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Críticas, Em Sala 0

Porto (2016) de Gabe Klinger

De Luís Mendonça · Em 19 de Outubro, 2017

One time, Baby
One time
One time
One time
One time
One more time
One more

John Lee Hooker, Shake It Baby

“Cada filme de Eustache é um desafio, uma torção particular do tempo. Não por vontade de provocar ou experimentar a todo o custo, mas porque o seu assunto fundamental é a repetição.” Serge Daney escrevia estas palavras nos Cahiers du cinéma em 1978. Reconduzo o que o crítico francês disse a propósito do realizador de La maman et la putain (A Mãe e a Puta, 1973) para este Porto (2016), primeira ficção assinada pelo crítico brasileiro radicado nos Estado Unidos Gabe Klinger. A referência mais evidente a Eustache salta à vista nos créditos de abertura, quando é assinalada a participação especial de Françoise Lebrun no elenco. No citado filme de Eustache, Lebrun é um misto de anjo e de puta, um poço de desejo e de candura. Ela é o inferno e o paraíso, ao mesmo tempo. A personagem interpretada por Jean-Pierre Léaud cai nas malhas desta “economista libidinal” difícil de descodificar. Por seu lado, o filme de Gabe Klinger também fala do amor como um registo neurótico, flutuante, imprevisível. Fá-lo mergulhando-o num mar agitado de imagens – capturadas em diferentes suportes (Super 8, 16mm e 35mm). Mas também fá-lo a partir de dentro, no universo das personagens. Porque este é um boy meets girl atormentado por uma ideia frustrada de futuro e por uma intensa vontade de perpetuar a fugaz felicidade do instante. O portentoso instante da paixão não passará, contudo, de sinalizar o mais lancinante “fogo fátuo”.

Na conversa que tive com o realizador a propósito do documentário Double Play: James Benning and Richard Linklater (Jogo Duplo: James Benning e Richard Linklater, 2013), longa-metragem que deu a conhecer ao público português uma amizade (improvável?) entre Richard Linklater e James Benning, este explicou-me assim “o conceito” por trás desse filme ainda em produção que iria ter no papel principal o entretanto falecido Anton Yelchin: “É uma história de amor, amor de perdição sem referência ao filme do Oliveira (risos). Vai ser filmado em Super 8, 16mm e 35mm. É a mesma história filmada três vezes, em três espaços de tempo diferentes. A primeira parte, em Super 8, conta a vida inteira das personagens, começo até ao final. A segunda parte, em 16mm, conta o primeiro encontro das personagens e depois a separação deles e depois o reencontro. E depois a parte final do filme, em 35mm, dura uma hora e é só uma noite na vida das personagens. Também é um trabalho sobre o tempo…” Dificilmente encontraríamos melhor descrição do que é Porto. Talvez precisemos apenas de temperar estas palavras com as ideias de Serge Daney que acima invoquei. De facto, o princípio formal ao qual os acontecimentos deste amor funesto obedecem é o da torção do tempo ou o da repetição.

Este boy meets girl versa precisamente sobre a dificuldade em ser-se um, em estar-se a dois e a violência da entrada em cena do “terceiro elemento” que faz a chama apagar e o mundo voltar a ser mundo.

