O Close-up – Observatório do Cinema começou o ano passado em Famalicão e o À pala de Walsh deu, na altura, destaque através de um foco na programação e de uma entrevista ao director do certame, Vítor Ribeiro – aquando da sequela primaveril. Chega agora a segunda edição da mostra cinematográfica e desta vez o À pala de Walsh está mergulhado no evento: estarão presentes vários dos seus colaboradores com o intuito de comentar, introduzir e discutir vários dos filmes programados. São eles, Carlos Alberto Carrilho, Carlos Natálio, Francisco Noronha, Luís Mendonça e, eu, Ricardo Vieira Lisboa. Em jeito de antecipação e na forma de guia indisciplinado para um “festival” que recusa esse nome, destaco alguns dos filmes que passarão na Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão entre 14 e 21 de Outubro. Para isso recorro ao já significativo arquivo do site redireccionado-vos, leitores, para as mais recônditas publicações destes mais de cinco anos de intensa actividade. Boa viagem.
Sábado, 14 Out.
Longe (2016) de José Oliveira — 18h00 — Pequeno Auditório — “Sabes que o cinema que mais gosto é o americano clássico, Hollywood, o cinema de aventuras… Mesmo este Longe, (…) para mim é como se eu estivesse a fazer um filme do universo do Raoul Walsh.” — excerto da entrevista de Carlos Natálio ao realizador.
Volta à Terra (2014) de João Pedro Plácido — 18h00 — Pequeno Auditório — “Volta à Terra tem esse cuidado por nunca enveredar na etnografia, nem, por outro lado, na idealização de um espaço de perfeita harmonia campestre. Plácido, acima de tudo, filma pessoas e são elas que lhe dão o melhor que o seu filme tem.” — excerto da crítica de Ricardo Vieira Lisboa.
O Espectador Espantado (2016) de Edgar Pêra — 23h00 — Grande Auditório — “O Espectador Espantado que procura a síntese da minha pesquisa.” — excerto da entrevista de Ricardo Vieira Lisboa ao realizador.
Domingo, 15 Out.
Nostalghia (1983) de Andrei Tarkovsky — 15h00 — Pequeno Auditório — “é um filme sobre esse sentimento, essa espera pelo regresso à nossa terra.” — excerto da entrevista de Francisco Noronha a Layla Alexander-Garrett, colaboradora de Andrei Tarkovsky.
O Dia do Meu Casamento (2016) de Anabela Moreira e João Canijo — 18h00 — Pequeno Auditório — “Se o tema do filme, um diário intimista e familiar de um dia de casamento é universal, o grande mérito do filme é a sua composição cénica.” — excerto da cobertura do Festival de Vila do Conde por João Araújo.
Terceiro Andar (2016) de Luciana Fina — 18h00 — Pequeno Auditório — “Terceiro Andar reflecte afinal sobre a distância entre amar e falar de amor.” — excerto da crítica de Ricardo Vieira Lisboa.
Segunda-feira, 16 Out.
El espíritu de la colmena (1973) de Víctor Erice — 10h00 e 15h00 — Pequeno Auditório —”São sobretudo as crianças que vão ao cinema e que ficam estarrecidas com essa audácia prometeica do homem: criar vida humana.” — excerto da crítica de Carlos Natálio.
David Lynch: The Art Life (2016) de Jon Nguyen, Olivia Neergaard-Holm e Rick Barnes — 18h30 — Pequeno Auditório — “A maior singularidade do filme é fazer-se qual ramerame psicanalítico que, pelo condão da fadiga, nos emerge no modo de pensar lynchiano.” — excerto da crítica de Ricardo Vieira Lisboa.
Twin Peaks: Fire Walk with Me (1992) de David Lynch — 21h45 — Grande Auditório — “os vestígios de camp e kitsch atingem em Twin Peaks: Fire Walk with Me níveis que mais nenhum filme da sua obra poderá ter o orgulho em exibir.” — excerto da crónica de Tiago Ribeiro.
Terça-feira, 17 Out.
Modern Times (1936) de Charles Chaplin — 10h00 e 15h00 — Grande Auditório — “A facilidade com que Chaplin chegava a países e culturas diferentes, levá-lo-ia imaginar o nascimento de uma linguagem universal que criaria, por via do mimetismo, um horizonte onde as pessoas poderiam suportar, com menos sofrimento e confusão, todas as violências que a modernização lhes impunha.” — excerto do ensaio de José Marmeleira sobre Charlie Chaplin.
Eldorado XXI (2016) de Salomé Lamas — 18h30 — Pequeno Auditório — “Salomé Lamas recorda-nos da nossa posição enquanto espectadores do mundo, sempre a criar as nossas paraficções a partir daquilo que são as nossas percepções (lacunares) do real.” — excerto da crítica de Ricardo Vieira Lisboa.
Plemya (2014) de Myroslav Slaboshpytskyi — 22h00 — Pequeno Auditório — “Plemya tem a qualidade intemporal que mantém actualidade enquanto metáfora das tensões da sociedade ucraniana, tragicamente em busca de um estilhaçado projecto europeu.” — excerto da crítica de Carlos Alberto Carrilho.
