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À pala de Walsh
Em Foco, Melhores do Ano 1

Os melhores filmes de 2017

De À pala de Walsh · Em 17 de Dezembro, 2017

1.º La mort de Louis XIV (A Morte de Luís XIV, 2016) de Albert Serra – 56 pontos; 2.º Paterson (2016) de Jim Jarmusch – 49 pontos; 3.º The Lost City of Z (A Cidade Perdida de Z, 2017) de James Gray – 42 pontos; 4.º A Fábrica de Nada (2017) de Pedro Pinho – 41 pontos; 5.º Good Time (2017) de Benny Safdie e Joshua Safdie – 37 pontos; 6.º Little Men (Homenzinhos, 2016) de Ira Sachs – 35 pontos; 7.º Geu-Hu (O Dia Seguinte) de Hong Song-soo – 34 pontos; 8.º Toivon tuolla puolen (O Outro Lado da Esperança, 2017) de Aki Kaurismäki – 25 pontos; 9.º Aquarius (2016) de Kleber Mendonça Filho – 25 pontos; 10.º Ma Loute (2016) de Bruno Dumont – 24 pontos.

Este ano mudámos as regras do top: não houve espaço para ex aequos. Temos, portanto, pela primeira vez desde que há À pala de Walsh, exactamente dez filmes no(s) nosso(s) top(s). Este top 10 final espelha a diversidade de proveniências do grande cinema: 4 filmes norte-americanos, 4 europeus, 1 asiático e 1 sul-americano. Destes, temos de destacar, desde logo, o mais votado dos filmes deste ano: La mort de Louis XIV de Albert Serra. Esta obra, de co-produção portuguesa (pela Rosa Filmes), foi por três vezes eleita, entre os nossos walshianos, a melhor de 2017. A passagem do filme de Albert Serra não se ficou pelas salas de cinema, tendo chegado a Portugal também sob a forma de performance e exposição em galeria. Recordamos ainda que, aquando da exibição do filme anterior de Albert Serra, Història de la meva mort (História da Minha Morte, 2013), o À pala de Walsh publicou uma picante entrevista. Por falar em regressos acarinhados, Jim Jarmusch volta ao top do À pala de Walsh, depois de em 2014 ter chegado ao quarto lugar com Only Lovers Left Alive (Só os Amantes Sobrevivem, 2013). Paterson chega ao segundo lugar, mas não é o único filme norte-americano desta lista, nem tão-pouco o único repetente: James Gray, que nesse ano de 2014 ficara em segundo lugar por causa de The Immigrant (A Emigrante, 2013), coloca The Lost City of Z em terceiro lugar. Nesse filme, ganhou relevo a interpretação de Robert Pattinson.

Terá sido Robert Pattinson o actor do ano? É que também ele protagoniza Good Time, a mais recente obra dos irmãos Safdie, a primeira da dupla a estrear-se comercialmente em Portugal desde que há À pala de Walsh – entrevistámos os irmãos em 2014 a propósito de um filme seu que nunca se chegou a estrear comercialmente por cá. Ira Sachs e o seu delicado drama Little Men é o último filme norte-americano da lista. A Europa, na nossa lista, fala menos francês do que em anos anteriores. O mapa diversifica-se: para lá do primeiro lugar, espanhol/catalão, temos um filme português em lugar de respeito – A Fábrica de Nada ocupa o quarto lugar -, um filme finlandês – Aki Kaurismäki com Toivon tuolla puolen está em oitavo lugar, depois de com Le Havre (2011) ter chegado ao segundo lugar no nosso top 2012 -, um, apenas um, filme francês – Bruno Dumont com Ma Loute que ocupa o décimo lugar. Por fim, o sul-coreano Hong Sang-soo, o único realizador que teve dois filmes em posições cimeiras nos nossos tops (no ano passado e em 2013), chega ao sétimo lugar com Geu-Hu. E destaca-se outro realizador querido deste site: Aquarius do brasileiro Kleber Mendonça Filho, com porventura a actriz do ano, Sónia Braga, fica em nono lugar.

