chamada para personagem principal em Liverpool, completando-se aí a chamada trilogia do “homem solitário”.

Dessa trilogia, nada nos espanta mais que Los muertos. La libertad, apesar de termos gostado, ficou-se pela visão inicial, e Liverpool parecia já exibir algum esgotamento de fórmula, e tanto assim foi que Alonso tratou de trazer coisas novas ao seu cinema no filme seguinte, Jauja, embora sem nos convencer muito. Mas isso não é para aqui chamado, e concentremo-nos, de vez, em Los muertos, um dos grandes filmes (da “história do cinema”, atrevemo-nos) do “cinema para dormir”. Esta meritória categoria de filmes  próvem de Abbas Kiarostami, que afirmava que gostava muito de filmes que o pusessem a dormir. Este “cinema para dormir”, de grandes benefícios medicinais, não significa, para nós, que tenha de ser levado à letra, antes significando um tipo de cinema que nos coloque num estado de atenta vigília, suficientemente despertos para apreciar o filme, e suficientemente relaxados para, terminada a sessão, dormirmos nove horas seguidas (um conselho: para atingir mais depressa este estado de benigna sonolência, é melhor beber dois copos de Whisky. Drogas não, que isso faz mal). Esclarecem-se, agora, algumas das características essenciais deste tipo de cinema: a) poucos ou nenhuns diálogos, ou então, se os houver, que sejam proferidos com dicção impecável e/ou de forma arrastada; b) uso e talvez abuso de fade ins e fade outs; c) inexistência total de qualquer agitação sonora  que venha interromper a modorra instalada; d) de preferência, muitos sons ambientais e muitos planos paisagísticos (rios, mares, pássaros, etc); e) câmara a tremer completamente interdita. f) planos de longa duração, preferencialmente lentas panorâmicas e vagarosos travellings. À excepção dos fades, Los muertos possui isto tudo.

Se contar a “história” de um filme é chato, no caso deste é também inútil. Uma câmara, um homem, e uma determinada geografia do planeta Terra: é isto Los muertos. E no interior dessa “sinopse”, vão-se vendo e ouvindo coisas mais particulares cujo intuito final é induzir o espectador num estado de quem acabou de estar dezasseis horas seguidas na praia num dia de 35º graus. Claro que há o reverso da medalha e achar-se tudo isto de uma monotonia atroz, ou, bem mais injustamente, “pretensioso”, epíteto ridículo para classificar os filmes iniciais de Lisandro (já Jauja…).

Los muertos é o resultado da curiosidade por um homem e pelo(s) meio(s) em que se insere, através de uma lúxuria minimalistica de composição e som. E onde se pode comprovar que não há melhor maneira de simular uma steadycam que colocar uma câmara no interior de uma canoa. Num rio.

 

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Tiago Ribeiro

Em Dezembro de 1963, Jean-Luc Godard, sentado numa esplanada em Saint-Germain-des-Prés, proferiu o seguinte: "estou sentado numa cadeira numa esplanada e o cinema faz este mês sessenta e oito anos". Um "jeu de mot" polémico (como sempre, no mestre) mas que em retrospectiva nos parece de uma clarividência singular.

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