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Críticas, Sem Sala 0

Loving (2016) de Jeff Nichols

De Luís Mendonça · Em 3 de Julho, 2017

Nem sempre as intenções mais nobres dão bons filmes. Nem sempre as causas justas servem de bandeira ao grande cinema. O que se passa, tantas e tantas vezes, é que o cinema serve mal de palanque e o espectador está, hoje, pouco disponível para ser chantageado emocionalmente. Atacar o racismo costuma significar atirar à cara do espectador (acima de tudo, o branco) o peso da culpa de séculos de intolerância e perseguição às minorias. Mesmo que o espectador seja um homem ou uma mulher do século XXI que acredita profundamente que todos nós, humanos, somos feitos mais ou menos do mesmo material, ele terá que aguentar o massacre: no ecrã, o herói ou heroína será enxovalhado, perseguido e maltratado para lá de todos os limites para que, fora do ecrã, no lado de cá da vida, desperte no espectador uma empatia inequívoca e violenta pela sua existência, que é assim convertida automaticamente em causa política. Sabemos como Steve McQueen consegue ser o epítome desta estratégia chantagista q.b., que consiste em “cristificar” as suas personagens, levá-las ao Céu por segundos para as jogar a seguir num Inferno sem fim – e assim se conquista, pela lágrima e pelo grito, a nossa comoção. Spike Lee, por seu turno, combate fogo com fogo. É agressivo – e por vezes implacável – a atacar o assunto do racismo – fá-lo implodir por dentro, na sua própria retórica. Face a tudo isto, como podemos situar Loving (Loving – Uma História de Amor, 2016), um direct-to-DVD recente no nosso mercado?

Loving é um filme mais sereno e comedido do que é habitual dentro deste género de filmes-discurso-bandeira sobre a intolerância e o racismo. Contudo, porque há sempre um “contudo”, também não deixa de manobrar as nossas expectativas ou instrumentalizar o nosso amor às personagens – já lá vamos. A história do casal multirracial Loving, perseguido na Virginia por perturbar as ordens de Deus – que nos fez diferentes na aparência para vivermos separados -, é contada com a sobriedade característica do toque de Jeff Nichols [veja-se ou reveja-se, acima de tudo, Shotgun Stories (Histórias de Caçadeiras, 2007) e Mud (Fuga, 2012)]. Esta sobriedade ganha corpo, mais do que nas imagens carregadas do calor (das cores) do Sul, nas interpretações fulgurantes de Joel Edgerton e Ruth Negga (valeu-lhe uma nomeação para o Óscar) no papel do casal Richard e Mildred Loving. Como conta Nick Kroll num documentário sobre o filme – presente na edição portuguesa em DVD -, a sua personagem, o advogado Bernie Cohen, que irá levar o caso dos Loving ao Supremo Tribunal e com isso acabar com a lei que proibia o casamento multirracial, fala mais nos primeiros minutos em que aparece do que Richard Loving em todo o filme. Com efeito, Edgerton dá uma magistral lição de contenção dramática: no seu rosto desenha-se a verdadeira paisagem do filme. O mesmo, de facto, acontece com Negga. Aliás, o filme podia ser contado através do seu fácies, que começa reservado e receoso e progressivamente se vai transformando. O momento eufórico do filme é revelado num sorriso ligeiro que ilumina o seu rosto permanecido tantos anos em cativeiro emocional. Nichols mostra aqui que era o cineasta certo para filmar esta história.

O momento mais belo do filme é, para mim, aquele em que entra em cena o actor-fetiche de Jeff Nichols, aquele actor que acaba por ser a principal marca da sua assinatura, do seu toque. Dir-se-ia à partida que, comparativamente, Michael Shannon tem aqui um papel menor enquanto Grey Villet, o fotógrafo da Life que foi a casa dos Loving para documentar o seu amor. É verdade que a presença de Shannon ocupa apenas uma sequência do filme e que isso é pouco quando comparado com os papéis que lhe couberam nos filmes anteriores de Nichols. Contudo, arrisco dizer que nunca Shannon esteve tão brilhante. Ele irrompe filme adentro com a leveza cómica, sentido de liberdade e energia aventureira próprias de alguém que viveu a vida até ao máximo – foi, de facto, assim com o fotógrafo e “homem do mundo” Grey Villet desde a sua primeira fotografia vendida à Life, Pigeon man. A suicide’s view of 5th avenue. A história desta foto é contada à mesa dos Loving e aí vemos – penso que pela primeira vez – Richard Loving a rir. Shannon traz esta aragem de liberdade e alegria ao filme. É uma aparição curta, mas inesquecível.

O amor dos Loving é silencioso, profundo e sincero. O filme está à altura dele.

Loving evidencia o amor às personagens que tão bem caracteriza o cinema de Jeff Nichols. Mas este amor é partilhado bem por dentro. Este retrato sobre um tempo de injustiça e intolerância é também o mais romântico filme de Nichols. Como ele próprio assume, o fulcro aqui é a relação entre Richard e Mildred. Por isso, a câmara concentra-se nela – foge aos clichés do filme-discurso-bandeira sobre o racismo na América sulista, nomeadamente quando evita sobredramatizar a história do casal ou encerrá-la nas quatro paredes de um courtroom drama. Nichols privilegia o silêncio compreensivo e humano que habita os momentos de ternura, de dúvida, de dor ou de ansiedade. O amor dos Loving é silencioso, profundo e sincero. O filme está à altura dele. E só isso faz dele – também fruto do tal trabalho impecável dos actores – dos maiores feitos do jovem realizador americano.

O que mancha este retrato prende-se com o que escrevi no início desta crítica: por muito que procure libertar-se dela, a tentação para a chantagem emocional existe. A sequência do acidente de um dos filhos do casal é disso exemplo. Uma montagem alternada, entre Richard Loving enquanto trabalha nas obras e o filho a brincar na rua, vai alimentar em nós, espectadores, a expectativa de uma tragédia que ameaça rebentar em qualquer um desses espaços – ia escrever “em qualquer um desses tempos”. A estética de Nichols é sussurrante, mas ela não deixa de se apresentar minada pela tentação de, nomeadamente pela montagem, criar um quadro geral de medo e ansiedade (os tempos da tragédia mais convulsa) como quem diz: “assim as coisas vão ser mais picantes” ou “assim o público perceberá melhor ‘a mensagem'”. O amor é a mensagem e seria ainda mais profundamente nele – posso pedir mais? – que Loving deveria mergulhar. Não digo que Nichols devesse omitir a história de perseguição e angústia deste corajoso casal, mas ela não precisa de “estímulos fílmicos”, porque existe em doses suficientes nos rostos de Edgerton e Negga ou até no próprio cenário epocal da Virginia dos anos 50 – o espectador não precisa de mais nada para perceber os riscos que este amor envolve, isto é, o seu pendor trágico. O comedimento natural de Nichols dá-nos sede de um ainda mais elevado comedimento. É o que acontece com o cinema sensível e honesto: dá-nos a esperança de que seria sempre possível tocar ainda mais de perto na vida e nos sentimentos. Apesar de tudo, sim: tinha sido possível.

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2010'sGrey VilletJeff NicholsJoel EdgertonMichael ShannonNick KrollRuth NeggaSpike LeeSteve McQueen

Luís Mendonça

"The great creators, the thinkers, the artists, the scientists, the inventors, stood alone against the men of their time. Every new thought was opposed. Every new invention was denounced. But the men of unborrowed vision went ahead. They fought, they suffered, and they paid - but they won." Howard Roark (Gary Cooper) in The Fountainhead (1949)

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