  1. La mort de Louis XIV de Albert Serra
  2. Logan (Logan: The Wolverin, 2017) de James Mangold
  3. Lao Shi (Pedra Antiga, 2016) de Johnny Ma
  4. Geu-Hu de Hong Sang-soo
  5. Chez Nous (Esta Terra é Nossa, 2017) de Lucas Belvaux
  6. I Love You, Daddy (2017) de Louis C. K.
  7. Aquarius (2016) de Kleber Mendonça Filho
  8. Toivon tuolla puolen de Aki Kaurismäki
  9. The Lost City of Z de James Gray
  10. Get Out (Foge, 2017) de Jordan Peele
Bernardo Vaz de Castro

La mort de Louiss XIV poderia ser o díptico de Història de la meva mort (História da Minha Morte, 2013), porque é a precisão do tempo cinematográfico que age e transforma a imagem.
Logan é talvez o melhor exemplo de uma vitalidade há muito perdida na indústria americana e que agora parece emergir do sítio onde menos se esperava, nos filmes fantásticos. Um exemplo perfeito onde o rigor da forma não vive cativo de nenhum planeamento repetido e seguro em fórmulas.
Lao Shi, o thriller, de Johnny Ma, é o exemplo por excelência da lição dostoievskiana. É a força do eterno retorno que coloca a história e a imagem em movimento.
Geu-Hu é talvez o filme mais cruel de Hong Sang-soo, porque aquilo que vemos é na verdade aquilo que é. A montagem habitualmente lúdica, onde a imagem nunca é aquilo que é, aqui e no fim, revela-se apenas um lapso de memória e é nesse lapso que o filme nos diz que aquela foi a história.
Chez Nous é talvez o filme deste ano que melhor nos demonstra a necessidade e a importância do cinema reflectir sobre a actualidade. Belvaux consegue uma verdadeira proeza, que é transformar a propaganda política em cinema.
Em I Love You, Daddy, sanear a indústria, deveria requerer em exclusivo punir o seu autor, não a sua obra. Talvez aos moralistas lhes fosse necessário uma boa dose de amoralidade e sentido de humor deste filme.
O filme de Kleber, Aquarius,  é também o filme de Sónia Braga. É actriz que suporta a história e a imagem porque ela está de acordo com os elementos do filme, onde a água é a chave da sua sensualidade e a estrutura do prédio da sua determinação.
Face à bondade de Kaurismäki apenas me recordo de um cineasta semelhante, Renoir. E não é por acaso que invoco Renoir, porque foi o próprio Kaurismäki que em Cannes o citou, sobre a importância do cinema transformar o mundo. O Outro Lado da Esperança é, em bom rigor, o lado do ecrã de cinema.
É certo que The Lost City of Z está enredado nas tramas das diretrizes dos estúdios e dos seus produtores, mas não seria certo dizer que este não lhes escapa com a mesma elegância, formalismo e classicismo com que sempre Gray filmou.
Get Out recupera o subtexto que o cinema de terror tinha, com realizadores como Carpenter ou Romero, e que actualmente se vê despido, porque este preteriu a banalidade do susto ao pensamento.

  1. La mort de Louis XIV (A Morte de Luis XIV, 2016) de Albert Serra
  2. Ma Loute de Bruno Dumont
  3. A Fábrica de Nada (2017) de Pedro Pinho
  4. Little Men (Homenzinhos, 2016) de Ira Sachs
  5. Paterson de Jim Jarmush
  6. Verão Danado (2017) de Pedro Cabeleira
  7. Good Time de Benny Safdie e Josh Safdie
  8. Eldorado XXI (2016) de Salomé Lamas
  9. Lucky (2017) de John Carroll Lynch
  10. Lumière! L’aventure commence (Lumière!, 2016) de Thierry Frémaux
Carlos Natálio

