• Homepage
    • Quem Somos
    • Colaboradores
  • Dossier
    • Raoul Walsh, Herói Esquecido
    • Os Filhos de Bénard
    • Na Presença dos Palhaços
    • E elas criaram cinema
    • Hollywood Clássica: Outros Heróis
    • Godard, Livro Aberto
    • 5 Sentidos (+ 1)
    • Amizade (com Estado da Arte)
    • Fotograma, Meu Amor
    • Diálogos (com Estado da Arte)
    • 10 anos, 10 filmes
  • Críticas
    • Cinema em Casa
    • Em Sala
    • Noutras Salas
    • Raridades
    • Recuperados
    • Sem Sala
  • Em Foco
    • Comprimidos Cinéfilos
    • Divulgação
    • In Memoriam
    • Melhores do Ano
    • Palatorium Walshiano
    • Passatempos
    • Recortes do Cinema
  • Crónicas
    • Entre o granito e o arco-íris
    • Filmes nas aulas, filmes nas mãos
    • Nos Confins do Cinema
    • Recordações da casa de Alpendre
    • Week-End
    • Arquivo
      • Civic TV
      • Constelações Fílmicas
      • Contos do Arquivo
      • Do álbum que me coube em sorte
      • Ecstasy of Gold
      • Em Série
      • «Entre Parêntesis»
      • Ficheiros Secretos do Cinema Português
      • Filmado Tangente
      • I WISH I HAD SOMEONE ELSE’S FACE
      • O Movimento Perpétuo
      • Raccords do Algoritmo
      • Ramalhetes
      • Retratos de Projecção
      • Se Confinado Um Espectador
      • Simulacros
      • Sometimes I Wish We Were an Eagle
  • Contra-campo
    • Body Double
    • Caderneta de Cromos
    • Conversas à Pala
    • Crítica Epistolar
    • Estados Gerais
    • Filme Falado
    • Filmes Fetiche
    • Sopa de Planos
    • Steal a Still
    • Vai~e~Vem
    • Arquivo
      • Actualidades
      • Estado da Arte
      • Cadáver Esquisito
  • Entrevistas
  • Festivais
    • Córtex
    • Curtas Vila do Conde
    • DocLisboa
    • Doc’s Kingdom
    • FEST
    • Festa do Cinema Chinês
    • FESTin
    • Festival de Cinema Argentino
    • Frames Portuguese Film Festival
    • Harvard na Gulbenkian
    • IndieLisboa
    • LEFFEST
    • MONSTRA
    • MOTELx
    • New Horizons
    • Olhares do Mediterrâneo – Cinema no Feminino
    • Panorama
    • Porto/Post/Doc
    • QueerLisboa
  • Acção!
À pala de Walsh
Críticas, Noutras Salas 1

Zangiku monogatari (1939) de Kenji Mizoguchi

De Helena Ferreira · Em 4 de Junho, 2017

O ciclo Mizoguchi no Espaço Nimas e no Teatro Campo Alegre prossegue em Junho com mais alguns filmes, dos quais destacamos Zangiku monogatari (O Conto dos Crisântemos Tardios, 1939), o único do programa que é anterior aos anos 1950. Filme sobre teatro, sobre crescimento artístico e sobre sacrifício, é considerado uma das obras máximas do realizador japonês.

Zangiku monogatari (O Conto dos Crisântemos Tardios, 1939)

Zangiku monogatari foi o primeiro filme de Mizoguchi para a Shochiko, das mais importantes produtoras japonesas que, curiosamente, começou por estar ligada ao teatro antes de se voltar para o cinema.

Excepcionalmente para Mizoguchi, o filme centra-se numa figura masculina. Shotaro Hanayagi, famoso actor de shinpa (teatro, muitas vezes melodramático, da “nova escola”, que procurou modernizar o teatro japonês em oposição à “velha escola” de kabuki) dos anos 1920-1930, sem experiência prévia no cinema, dá vida às desventuras de Kikunosuke Onoe, um actor de kabuki do período Meiji (1868-1912) – daí o filme ser considerado um Meiji-mono (filme passado nesse tempo).

