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À pala de Walsh
Civic TV, Crónicas 7

Twin Peaks 2017: nada para ver aqui

De Luís Mendonça · Em 29 de Maio, 2017

Esta crónica demorou mais tempo a sair. Aguardava pelo primeiro episódio da nova temporada de Twin Peaks (2017-). É o grande acontecimento cinematográfico do mês? Sim, mesmo sendo um exclusivo do pequeno ecrã, no caso português, do canal TVSéries. Passou ontem à noite e, com um certo nervoso miudinho, lá fui eu sentar-me no sofá para ver o que esperava ser um grande momento de cinema. Os dois primeiros episódios foram mostrados, com pompa e circunstância, no Festival de Cannes anteontem e não só arrancaram a mais longa ovação do auditório como fizeram ascender um “produto televisivo” a título mais bem cotado do festival para a crítica de cinema. A recepção tem sido tal que a notícia avançada há semanas sobre o adeus definitivo de David Lynch ao cinema mereceu uma importante rectificação – por parte dos jornalistas ou do próprio Lynch? Provavelmente dos dois. A sessão especial em Cannes de Twin Peaks teve mesmo o condão de abafar o interesse pela Palma de Ouro (é só dentro da minha cabeça que ouço a expressão: boooring?).

Neste passado domingo todas as atenções estiveram viradas para o episódio de abertura da terceira temporada de uma série que deixou uma marca indelével em todos aqueles que, no início dos anos 90 do século passado, a seguiram religiosamente na RTP1 e também em todos aqueles que, no início do novo século, a acompanharam com igual fervor na SIC Radical. Eu pertenço a esta segunda geração. Recordo-me bem de procurar ver e gravar cada episódio, mas de levar a devoção até às últimas consequências aquando da maratona televisiva (integral que incluía, creio, as duas temporadas), sem interrupções, que passou naquele canal do cabo durante um fim-de-semana. Tenho ideia que nem as refeições me impediram de estar de olhos – e ouvidos – pregados ao pequeno ecrã. Fui agarrado pelo primeiro episódio, sugado por um mistério abismal: quem matou Laura Palmer? Não, não foi bem isso. Já conhecia Lynch suficientemente bem para perceber que interessava pouco a resposta a essa pergunta; que ele procuraria tornar a grande questão num infindável rol de pequenas interrogações que nos encaminhariam para um mistério maior – muito maior – do que aquele que apenas alimenta um plot. O que interessa a Lynch é a procura e o modo como o mistério se adensa até ao ponto de nos fazer engolir pelos nossos pesadelos e demónios. A atmosfera em Lynch é tudo. A música de Badalamenti, o cenário campestre – os verdes, os castanhos, os vermelhos – de Twin Peaks, as personagens estranhas que povoam a localidade onde Laura Palmer – nome de alguém com corpo ou nome de um mito já sem corpo? – foi vista pela última vez.

A ousadia é grande, mas pode minguar se a sensação de vácuo der lugar ao vácuo ele mesmo. E se a mão que dá um murro nas nossas expectativas virar a mão que esconde o nosso bocejo?

Tinha lido algures que era recomendável ver-se ou rever-se o filme, prequela da série, que Lynch lançou após a “conclusão” da segunda temporada de Twin Peaks: Fire Walk With Me (Os Últimos Sete Dias de Laura Palmer, 1992). Assim o fiz, com gosto – já o tinha como um dos filmes mais subestimados do realizador, experiência traumática de som-imagem que prenuncia Lost Highway (Estrada Perdida, 1997), Mulholland Dr. (Mulholland Drive, 2001) e mesmo aquele que ainda é o seu último filme, Inland Empire (2006). Hoje parece evidente que Fire Walk With Me abria portas novas no cinema de Lynch. O Festival de Cannes não o entendeu dessa maneira. Os apupos foram vários aquando da sua passagem – então, em competição – pelo festival, no ido ano de 1992. 25 anos depois, os apupos transformaram-se em aplausos. Mas nada mudou essencialmente em Lynch. Este continua a (saber) trair as nossas expectativas. O primeiro episódio do novo Twin Peaks começa onde a viagem de Fire Walk Me termina: num limbo vermelho, que se parece com um cabaret, onde as palavras – e os gestos – se revertem temporalmente, ganhando um estranho grão de desconformidade, digo, de “edadimrofnocsed”. Laura Palmer morreu, o mito, esse, está vivo, num além qualquer. Um além-filme ou um além-série. Fire Walk With Me começa com uma televisão destruída. É tempo de colar os cacos e refazer o que nunca feito esteve. Refazer o desfeito para produzir o quê? Acima de tudo o choque de não sabermos ao certo onde estamos. Esta é a primeira grande ironia produzida nesta hora inaugural: voltamos a uma casa que nos acolheu, durante tanto tempo, mas já não a reconhecemos. Não a reconhecemos porque ela não nos faz reconhecimento. “Seja bem-vindo a Twin Peaks”, lê-se na famosa tabuleta. Contudo, Lynch não voltou a Twin Peaks para nos oferecer bom “entretenimento familiar”. Não digo “familiar” como “para toda a família”, digo-o literalmente como algo que, promovendo a nostalgia, revisitamos – e que nos revisita – sem criar desconforto.

