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Lucky (2017) de John Carroll Lynch

De Sabrina D. Marques · Em 30 de Novembro, 2017

É mais pobre a experiência de ver Lucky (2017) sem ver também Harry Dean Stanton: Partly Fiction (2012). O primeiro é o título da primeira longa assinada pelo actor-feito-realizador John Carroll Lynch, em 2017, e que estreia agora nas salas portuguesas. O segundo é o belo documentário biográfico onde, em 2012, Sophie Huber acompanhou Stanton e que serviu de óbvio decalque para os argumentistas Logan Sparks e Drago Sumonja que, amigos de Stanton, construíram com a proximidade da ficção, a justa homenagem que percebe como, desde sempre, Harry Dean plays Harry Dean. O actor de culto que, em 2017, nos deixou aos 91 anos, foi a sua derradeira personagem: ‘‘I used to go out, and drink and look for women. (…) It’s all a movie like this conversation.’’

Lucky (2017) de John Carroll Lynch

Se Lucky é uma muito contemporânea e refrescante espécie de western zen, Harry Dean chega-nos, em pele de Lucky, como um cowboy ateu em meditação que, a jeito de lição, tem para partilhar o seu próprio exemplo. Aos 90 anos, preserva o mesmo espírito indomável e vence a banalidade da cidadela desértica com um quotidiano ordenado por irredutível liberdade. Há uma dureza impenetrável naquele rosto seco e silencioso, onde reina a independência de quem, em geral, se está tranquilamente a borrifar para tudo. Apesar do corpo a dar de si pela idade, magro e frágil, ainda assim o solteirão Lucky, como o próprio Harry Dean, mantém cada hábito e cada dito, sempre respirando essa coolness que, em sardónica resposta-pronta, põe qualquer marlboro man a um canto. O pub é o seu saloon mas, contra a contemporânea quadradice de já não se poder fumar onde se bebe, este cowboy pós-americano prefere trautear as mágoas ao ar livre, entre guitarras e mariachis, declarando, seguro de si, que o novo John Wayne nasceu Juan Wayne. E exemplarmente se responde assim à América trumpista e ao neo-racismo com ideações de muros, ganhando distância do conflito a preto-e-branco dos westerns de ontem e cantando a riqueza mesclada da sociedade americana de hoje. Mas, apesar da actualidade da narrativa, esta comédia negra em fundo anárquico está à medida de Harry Dean, numa simplicidade entre gags que funciona como celebração prática da Appreciation of Nothing, nome do clube de fãs de Stanton e ‘‘religião’’ da qual este é fundador-praticante. Com a sua rigidez desértica em tons quentes e ”samplagens” de Ford, esta homenagem ao western faz-se subtil canção de despedida, de olhar repousado no horizonte.  O conflito dá-se entre firmezas e angústias e cigarros incessantes e, se o lugar tem vistas para o existencialismo, tanto Lucky como Harry Dean poderiam responder directamente ao Sartre d’O Ser e o Nada: “Quando, alguma vez, a liberdade irrompe numa alma humana, os deuses deixam de poder seja o que for contra esse homem.”

 Vedeta sem vedetismos, Harry Dean Stanton soube viver à margem, mantendo-se ao redor dos holofotes. 

David Lynch, com quem Harry Dean colaborou em mais de oito projectos, surge nos dois filmes. Em Lucky, enverga um perfeito fato lynchiano de surrealismo e absurdo: Harold é um velho companheiro que perdeu a tartaruga centenária e que está disposto a deixar-lhe a herança, mesmo se assumindo que seja hora da President Roosevelt partir para ver o mundo. À jornada da tartaruga corresponde a ignição da dúvida em Lucky: o que se faz, às portas do fim, senão dar caminho ao caminho? Em Partly Fiction, o realizador de todas as estranhezas está sentado no sofá e, com um roteiro de perguntas no colo e Dean ao lado, desenrola aquela inquisitiva chávena-de-café: “Como te descreverias a ti próprio?”, e o actor responde: “Como nada, não há eu-próprio.” Riem-se e Lynch volta a questionar: “Como é que gostarias de ser lembrado?” A resposta pronta é: “Não importa.” Segue-se o silêncio costumeiro, que recorda outro momento guardado por Partly Fiction: um fiel camarada de copos a sublinhar como Stanton, que pouco fala, é um autêntico filósofo da vida e que, em especial, lhe recorda um ensinamento de outras noites: ‘‘a amizade é essencial à alma.’’ Voltaríamos a ouvir esta frase em Lucky – um dos últimos títulos a contar com Stanton no elenco – dita defronte de um habitual bloody mary, ao balcão do bar de sempre.

Padrinho de casamento de Jack Nicholson, colega de casa de Sam Shepard, amigo de Blondie, etc, Harry Dean Stanton contracenou com os maiores e manteve várias colaborações regulares, somando mais de 236 participações em cinema ou televisão. Iniciou-se em 1956 com um pequeno papel, não creditado, no The Wrong Man (O Falso Culpado, 1956) de Alfred Hitchcock tendo, ao longo dos 60 anos seguintes, firmado o seu nome junto de realizadores como Ridley Scott [Alien (Alien – O 8.º Passageiro, 1979)], John Carpenter [Fuga de Nova Iorque (Nova Iorque 1997, 1981), Christine (Christine: O Carro Assassino, 1983)], Francis Ford Coppola [One from the Heart (Do Fundo do Coração, 1981)], Martin Scorsese [The Last Temptation of Christ (A Última Tentação de Cristo, 1988)], David Lynch [Wild at Heart (Um Coração Selvagem, 1990), The Straight Story (Uma História Simples, 1999) e Twin Peaks], Arthur Penn [The Missouri Breaks (Duelo no Missouri , 1976)], John Milius [Dillinger (1973), Red Dawn (Amanhecer Violento, 1984)], Bob Dylan [Renaldo and Clara (Renaldo e Clara, 1978)], Alex Cox [Repo Man (O Clandestino, 1984)], Sam Peckinpah [Pat Garrett and Billy the Kid (Duelo na poeira, 1973)], John Huston [Wise Blood (Sangue Selvagem, 1979)] ou Monte Hellman [Ride in the Whirwind (O Furacão, 1966), Cockfighter (1974), Two Lane Blacktop (A Estrada Não Tem Fim, 1971)]. Mas foi com Wim Wenders, no inesquecível Paris, Texas (1984) que Harry Dean Stanton, num raro papel protagonista, deu corpo pleno a Travis, um pai amnésico, perdido e calejado por faltas. Uma intensidade que lhe valeu a Palma de Ouro do Festival de Cannes de 1984 e que, em nós, ficará gravada do outro lado de um vidro, todo ele frágil e sem saber se fala ou não fala, se fica ou se vai embora.

Vedeta sem vedetismos, Harry Dean Stanton soube viver à margem, mantendo-se ao redor dos holofotes e dando poucas entrevistas, mas constantemente repetindo como um mantra: ‘‘do nothing’’. Em Lucky, o Harry Dean dos anti-heróis, dos losers e das icónicas personagens em ponto de ser-sem-ser, volta a curar-nos da metafísica: em contagem decrescente, haverá maior reinar sobre a realidade do que regar cactos em cuecas?

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Sabrina D. Marques

''Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.'' Fernando Pessoa (Tabacaria)

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