Pertencente a uma reputada família de artistas e sentindo a pressão das expectativas, Kikunosuke aprende a aperfeiçoar o seu talento, ao início pouco promissor. Para tal conta com o apoio incondicional de Otoku (Kakuko Mori), a ama do filho do seu irmão, a única pessoa que é honesta com ele e com quem foge num episódio de revolta. Deixando para trás Tóquio, centro de kabuki por excelência, Kikunosuke descobre-se como artista através de experiências duras noutras cidades, nomeadamente num grupo de saltimbancos que não poderia estar mais longe da vida fácil que antes levava. As dificuldades valem a pena, porque fazem dele o actor que nunca antes fora. No final, ele regressa triunfante a Tóquio e à família, mas não sem antes abandonar a principal obreira do seu sucesso. É esta mulher que o exorta a desenvolver o seu potencial e ela que pede, e consegue, uma nova oportunidade para ele na performance que lhe salva a carreira. Mas enquanto Kikunosuke é aplaudido em apoteose, Otoku sucumbe à doença, isolada na casa da sua família. É uma cena extraordinária que alterna a animada procissão de barcos, onde ele está, com a penumbra e solidão do quarto dela.

Otoku surge, pois, como a típica figura feminina do cinema de Mizoguchi que se sacrifica pelo sucesso de um homem egoísta (há até um momento em que ele lhe bate quando ela se recusa a dar-lhe dinheiro mas ela não vacila no seu encorajamento). Não terá sido a figura feminina mais complexa que Mizoguchi filmou mas, ainda assim, ela acaba por desviar as atenções do egocêntrico Kikunosuke e em vez do cliché da mulher por detrás do grande homem, quase a vemos como a sábia mestre que observa escondida o bom trabalho de um aluno que ajudou a progredir.

A exaltação do sacrifício não está em dissonância com as obras de glorificação patriótica que dominaram a paisagem artística do Japão em guerra embora o filme suscite múltiplas leituras, incluindo um retrato subversivo dos propósitos de obediência à família

Zangiku monogatari baseia-se numa peça de Sanichi Iwaya, por sua vez inspirada num romance de Shofu Muramatsu. Foi o primeiro de uma série de trabalhos de Mizoguchi sobre artes tradicionais (geido-mono). Há quem tenha visto nesta viragem temática uma forma de Mizoguchi tentar escapar à censura (uma rígida lei do cinema fora promulgada dias antes da estreia do filme) e evitar filmar propaganda durante os anos sombrios da Segunda Guerra Mundial – que para o Japão começou com a invasão da China. No entanto, a obra de Mizoguchi não escapou inteiramente aos tentáculos do impacto cultural do militarismo da época. Em 1932, realizou um filme propagandístico sobre a Manchúria (nome que designa a região composta por três províncias do Nordeste chinês anexadas por forças militares japonesas em 1931 e depois promovida como um Estado “independente” sob o nome de Manchukuo, embora na prática controlado pelo Japão). Em 1938, realizou um outro filme de propaganda, Roei no uta (O Canto da Caserna). Em 1940, tornou-se presidente da Associação de Realizadores do Cinema Japonês e chegaram a encomendar-lhe um trabalho sobre o regime colaboracionista chinês liderado por Wang Jingwei, que não viria a ser feito. No último ano da guerra, seria um dos realizadores da obra de propaganda Hissho ka (Canto da Vitória). Embora Zangiku monogatari pouco tenha de político, a exaltação do sacrifício não está em dissonância com as obras de glorificação patriótica que dominaram a paisagem artística do Japão em guerra (o Ministério da Educação até o distinguiu com um prémio!) embora o filme suscite múltiplas leituras, incluindo um retrato subversivo dos propósitos de obediência à família.

Tecnicamente, Zangiku monogatari destaca-se pelos planos-sequência de longa duração. A primeira conversa entre Kikunosuke e Otoku, com a câmara a segui-los enquanto andam pela rua de madrugada, é um exemplo paradigmático. Há uma geometria algo flutuante no filme, em que linhas horizontais, verticais e oblíquas (por exemplo, através de escadas, barreiras e cortinas), nem sempre rectas, estruturam o plano. Todo o filme está envolto numa certa penumbra e contenção espacial, por vezes, quase claustrofóbica (veja-se, por exemplo, a cena na carruagem de comboio). Nem sempre é permitido ao espectador mais do que um olhar fragmentado, com as personagens obstruídas por elementos cénicos ou de costas. Há uma notória ausência de grandes-planos, que se explica, em parte, pela necessidade de esconder o facto de Hanayagi ser bastante mais velho do que a personagem que interpretava. Vários planos são autênticos prodígios de fotografia, quase podendo ser apreciados independentemente do resto do filme. A montagem, nomeadamente nas cenas de kabuki, é outro elemento a destacar.

Esta beleza de sombras e distância não é apenas visual. O filme tem, também, um meticuloso trabalho de som, resgatando sonoridades urbanas – além, obviamente, da música das performances de kabuki. Pregões de vendedores de rua, o ruído da chuva a cair ou simplesmente uns ligeiros burburinhos de fundo contribuem para a riqueza audiovisual deste filme.