Pois então que se desengane o espectador mais distraído – e alheado do que Lynch sempre procurou no seu cinema. O primeiro episódio do novo Twin Peaks é uma coisa além de Twin Peaks. A série antiga sinaliza-se pela presença (quase puramente) simbólica das velhas personagens, mas o grosso aqui é de uma estranheza constrangedora. E diria que nos lembra mais imediatamente menos do que ficou lá atrás suspenso, há 25 anos, do que o que aconteceu entretanto, nomeadamente Lost Highway, Mulholland Dr. e Inland Empire. A estrutura é episódica, lembrando os saltos narrativos destes dois últimos filmes – sobretudo Mulholland Dr. e o seu enredo de “anedotas” que se sucedem como um zapping absurdo, narrativa descontinuada que vai frustrando a resposta à questão “até onde isto nos leva?”, ou melhor, “o que quer ele dizer com isto?” Se o leitor esperava dar de caras com a ambiência de Twin Peaks e uma ligação evidente ao seu “mistério”, pois então esqueça. Isso não aconteceu agora e – estou em crer, mas posso vir a ser enganado, de novo – não vai acontecer nos episódios que se seguem. De nada nos valerão as nossas moles expectativas. O primeiro episódio trai muito. A realização é tão discreta que ousaríamos já dizer – para nossa decepção – que é perto de anónima comparada com o habitual David Lynch. A palete cromática adormece, a paisagem sonora não arranca, a acumulação narrativa – e os seus gags contidos – demora a provocar alguma faísca, a porta para o grande mistério – aquele que nos sugou no primeiro episódio da primeira temporada – não chega propriamente a abrir.

É verdade que Lynch nos dá muita coisa – por exemplo, uma história de crime insólita mostrada como uma espécie de CSI esquálido e desglamourizado. Mas precisamente por nos dar tanto tudo sabe a tão pouco. Não há cores, gestos, movimentos, paisagens (mergulhos no escuro…) que nos assombrem. Assistimos a tudo como aquela personagem que tem como profissão assistir, sentada no sofá, a uma possível aparição de alguém ou qualquer coisa dentro de uma caixa envidraçada. À distância assistimos ao desenlace desta “estória”, desta “anedota” lynchiana inesperadamente mortiça. Tudo é cinzento e adormecido ao ponto de me apetecer dizer que Lynch parece estar teimosamente receoso de, já ou em qualquer altura, “sair da caixa”. Este primeiro episódio é perverso: parece querer dizer-nos que o novo “sair da caixa” é, afinal, um não “sair da caixa”. Lynch recuado, a jogar à distância com a nossa condição. De humanos? Não, de telespectadores nostálgicos. A ousadia é grande, mas pode minguar se a sensação de vácuo der lugar ao vácuo ele mesmo. E se a mão que dá um murro nas nossas expectativas virar a mão que esconde o nosso bocejo?

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Angelo BadalamentiDavid Lynch

Luís Mendonça

"The great creators, the thinkers, the artists, the scientists, the inventors, stood alone against the men of their time. Every new thought was opposed. Every new invention was denounced. But the men of unborrowed vision went ahead. They fought, they suffered, and they paid - but they won." Howard Roark (Gary Cooper) in The Fountainhead (1949)

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7 Comentários

  • Luis Dias diz: 30 de Maio, 2017 em 11:59

    Quando referiste Mulholland Dr. deu logo para ver que estás muito longe de perceber o quer que seja de David Lynch.
    Sobre TP, não deves ter visto o mesmo que a maioria viu… boring foi ter perdido o meu tempo aqui a ler isto.

    Inicie a sessão para responder
    • Luís Mendonça diz: 30 de Maio, 2017 em 14:00

      O “boring” não foi para Lynch mas para a Palma de Ouro.

      “Mulholland Dr.” começa por ser um emaranhado de episódios soltos, aparentemente desligados entre si, alguns atravessados por um fino humor negro. Foi por isso que o citei, porque vi “pontes” com este primeiro episódio do novo Twin Peaks.

      Como conto na crónica, vi todo o Twin Peaks e revi há dias o Twin Peaks: Fire Walk With Me.

      Inicie a sessão para responder
    • nanan diz: 31 de Maio, 2017 em 13:19

      Para mim também foi boring

      Inicie a sessão para responder
  • Sabrina D. Marques diz: 31 de Maio, 2017 em 19:29

    Tendo visto os 3 primeiros episódios e sendo fã de Lynch, sou sincera: continuo sem entender o hype que se gerou. Mas é sobre a reacção em Cannes que por aqui se fala. Há uma disseminada relação afectiva com o Twin Peaks (que partilho) e umas enormes saudades do Lynch em banho-maria colectivo. Verdade seja dita, facto é que não há hoje quem tenha sequer remotamente ocupado o seu lugar, no mainstream, com propostas assim cifradas, misteriosas e intrigantes. Em Cannes, temos recorrentemente visto os prémios a caminhar em direcções etnográficas, sociais e políticas, muito concretas e eminentemente actuais. Francamente, torna-se um alívio que, aos ingredientes que explicam esta efusiva recepção, se adicione, precisamente, a imprevisível efusividade de Cannes.

    Inicie a sessão para responder
    • Luís Mendonça diz: 31 de Maio, 2017 em 21:29

      A efusividade de Cannes é positiva, mas é plástica, circunstancial. Soou a mero – e condescendente – “pedido de desculpas” da recepção miserável que o Lynch teve aquando de “Fire Walk With Me”. Foram palminhas para o grande mestre reformado que não vem mais perturbar a “agenda” do Festival. É a excepção que confirma a regra. E a regra, para mim, é como aquele “booring” que eu liberto no início – não contra Lynch, repito, mas precisamente contra a hipocrisia e moleza politicamente correcta de Cannes.

      Mas concordo muito contigo: temos saudades de Lynch.

      Inicie a sessão para responder
  • luiz lima diz: 5 de Junho, 2017 em 20:32

    o que acham-se de fire walk?it’s subestimado?

    Inicie a sessão para responder
  • Twin Peaks: apontar ao passado | À pala de Walsh diz: 22 de Junho, 2017 em 19:11

    […] Twin Peaks 2017: nada para ver aqui […]

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