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Gimme Danger (2016) de Jim Jarmusch

De Carlos Natálio · Em 27 de Junho, 2017

Jim Jarmusch contou uma vez que existe uma regra que se cumpre religiosamente em seu humilde lar: se o Iggy Pop for tocar no raio de 150km de sua casa, há que ir ao concerto. Se tal mandamento não tornasse já tudo tão evidente, poderíamos também ver a converseta entre o líder dos The Stooges e o Tom Waits, dois ex-fumadores a fumar, na primeira metade de Coffee and Cigarettes (Café e Cigarros, 2003), ou atentar no negociante de peles, citador da Bíblia, que encarna em Dead Man (Homem Morto, 1995), para perceber até onde vai a amizade e admiração do realizador por Iggy Pop, fã da sua música desde os seus tempos de adolescência. Certamente por isso, quando o amigo lhe pediu para fazer um documentário sobre a sua banda, em jeito de testamento, não só era uma oferta he couldn’t refuse, era algo que o deixava um tanto angustiado pela hipótese de poder ferir as expectativas de um dos seus ídolos.

Talvez esse receio esteja algo patente em Gimme Danger (2016) veiculado por uma certa convencionalidade que não dispensa as talkings heads de Pop e outros membros da banda (entre os quais o baterista recém falecido Scott Asheton), apresentada à cabeça, para que não restem dúvidas, como a maior do mundo. Depois vai-se seguindo a cronologia desde os primeiros anos da adolescência do Iggy a viver num atrelado, as primeiras experiências dos então ainda Iggy and the Stooges, até aos primeiros riffs de “I Wanna be Your Dog” e “No Fun” do álbum de 69 que iriam ajudar a etiquetar o lugar da banda no caos e a loucura do rock do final dos anos 60. Dir-se-ia que, a um primeiro nível, Jarmusch quis ser cerimonial e mostrar a quem não conhecia os Stooges as suas características e sobretudo algo do ambiente libertino e energético da época, com as “anedotas” de como Iggy perdeu os dentes da frente num concerto, como agarrou em doses de mescalina e tentou ocupar uma casa aproveitado os motins em Detroit em 67, ou como decidiu passar a usar apenas uma coleira nos concertos. Deste percurso fazem ainda parte outras personagens importantes da época como David Bowie que os chamou para Inglaterra nos anos 70, Lou Reed e os Velvet Underground, Nico ou as dicas de Andy Warhol.

Os epilépticos movimentos de possessão do homem-caos que é Iggy Pop já eram, de certa forma, cinema.

Mas num segundo nível o documentário procura também apelar aos fãs mais hardcore. Além das histórias mais conhecidas e das 20 horas de entrevistas que foi fazendo, Jarmusch passou muito tempo a procurar imagens de arquivo da época, pouco vistas, que pudessem excitar a retina daqueles que seguem a carreira dos Stooges há mais tempo. Assim, desfazer a montagem de Gimme Danger, procurar ver de quem é cada imagem (e de quando) é também passatempo do espectador. Deste caudal de fragmentos Jarmusch percebe que os epilépticos movimentos de possessão do homem-caos que é Iggy Pop já eram, de certa forma, cinema. Sobretudo quando o vemos aos saltos, banhado em tinta vermelha, olhar vago, torso suado, gritando e abocanhando o microfone, ao som da energia musical de uma nova geração. A montagem, os slow motion, o grão, o recorte do enquadramento de algumas imagens, apenas fazem o óbvio para um realizador como Jarmusch: exacerbam a qualidade cinematográfica de algo que já fazia parte do universo do cinema.

Alguns dos momentos de Gimme Danger são ainda açucarados por segmentos de animação e por “aparições” da história do cinema, os originais Three Stooges, John Wayne, Lucille Ball, Yul Brynner ou programas infantis de televisão da época. Mas de todas estas referências e narrativa há sempre que voltar ao porto seguro que é o corpo e a presença de Iggy Pop: dentes muito brancos após o arranjo, corpo desconjuntando e sempre pronto a mimar com a voz todo o tipo de histórias, enquanto lá atrás o dispositivo tudo revela, estátuas, pianos de colecção ou o que parece ser o cesto da roupa suja. De todos os membros originais dos The Stooges, Iggy sobreviveu. Isto apesar dos murros, ousadias, heroínas e alucinogénios. E ele aparece a Jarmusch para lhe “pedir” que conte qualquer coisa de outro tempo, no qual a música electrónica que hoje o “faz querer morrer” não ditava cartas, onde tudo tinha uma energia de caos e transgressão ainda pouco regulamentada. O peito cheio de veias do vocalista dos Stooges, as rugas da sua face emagrecida são assim os ecrãs mais eficazes para levar a cabo essa tarefa hercúlea que é a de transmitir às gerações de hoje esse caos, essa incapacidade de ser domado pela norma. Iggy Pop e Jarmusch podem hoje estar até algo amaciados, quanto mais não seja pelo peso dos anos, mas eles souberem criar e viver essa “indomesticação”. Vida essa e arte essa (arte de viver) que hoje procuram passar.

Como refere Iggy, num dos momentos finais de Gimme Danger: “music is life and life is not a business”. A mesma coisa com o cinema, foi o que Jarmush sempre filmou.

Gimme Danger está disponível em DVD, na versão portuguesa lançada pela Leopardo Filmes.

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Carlos Natálio

«Keep reminding yourself of the way things are connected, of their relatedness. All things are implicated in one another and in sympathy with each other. This event is the consequence of some other one. Things push and pull on each other, and breathe together, and are one.» Marcus Aurelius

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