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À pala de Walsh
Críticas, Em Sala 4

Paterson (2016) de Jim Jarmusch

De Inês N. Lourenço · Em 28 de Junho, 2017

“Adorei que o filme fosse a preto e branco”, diz ela. “Sim, há muito tempo que não via um filme a preto e branco”, diz ele. É sábado à noite, Laura e Paterson regressam de uma ida ao cinema que lhes refrescou a rotina. Na grande tela da sala quase vazia – à semelhança de uma cena de Stranger Than Paradise (1984) – projetava-se Island of the Lost Souls (A Ilha das Almas Selvagens, 1932), um clássico do terror, em contraste com a vida doce e fleumática do casal, mas coincidente com sua abstração face à nossa época. Uma época mergulhada no nervosismo tecnológico e esquecida das sensações primárias (no melhor sentido), como as da sala escura. Eles são nossos contemporâneos sem serem, afáveis vampiros que se alimentam da inspiração quotidiana para viver a eternidade a cada instante. Sem pressa. Não há aqui modernices que transtornem a graciosidade nem a estética de Paterson (2016).

Sabemos que o casal leva uma existência tranquila porque antes deste momento já percorremos com eles (Golshifteh Farahani e Adam Driver) todos os dias da semana, habitámos os seus rituais, e conhecemos a sua forma produtiva de estar no mundo. Essa personagem do título, Paterson, é um motorista de autocarro que nas horas vagas escreve poemas a partir dos pequenos enlevos de cada dia. Ela, que nos desperta um sorriso quando revela esse entusiasmo de ter assistido a um filme a preto e branco, é uma apaixonada por estas duas cores, levando os dias a alterar os padrões dos cortinados e das paredes da casa, a cozinhar cupcakes e tartes esquisitas, e a sonhar tornar-se uma artista country, com a guitarra à sua medida. Tudo sob o critério do preto e branco, a que nem escapa a coleira de um omnipresente Bulldog Inglês chamado Marvin.

Vale a pena lembrar que Jim Jarmusch já tinha celebrado a poesia no cinema em Dead Man (Homem Morto, 1995), chamando ao protagonista William Blake, e deixando o filme impregnar-se dos temas ligados à obra do poeta inglês. Por seu lado, em Paterson essa abordagem é mais transparente, imediata, e aproveita as rimas que estão à mão. Sempre com muito bom gosto.

O selo da existência é a poesia que une o homem às ruas da cidade, na acumulação do tempo.

Assim, além do nome do motorista-poeta, Paterson é também o nome da cidade onde vive com a mulher. E do poema épico de William Carlos Williams (não por acaso, o ídolo do protagonista), cujo sentido paira sobre o filme como esta nota do autor na introdução do livro homónimo: “a man in himself is a city, beginning, seeking, achieving and concluding his life in ways which the various aspects of a city may embody.” Paterson, na expressão detalhadamente remansada de Adam Driver, é esse homem-cidade, que em silêncio conduz (eis que o nome do ator encerra outra bela coincidência) os passageiros nas suas próprias rotinas fechadas. Senta-se para almoçar num banco com vista para as quedas de água de Paterson, e escreve com a inspiração que leva também dentro da lancheira. Esses poemas (escritos para o filme pelo poeta Ron Padgett), imprudentemente guardados num pequeno caderno, saltam para o ecrã com o andamento da escrita mental, a que Driver dá uma voz off pausada. Um ritmo que permite a degustação de cada verso, como o sentir de cada espaço, sejam as conversas dentro do autocarro, seja a rua, com o som da grande viatura em movimento urbano, ou um bar.

Com Paterson, Jim Jarmusch desafia-nos para beber uma cerveja. Convida-nos para esse trago lento de quem se senta atrás de um balcão na forma mais pacata e genuína de convívio. Nada de estranho na fibra do seu cinema, afinal. E é mesmo isso que Paterson faz à noite, num bar local, quando leva o cão – cuja importância nesta história sem história não devemos subestimar – no seu passeio diário. Sobretudo nestas cenas noturnas, idealizadas por um cineasta que prima pela composição de universos lacrados, sente-se a solidão tranquila de Paterson – mais uma vez, tal como os vampiros do anterior  Only Lovers Left Alive (Só os Amantes Sobrevivem, 2013), que vagueavam por uma Detroit deserta. Aqui, o selo da existência é a poesia que une o homem às ruas da cidade, na acumulação do tempo. E sentimo-nos bem nessa acumulação do tempo.

Segunda, terça, quarta, quinta… seguimos com o olhar atento às pequenas variações, como os cortinados de Laura, até acontecer uma variação maior. Cada dia se desvela pacientemente numa estrutura que se vai incorporando, como o poeta incorpora a cidade. E estamos bem. Francamente bem. A maravilha é isto: ainda o filme não terminou e já sentimos saudades de segunda-feira.

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2010'sAdam DriverGolshifteh FarahaniJim JarmuschRon PadgettWilliam BlakeWilliam Carlos Williams

Inês N. Lourenço

"On aime une histoire parce qu’on aime le conteur. La même histoire, contée par un autre, n’offre aucun intérêt." Jean Renoir

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4 Comentários

  • Alegria Beltrán diz: 28 de Junho, 2017 em 16:02

    Gostei muito do filme e do seu aparente minimalismo emocional. Menos é mais, como dizia aquele outro.

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  • Sissi diz: 3 de Julho, 2017 em 15:45

    Um maravilhoso filme sobre nada. É talvez a melhor aproximação ao mundo das drogas dos últimos 20 anos (esquecendo o Void), com toda a utilidade que isso tem.

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    • joãop diz: 17 de Julho, 2017 em 20:40

      Por que tu achou que ele faz uma aproximação ao mundo das drogas, Sissi?

      Inicie a sessão para responder
  • Fábio Miguel Leite diz: 3 de Julho, 2017 em 16:51

    Este filme é um milagre. O minimalismo da sua composição fá-lo ser um quase oásis no cinema actual. O João Botelho disse um dia que o cinema “é um plano onde sobressai gente aflita lá dentro”. Este filme é um plano onde sobressai gente lá dentro. Só gente. Gente como todos nós. Gente que só quer ser gente. Gente a quem ser gente basta.

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