Terminei o balanço do ano passado pedindo que o ano de 2017 fosse pelo menos tão bom como o que então passava. E não é que o sacana me ouviu? Logo na primeira metade de Janeiro estrearam dois filmes que entraram no meu top e de lá não mais saíram. Falo do comovente Little Men de Ira Sachs, em que os meninos brincam lá fora e os adultos guerreiam pelos espaços interiores, as casas, e falo do filme do ano, La mort de Louis XIV. A entrada na maturidade de Serra, o fim de um ícone do cinema moderno, Leáud, o humor na pura obscuridade. Como é difícil esquecer este filme que ainda sussurra Rossellini mas já nos faz confundir o peso com a graça, a leveza com a cor, o fim com um início qualquer. Depois escolhi dois filmes que lutam contra uma ideia qualquer de materialismo como life coaching, obras que trabalham sobre a apologia da simplicidade como filosofia de vida, de quotidiano, de criação. É a poesia de Jarmush em Paterson e as palavras cruzadas, os cactos, os cágados, os sorrisos (para espectador ver) de Harry Dean Stanton em Lucky. Outro par de filmes  de que gostei muito são, por sua vez, construídos sobre a agitação, o excesso, o estar a caminho de algum sítio. É o falso desnorte da dança, do sexo, das festas ejaculatórias de uma juventude portuguesa entre a universidade e o incerto futuro profissional no Verão Danado do Pedro Cabeleira. E é, com esse irónico título, Good Time, o desesperado after hours dos irmãos Safdie, numa tocante e interminável noite em que irmão se sacrifica por irmão.
No topo da minha lista estão também duas implacáveis máquinas de experimentação e de excesso. A primeira pertence a Bruno Dumont, a segunda a Pedro Pinho. No filme francês, Dumont que sempre tentou caçar o milagre e o inatingível, chegou a esta conclusão deliciosa. A diversidade da vida, dos géneros (cinematográficos, físicos) deixam em aberto a conclusão, o acto narrativo, a afirmação da Verdade. Ma Loute é assim burilado com esse tecido de infinitas pequenas verdades, esse mistério permanente, cujas gargalhadas, porcaria, lirismo, terror, canibalismo transformam em surreal pedaço de subtiliza e composição. Por sua vez, A Fábrica de Nada levantou muita espuma cá no burgo: o prémio de Locarno merecia as alvíssaras? E a direita não tinha direito (a discordar)? Mas onde estava o genialidade do “remendo mal-amanhado”? A obra de Pinho fica marcada no topo do cinema nacional de 2017 porque consegue, a meu ver, fazer duas coisas distintas: propor o cinema, a arte, como hipótese de trabalho depois deste agonizar, e porque vai afirmando que o fragmento não serve apenas para contrariar o ordenado, mas é um modo de vida a despontar. Num ano em que se ameaçou expandir a lógica do “cliente tem sempre razão” ao cinema português, e expô-lo à SECA, não havia como não deixar de destacar como brotam os “creatives juices” do nosso cinema, adicionando ainda ao meu top, o último documentário da Salomé Lamas. Eldorado XXI, feito nas minas da Rinconada no Perú. Ainda num ano em que se começou a confundir a vontade de mudança de atitudes erradas com uma caça às bruxas moralista e de varrimento e censura da arte do passado (que podia não ficar bem na lente do presente), resolvi escolher ainda o documentário de restauro de cento e tal curtas dos irmãos Lumière, Lumière! L’aventure commence. Em 1895 a aventura do cinema começou. Mas que dizer dela agora, cento e tal anos volvidos, com o peso de 1001 ideologias, publicidades e puritanismos às suas costas? O que as imagens dos Lumière nos dizem hoje, com toda a sua ingenuidade e ordinarice, é isto: o mundo ainda cá está, só é preciso sacudir o pó do olhar e manter as câmaras à altura do homem e da sua liberdade.
Termino listando apenas filmes que merecem ainda constar entre os melhores de 2017: Geu-hu (O Dia Seguinte, 2017) de Hong Sang-soo;  O Futebol (2015) de Sérgio Oksman; Hymyilevä mies (O Dia mais Feliz na Vida de Olli Mäki, 2016) de Juho Kuosmanen; Toni Erdmann (2016) de Maren Ade; Jackie (2016) de  Pablo Larraín; Rester Vertical (Na Vertical, 2016) de Alain Guiraudie; Detroit (2017) de Kathryn Bigelow; War for the Planet of the Apes (Planeta dos Macacos: A Guerra, 2017) de Matt Reeves; I Am Not Your Negro (Eu Não Sou o Teu Negro, 2016) de Raoul Peck; Logan (2017) de James Mangold; Coelho Mau (2017) de Carlos Conceição; Toivon tuolla puolen (O Outro Lado da Esperança, 2017) de Aki Kaurismäki.
E porque em 2017 também houve mágoa e ranho no nariz. Desilusõezinhas: Split (Fragmentado, 2016) de M. Night Shyamalan; The Lost City of Z (A Cidade Perdida de Z, 2016) ; Get Out (Foge, 2017) de Jordan Peele; Ah-ga-ssi (A Criada, 2016) de Park Chan-wook, Desilusõezonas: Aquarius (2016) de Kleber Mendonça Filho; Mother! (Mãe!, 2017) de Darren Aronofsky.