Quarta-feira, 18 Out.
American Honey (2016) de Andrea Arnold — 21h45 — Grande Auditório — “Sentimos nos jovens que percorrem os estados do sul, vendendo revistas num esquema aparentemente trapaceiro, ao som de Rihanna um efeito de mimésis com algum do cinema de Harmony Korine e a plongés poéticos sobre os insectos remetem para os (últimos) filmes de Terrence Malick.” — excerto da cobertura do LEFFEST 2016 por Ricardo Vieira Lisboa.
A Vingança de Uma Mulher (2012) de Rita Azevedo Gomes — 22h00 — Pequeno Auditório — “Rita Azevedo Gomes faz então o mais difícil, filma uma actriz em estado de graça, apercebendo-se do milagre que lhe vai passando na frente da câmara, mas sem que com isso se intimide de filmar com proporcional encanto e destreza.” — excerto da crítica de Ricardo Vieira Lisboa.
Quinta-feira, 19 Out.
Pronto, era assim (2015) de Patrícia Rodrigues e Joana Nogueira — 15h00 — Grande Auditório —”A força do filme de Patrícia Rodrigues e Joana Nogueira encontra-se no genuíno dos depoimentos que são muitas vezes capazes de provocar tanto enormes gargalhadas como um certo estremecimento.” — excerto da antevisão do Olhares do Mediterrâneo 2016 por Ricardo Vieira Lisboa.
Penúmbria (2016) de Eduardo Brito — 21h45 — Grande Auditório — “O dispositivo é simples – texto sobre imagem – mas há um tema – e um temor – maior, e complexo, que atravessa toda esta distopia portuguesa: o despovoamento do país. O filme poético é, afinal, um filme politicamente contundente.” — excerto da cobertura do Festival de Vila do Conde por Luís Mendonça.
Sexta-feira, 20 Out.
O Rio do Ouro (1998) de Paulo Rocha — 10h00 — Grande Auditório — “há um qualquer feitiço que se apega a nós desde muito cedo, por cantorias com rimas proféticas e correntes fantasmagóricas tanto de ouro como no Douro.” — excerto da sopa de João Palhares.
La rançon de la gloire (2014) de Xavier Beauvois — 15h00 — Pequeno Auditório — “Beauvois é um racionalista a fazer-se passar por alegórico e este seu filme é o objecto travestido que resulta desse intento: uma versão ultra-pasteurizada do pathos em ponto de rebuçado das mãos sabedoras de Chaplin – o grande confeiteiro do cinema.” — excerto da crítica de Ricardo Vieira Lisboa.
Um fim do mundo (2013) de Pedro Pinho — 22h00 — Pequeno Auditório — “O poder cândido de Um fim do mundo está no modo como subtilmente expõe as desigualdades sociais que retrata e, simultaneamente, desdenha o dito realismo social.” — excerto da crítica de Ricardo Vieira Lisboa.
Cama de Gato (2013) de Filipa Reis e João Miller Guerra — 22h00 — Pequeno Auditório — “Cama de Gato parte da experiência concreta da sua protagonista para construir um percurso ficcional que a prolonga e dramatiza, uma docu-ficção que se propaga depois a outros filmes da dupla Reis-Guerra.” — excerto da crítica de Ricardo Vieira Lisboa.
Gimme Danger (2016) de Jim Jarmusch — 00h00 — Café-Concerto — “Os epilépticos movimentos de possessão do homem-caos que é Iggy Pop já eram, de certa forma, cinema.” — excerto da crítica de Carlos Natálio.
Sábado, 21 Out.
Lo and Behold, Reveries of the Connected World (2016) de Werner Herzog — 18h00 — Grande Auditório — “Estruturado em 10 capítulos, o filme afirma-se como uma espécie de manual de introdução ao estudo das tecnologias digitais por alguém cuja curiosidade é movida por um misto de fascínio e de receio.” — excerto da crítica de Carlos Natálio.
Stop Making Sense (1984) de Jonathan Demme — 23h15 — Café-Concerto — “O que interessa está muito além das potencialidades das imagens em movimento: a fisicalidade de um artista em estado de graça. Um reboliço emocional ontologicamente anti-cinematográfico.” — excerto do comprimido de Ricardo Vieira Lisboa.
Três curtas-metragens de Reinaldo Ferreira — 21h30 — Grande Auditório — Filme-concerto pelos Dead Combo — “O toques e as festas que com elas damos são a manifestação da existência do outro e (pelo menos) a demonstração do nosso reconhecimento disso mesmo.” — excerto do texto que acompanha o vídeo-ensaio de Ricardo Vieira Lisboa sobre Rita ou Rito?… (1927).
***
A propósito das quatro longas-metragens de Wim Wenders exibidas ao longo do certame recomendo a crónica de Francisco Norinha, A revolta de Bruno Ganz, e o still roubado ao ex-walshiano Francisco Valente.