É “também um trabalho sobre o tempo” ou é fundamentalmente um retrato sobre a erosiva relação do amor com a sua possibilidade futura? Porto fala-nos de um amor preso no tempo, isto é, tanto a um “nostálgico” passado quanto a um desejado, mas imaterializado/imaterializável, futuro. A cada ideia de tempo corresponde uma sensação especial vertida na própria textura da imagem (são os tais formatos que conferem a rugosidade que cada momento na vida das personagens pede). O filme revolve-se por dentro, as imagens encadeiam-se em um, dois e três momentos. Um mais um nem sempre é igual a dois. Este boy meets girl versa precisamente sobre a dificuldade em ser-se um, em estar-se a dois e a violência da entrada em cena do “terceiro elemento” que faz a chama apagar e o mundo voltar a ser mundo. A personagem de Yelchin busca a felicidade na cidade do Porto, não vive para o trabalho, vive à procura de qualquer coisa. Ficamos a saber isto numa conversa à mesa que abre o filme. O tempo avança, recua, “anda às voltas”, mas essa conversa vai repetir-se e, com isso, vamos sabendo mais um bocadinho acerca das motivações das personagens. Nos intervalos de uma paixão intensa, desencadeada por uma troca de olhares elegantemente filmada no magnífico Café Ceuta, há uma história de neurose que vai promover o “split” (“pareces outra pessoa”, diz algures no futuro a personagem de Yelchin a esta mulher que tão intensamente o ensinou a amar “sem sequer tentar” e a ser feliz “pela primeira vez”).

As torções do tempo, os “jogos de amor e engate”, o discurso sobre o desejo e o sexo (mais mostrado do que falado, neste caso, e, nesse sentido, pouco próximo de Eustache), são marcas de um cinema que vai beber a vários lados ao mesmo tempo. Uma dispersão de referências que se inscreve não só nos créditos do filme (já falei de Lebrun e Eustache, mas falta referir o papel de produtor executivo atribuído a Jim Jarmusch e os agradecimentos endereçados a realizadores como Chantal Akerman, Manoel de Oliveira, Rafi Pitts e outros). Com efeito, Porto está ainda a beber do double play convocado na obra inaugural de Klinger. Mais Richard Linklater, naturalmente, que James Benning. Este é um filme que deve o seu “trabalho sobre o tempo” a títulos como os da “trilogia Before” e a atenção às texturas da imagem remeteram-me muito para o pouco visto primeiro fruto na realização de Linklater, It’s Impossible to Learn to Plow by Reading Books (1988). Parece-me, aliás, que a personagem interpretada pelo próprio Linklater nessa sua obra de estreia comunica intimamente com esta narrativa da perdição instaurada no e pelo coração/corpo de Yelchin, ele que ruma sem fito pelas ruas do Porto. Enfim, as referências “de crítico” são boas e estão todas aqui, bem atendidas. O problema radica nos riscos corridos em transformar esta história de amor num puro exercício cinéfilo.

Só a espaços Porto escapa ao gestus cinéfilo ou teorizador, o que para um filme que fala de paixões intensas “de uma noite só” acaba por ser meio caminho andado para provocar uma muito indesejada distância no espectador. A simplicidade teria sido boa conselheira numa primeira obra que quer tratar assuntos anacrónicos (o amor funesto) de uma maneira mais trendy. O embrulho acaba por ser mais interessante que o conteúdo, ofuscando-o a ponto de o amor passar a constituir-se como ornamento para uma tese elaborada sobre o tempo e sobre a montagem. Nesse sentido, foi curioso verificar que na citada entrevista Klinger tenha colocado a ênfase nas opções estilísticas e na estruturação da história. Elas acabam por roubar protagonismo às personagens e estreitar as implicações metafísicas desse seu amour fou. Em suma, a vida contida no filme acaba por sair fragilizada da torrente de ideias e caras referências reverencialmente tratadas. A certa altura, Yelchin fala com a amada interpretada por Lucie Lucas sobre a dificuldade de guardar o momento ou, interpreto, a capacidade de perpetuar as noites e dias felizes. O mesmo se passa com Porto, filme de onde se sai com a sensação de que uma aragem bonitinha e levemente desafiante nos passou pelo espírito. Isso e pouco mais que isso.

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Luís Mendonça

"The great creators, the thinkers, the artists, the scientists, the inventors, stood alone against the men of their time. Every new thought was opposed. Every new invention was denounced. But the men of unborrowed vision went ahead. They fought, they suffered, and they paid - but they won." Howard Roark (Gary Cooper) in The Fountainhead (1949)

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