  1. La mort de Louis XIV de Albert Serra
  2. Toni Erdmann (2016) de Maren Ade
  3. Get Out de Jordan Peele
  4. The Love Witch  (A Feiticeira do Amor, 2016) de Anna Biller
  5. Aquarius de Kleber Mendonça Filho
  6. IT (2017) de Andres Muschietti
  7. Rester Vertical (Na Vertical, 2016) de Alain Guiraudie
  8. The Assignment (A Missão, 2016) de Walter Hill
  9. Ma Loute de Bruno Dumont
  10. Alien: Covenant (2017) de Ridley Scott
Carlos Alberto Carrilho

E ainda: Geu-hu de Hong Sang-soo; Plemya  de Myroslav Slaboshpytskyi [Close-up: Observatório];  Nos Interstícios da Realidade ou o Cinema de António de Macedo de João Monteiro; Paterson de Jim Jarmusch; Split de M. Night Shyamalan; Mother! de Darren Aronofsky; The Lost City of Z de James Gray; I Am Not Your Negro de Raoul Peck; Toivon tuolla puolen de Aki Kaurismäki ; David Lynch – The Art Life de Jon Nguyen, Olivia Neergaard-Holm, Rick Barnes; Ma’ Rosa de Brillante Mendoza; Eshtebak de Mohamed Diab; Annabelle 2 de David F. Sandberg; Dog Eat Dog de Paul Schrader; Detroit de Kathryn Bigelow; Happy Death Day de Christopher Landon; Personal Shopper de Olivier Assayas; The Autopsy of Jane Doe de André Øvredal;  It Comes at Night de Trey Edward Shults.

O pior: Albert Serra [Palácio Pombal]; Centro Histórico de Aki Kaurismäki, Manoel de Oliveira, Pedro Costa, Víctor Erice; 3X3D de Edgar Pêra, Jean-Luc Godard, Peter Greenaway; Colossal de Nacho Vigalondo; Baby Driver de Edgar Wright; Tom of Finland de Dome Karukoski; Grave de Julia Ducournau: Ah-ga-ssi de Park Chan-wook; Dunkirk de Christopher Nolan.

Por outro lado: Twin Peaks de David Lynch; Albert Serra [Cinemateca Portuguesa, Galeria Graça Brandão]; Jeannette, l’enfance de Jeanne d’Arc de Bruno Dumont; O Cinema de Pere Portabella [Cinemateca Portuguesa]; Retrospectiva Věra Chytilová [Cinemateca Portuguesa, doclisboa]; Home de Fien Troch [IndieLisboa]; Ku Qian (2016) e Fang Xiu Ying ambos de Wang Bing [doclisboa]; Hounds of Love de Ben Young [MOTELX]; Super Dark Times de Kevin Phillips; Dangsinjasingwa dangsinui geot e Bamui haebyun-eoseo honja, ambos de Hong Sang-soo; El Invierno de  Emiliano Torres, O Peixe de Jonathas de Andrade [Mostra de Cinemas Ibero-americanos]; Anchiporuno de Sono Sion; Yoru wa mijikashi aruke yo otome de Masaaki Yuasa; Nagai iiwake de Miwa Nishikawa; Chang-ok’s Letter de Shunji Iwai; Umi yori mo mada fukaku de Hirokazu Koreeda.