Tal como outras obras-primas – por exemplo, Xi meng ren sheng (The Puppetmaster, 1993) de Hou Hsiao-hsien – Zangiku monogatari explora de forma atmosférica as camadas e máscaras que interligam teatro e cinema, fantasia e “real”. O resultado é um filme de esplendorosa beleza visual, força emotiva e alguma ambiguidade política que continuam a captar admiradores muitas décadas depois da sua feitura. O ciclo no Espaço Nimas e no Teatro Campo Alegre permite agora (re)descobri-lho em ecrãs à medida da sua grandeza.

Zangiku monogatari passa no Espaço Nimas nos dias 4, 5, 9, 10, 15, 18 e 21 de Junho e no Teatro Campo Alegre nos dias 12 e 20 de Junho.

Partilhar isto:

  • Twitter
  • Facebook
1930'sHou Hsiao-HsienKakuko MoriKenji MizoguchiShotaro Hanayagi

Helena Ferreira

“Maybe, too, the screen was really a screen. It screened us... from the world” (The Dreamers)

Artigos relacionados

  • Críticas

    “Saute ma ville”, “La Chambre” e “Portrait d’une paresseuse”: a casa-retrato de Chantal Akerman

  • Críticas

    “Terrifier 2”: ‘gore, gore, gore’

  • Críticas

    “Ar Condicionado”: a potência do incerto

1 Comentário

  • Manual de sobrevivência para um tsunami em Junho | À pala de Walsh diz: 30 de Maio, 2018 em 12:11

    […] de Junho, recomendo aqui o filme do ciclo mais prematuro (mas muitíssimo maduro e coreografado), Zangiku monogatari (O Conto dos Crisântemos Tardios, 1939) e a derradeira obra, Akasen chitai (Rua da Vergonha, […]

    Inicie a sessão para responder
  • Deixe uma resposta

    Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.

    Últimas

    • A medida das coisas

      26 de Janeiro, 2023
    • “Saute ma ville”, “La Chambre” e “Portrait d’une paresseuse”: a casa-retrato de Chantal Akerman

      25 de Janeiro, 2023
    • “Terrifier 2”: ‘gore, gore, gore’

      24 de Janeiro, 2023
    • O sol a sombra a cal

      23 de Janeiro, 2023
    • “Ar Condicionado”: a potência do incerto

      18 de Janeiro, 2023
    • “The Bad and the Beautiful”: sob o feitiço de Hollywood, sobre o feitiço de Hollywood 

      17 de Janeiro, 2023
    • Três curtas portuguesas à porta dos Oscars

      16 de Janeiro, 2023
    • “Barbarian”: quando o terror é, afinal, uma sátira contemporânea

      13 de Janeiro, 2023
    • “Frágil”: apontamentos sobre o cinema da amizade

      11 de Janeiro, 2023
    • “Broker”: ‘babylifters’

      10 de Janeiro, 2023
    • Vamos ouvir mais uma vez: está tudo bem (só que não)

      9 de Janeiro, 2023
    • “Vendredi soir”: febre de sexta-feira à noite

      5 de Janeiro, 2023
    • “The Fabelmans”: ‘in the end… you got the girl’ 

      3 de Janeiro, 2023
    • 10 anos, 10 filmes #10: João Salaviza

      2 de Janeiro, 2023
    • “Beau travail”: princípio, meio e fim

      30 de Dezembro, 2022
    • Quem Somos
    • Colaboradores
    • Newsletter

    À Pala de Walsh

    No À pala de Walsh, cometemos a imprudência dos que esculpem sobre teatro e pintam sobre literatura. Escrevemos sobre cinema.

    Críticas a filmes, crónicas, entrevistas e (outras) brincadeiras cinéfilas.

    apaladewalsh@gmail.com

    Últimas

    • A medida das coisas

      26 de Janeiro, 2023
    • “Saute ma ville”, “La Chambre” e “Portrait d’une paresseuse”: a casa-retrato de Chantal Akerman

      25 de Janeiro, 2023
    • “Terrifier 2”: ‘gore, gore, gore’

      24 de Janeiro, 2023
    • O sol a sombra a cal

      23 de Janeiro, 2023
    • “Ar Condicionado”: a potência do incerto

      18 de Janeiro, 2023

    Etiquetas

    1970's 2010's 2020's Alfred Hitchcock François Truffaut Fritz Lang Jean-Luc Godard John Ford João Bénard da Costa Manoel de Oliveira Martin Scorsese Orson Welles Pedro Costa Robert Bresson

    Categorias

    Arquivo

    Pesquisar

    © 2021 À pala de Walsh. Todos os direitos reservados.