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Detroit (2017) de Kathryn Bigelow

De Luís Mendonça · Em 14 de Setembro, 2017

É a hora por que Larry (Algee Smith) ansiou toda a sua vida. Está a segundos de subir ao palco acompanhado dos seus comparsas de banda. O conjunto chama-se The Dramatics. O drama vai acontecer, de facto, mas não será naquele palco. Detroit está a arder lá fora. A turba enfurecida não tem reservas a expressar o seu ódio pela autoridade branca, a da classe política e a das forças policiais. A multidão destrói vitrinas, incendeia edifícios e grita por sangue. Larry não chega a estrear-se em palco, porque a casa de espectáculos da Motown tem de ser evacuada. A lei marcial impera e, portanto, o espectáculo “mustn’t go on”.

A história do filme de Bigelow também é um pouco assim: começa por espraiar-se, cobrindo horizontalmente o território da cidade, aqui representado como campo de combate ou paisagem de um western nocturno convulso (carpenteriano?), mas depois o palco muda. Transitamos da rua para um motel, cenário predilecto de um filme de terror. O tempo ganha densidade, verticaliza-se. Somos encerrados num microcosmos. O que se encena aí? O teatro da brutalidade policial que tem como alvo a população negra. Estamos no coração do problema, no centro do furacão – passa-se isto em meados dos anos 60, mas será que hoje, em 2017, já saímos verdadeiramente dele?

A coabitação, entre negros e polícias brancos racistas, é de tal ordem que a certa altura me perguntava se Detroit (2017) não podia ter aberto o passado MOTELX. O terror contamina a atmosfera. Não há divisória naquele motel onde não se sinta a iminência da morte. O vocalista dos The Dramatics foi levado pelo destino até ali. Será apenas uma das várias vítimas de um banho de sangue tão injustificável e insano quanto “compreensível dadas as circunstâncias”. É aqui que o filme Bigelow se torna verdadeiramente perturbador e, até ao fim, inquietante: numa situação de caos, com a paranóia, o medo e a raiva à solta nas ruas, nenhum polícia – muito menos um formado numa cultura que cultiva o ódio racial – está em condições de controlar qualquer situação vivida em tenso confinamento. Já havíamos sentido claustrofobia noutro cenário de guerra montado por Bigelow, desta feita, fora dos Estados Unidos; no campo aberto do Iraque, quando fomos enfiados no fato de protecção do operacional de minas e armadilhas de The Hurt Locker (Estado de Guerra, 2008) – naquele fato, o protagonista interpretado por Jeremy Renner lembrava a imagem de um astronauta perdido no espaço sideral – e no tenebroso “forte” onde Osama Bin Laden foi encontrado morto pela agente especial de Zero Dark Thirty (00:30 A Hora Negra, 2012) – labirinto sinistro onde os militares americanos se movimentam às cegas.

A agitação nem sempre bem temperada da câmara de Bigelow está ali para sublinhar o que não muda: a incompreensão e desorientação de quem não entende sequer a razão de ser do racismo.

Em Detroit também somos enfiados num fato de astronauta. Não literalmente, mas pelo e no rosto de Dismukes, o segurança interpretado por John Boyega – sabemos desde, pelo menos, Strange Days (Estranhos Prazeres, 1995) como Bigelow gosta de canalizar, e por vezes confrontar, a subjectividade do espectador no próprio tecido dramático. Boyega dá rosto a tudo o que se passa no motel. É ele o nosso farol. O primeiro dos espectadores é também das personagens que menos falam. A sua mudez sinaliza impotência – a nossa, na sala escura, procurando “às cegas” um sentido em tudo aquilo? Também. Da mesma maneira, o atordoamento é da mesma estirpe daquele que vivêramos antes, em The Hurt Locker e Zero Dark Thirty. O labirinto tenebroso não é o da residência do homem-mito mais procurado do planeta, mas é o do motel, onde se constrói o cerco dramático que vai apertando – e estrangulando – as personagens e nós com(o) elas. A câmara de Bigelow é nervosa, documental, imersiva. E não perdoa.

A lei marcial em Detroit é como a tempestade processual ou burocrática que rodeava Jessica Chastain em Zero Dark Thirty. Chastain era também a primeira espectadora nesse filme, uma flor rubra e delicada no meio de um deserto escuro (o da administração política e técnica da guerra). O rosto de Chastain, monumentalmente capturado no último plano, é aí o grande contra-campo estético e moral do lado mais escondido (que está para lá da mais vulgar maquilhagem político-mediática) da guerra contra o terrorismo – em Blue Steal (Aço Azul, 1989) Bigelow fazia confluir a história de um assédio brutal à mulher polícia Jamie Lee Curtis (eu sabia que ia conseguir citar mais uma vez Carpenter) numa imagem final do seu rosto à deriva, contemplando o vazio. Não era alívio, era (ainda) atordoamento. Um atordoamento de aço. Podíamos dizer o mesmo sobre Boyega face à injustiça e brutalidade dos polícias brancos. Tudo passa – e é dramaticamente filtrado – por ele. Mesmo quando a câmara não o está a filmar.

A imobilidade, e putativa impotência, de Boyega estilhaça qualquer necessidade retórica – pena que o filme ceda um pouco a esta no fim. Mesmo quando o filme sai do motel – e, de facto, perde brilho nas cenas de tribunal -, este não deixa totalmente o perímetro do rosto de Boyega. Na realidade, é por ele e nele que nos é dada a possibilidade de assistir ao verdadeiro julgamento, isto é, a tudo aquilo que o falso julgamento não nos dá: um sentido de justiça, uma prova arrebatadora de humanidade. A agitação nem sempre bem temperada da câmara de Bigelow – que convenciona um olhar documental no seio de uma robustíssima ficção – está ali para sublinhar o que não muda: a incompreensão e desorientação de quem não entende sequer a razão de ser do racismo. O polícia branco, racista e homicida, tem razão no que diz à saída do julgamento: o homem encarnado por Boyega é sólido. Da mesma forma, a humanidade da câmara de Bigelow não se verga, porque tem nos seus homens o seu alicerce ético – é muito walshiana nesse sentido. Esta mulher de armas conhece e dá a conhecer os seus homens na superfície do seu rosto, muito para lá – ou, na realidade, aquém – da cor de pele, do credo, do género ou do estrato social. Sólido humanismo em tempos incertos e atordoantes.

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Luís Mendonça

"The great creators, the thinkers, the artists, the scientists, the inventors, stood alone against the men of their time. Every new thought was opposed. Every new invention was denounced. But the men of unborrowed vision went ahead. They fought, they suffered, and they paid - but they won." Howard Roark (Gary Cooper) in The Fountainhead (1949)

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