  1. Paterson (2016) de Jim Jarmusch
  2. Manchester by the Sea (2016) de Kenneth Lonergan
  3. Rester Vertical de Alain Guiraudie
  4. A Fábrica de Nada (2017) de Pedro Pinho
  5. Get Out de Jordan Peele
  6. Moonlight (2016) de Barry Jenkins
  7. Personal Shopper (2016) de Olivier Assayas
  8. Split (2017) de M. Night Shyamalan
  9. Lumière! L’aventure commence (Lumière!, 2016) de Thierry Frémaux
  10. Fátima (2017) de João Canijo
Francisco Noronha

Só me apercebi recentemente: tinha a sensação de que 2017 havia sido um bom ano de cinema, provavelmente pelas muitas e boas estreias que tive oportunidade de ver fora do circuito comercial (festivais, mostras) – ou terá sido, simplesmente, porque vi, no herético ecrã do portátil, uma data de magníficos filmes de outros tempos?… Seja como for, eis que, chegado ao balanço, constato a minha decepção, de tal forma que, pela primeira vez, cheguei a ponderar uma selecção de menos de dez títulos. À medida, porém, que fui contabilizando devidamente as coisas, encontrei dez filmes que, por diferentes vias e com diversas motivações, têm importantes coisas para nos dizer. Ou, pelo menos, para me dizerem a mim – e estas seriações, se forem importantes para alguém, são-no, acima de tudo, para nós próprios, nós que mapeamos grande parte dos nossos afectos, relações e memórias, enfim, que relacionamos aquilo que nos aconteceu durante o ano (durante a vida…) com as imagens que vemos na sala. Não são “os melhores filmes do ano” (isso interessa-me tanto como os livros recomendados pelo Mark Zuckerberg); são os filmes do meu ano.
Como sempre, títulos houve que não pude ver e que, portanto, influem sempre na inofensiva – na verdade, desejada – injustiça destas seriações, casos de The Lost City of Z, Valley of Love ou Voyage à travers le cinéma français, só para dar os exemplos que mais imediatamente me vêm à cabeça.
Trata-se, assim, de dez filmes que, conforme critério definido pelo “conselho editorial”, tiveram estreia comercial nas salas comerciais portuguesas, razão pela qual desde já ressalvo que o melhor filme que vi em 2017 não consta desta seriação: chama-se Qing ting zhi yan (Dragonfly Eyes, 2017) de Xu Bing, estreado e visto em Locarno (escrevi sobre o filme no Jornal de Letras). Outras peças do meu puzzle cinematográfico de 2017 que me fizeram piscar os olhos mais do que o normal: O Animal Cordial (Gabriel Amaral Almeida), o melhor filme que vi no Festival do Rio (e sobre o qual escrevi aqui); Beach Rats, Milla, As Boas Maneiras, Did You Wonder Who Fired the Gun (sobre os quais escrevi ali). Curtas: She’s Beyond Me, espantoso objecto-à-Hong-Sang-soo-melhor-do-que-o-próprio-Hong-Sang-soo e melhor curta vista no Curtas Vila de Conde deste ano (pequeno texto acolá); Retouch, também com passagem em Vila do Conde (acoli); e as portuguesas Cidade Pequena (Diogo Costa Amarante) e Coelho Mau (Carlos Conceição).
Menções honrosas para estreias em sala comercial: La La Land, São Jorge, The Autopsy of Jane Doe, Detroit, Mother!, Good Time, Les fantômes d’Ismaël, Brad’s Status.

  1. Little Men (Homenzinhos, 2016) de Ira Sachs
  2. Toivon tuolla puolen de Aki Kaurismäki
  3. Fai bei sogni (Sonhos Cor de Rosa, 2016) de Marco Bellocchio
  4. The Lost City of Z (A Cidade Perdida de Z, 2017) de James Gray
  5. La mort de Louis XIV de Albert Serra
  6. Lucky (2017) John Carroll Lynch 
  7. Paterson de Jim Jarmusch
  8. Silence (Silêncio, 2016) de Martin Scorsese
  9. Ah-ga-ssi (A Criada, 2016) de Park Chan-wook
  10. I Am Not Your Negro (I Am Not Your Negro – Não Sou o Teu Negro, 2016) Raoul Peck
Inês Lourenço

É curioso que o meu top 10 deste ano seja encabeçado pelo realizador com que terminava a minha lista do ano passado: Ira Sachs, agora com Little Men, e antes com Love is Strange (O Amor é Uma Coisa Estranha, 2014). No fundo, é como se as duas listas tivessem uma continuação invisível, natural, harmoniosa. Também é uma conjugação interessante que os títulos dos meus favoritos sugiram uma espécie de duelo entre a luz (O Outro Lado da Esperança, Fai bei sogni, Lucky) e as trevas (La mort de Louis XIV, Silence). Foi por entre as duas coisas – portanto, no lusco-fusco – que encontrei os melhores momentos deste ano cinematográfico, muitos deles alicerçados em personagens singulares. Ver Jean-Pierre Léaud enfrentar a câmara em La mort de Louis XIV, como enfrentou em Les quatre cents coups (a memória do seu rosto de criança nesse filme de Truffaut), só é comparável ao mesmíssimo lance de Harry Dean Stanton em Lucky. São instantes absolutos, em filmes para lá de diferentes – desde logo pela opulência de um e o despojamento do outro –, mas que observam os gestos de dois homens com idêntico magnetismo.

Por falar em homens, e voltando então ao realizador com que começámos este texto, Ira Sachs, o seu Little Men será o filme de uma amizade juvenil maravilhosamente retratada, com a delicadeza que evoca o modo como Ozu filmava vasos ou cafeteiras de chá. São corpos movidos por uma força romântica, observados na subtileza da(s) forma(s).

(Texto originalmente publicado na revista Metrópolis.)

  1. Manchester By the Sea Kenneth Lonergan
  2. Aquarius de Kleber Mendonça Filho
  3. A Fábrica de Nada de Pedro Pinho
  4. Paterson de Jim Jarmusch
  5. Good Time de Ben Safdie e Joshua Safdie
  6. I Am Not Your Negro (Eu Não Sou o Teu Negro, 2017) de Raoul Peck
  7. Personal Shopper de Olivier Assayas
  8. Toivon tuolla puolen de Aki Kaurismäki
  9. Eldorado XXI (2017) de Salomé Lamas
  10. Toni Erdmann de Maren Ade
João Araújo

O ano cinematográfico, que começou praticamente com um novo Urso de Ouro em Berlim para uma curta portuguesa, tem de ser considerado como positivo para o cinema português, não só ao nível de prémios conquistados, mas também pela qualidade das obras: além de A Fábrica de Nada e El Dorado XXI, também Verão Danado, Ama-San e São Jorge deixaram boas memórias. No niilismo partilhado entre o filme de Pedro Pinho e Verão Danado, nesse “mergulho” apaixonado e apaixonante sobre estados de indefinição, cabem versões tão diferentes e com tantos pontos em comum sobre o que pode ser um país e um cinema. Foi também um bom ano para o cinema europeu, com filmes como Toni Erdmann, Plemya, Lady McBeth e The Square. E foi um ano notável para o cinema independente americano, com títulos como, além dos quatro que escolhi, Moonlight,  Get Out, The Lost City of Z. A confirmar a surrealidade recente, pode-se até afirmar que, em 2017, o vencedor do Óscar para Melhor Filme foi bem melhor que o vencedor da Palma de Ouro em Cannes.
Há uma espécie de perseverança inglória e resiliente que atravessa o percurso de cada uma das personagens principais da maioria dos filmes que acabei por escolher. Contrastando com um desejo simples de encontrar um canto onde ser feliz, de não ser acossado, estas personagens, como lobos solitários, são interrompidas pelo mundo exterior, chamadas à vida. A Clara de Aquarius pode ser vista como alguém que recusa na sua teimosia o progresso, mas na verdade é quem vê com maior claridade, entre as pessoas à sua volta; ao divorciado em processo de luto de Manchester By The Sea pedem que siga com a sua vida, por muito que este apenas queira desaparecer no seu canto; tal como o Zé de A Fábrica de Nada, que perante um tumulto apenas quer encontrar uma forma de sustentar a sua família, segurar o amor pela mulher, o filho e um emprego; ou o Paterson do filme homónimo, cuja simples ambição é encontrar alguma poesia no seu mundo, sem que para isso seja preciso mudar muito. É um caminho partilhado entre estas personagens, que é admirável e inspirador: talvez dê para aprender alguma coisa com eles, como acontece com os melhores filmes.

The Lost City of Z (2016) de James Gray
  1. The Lost City of Z de James Gray
  2. Little Men de Ira Sachs
  3. Good Time (2017) de Benny Safdie e Joshua Safdie
  4. Logan Lucky (2017) de Steven Soderbergh
  5. Dunkirk (2017) de Christopher Nolan
  6. Moonlight de Barry Jenkins
  7. Manchester by the Sea de Kenneth Lonergan 
  8. Geu-hu de Hong Sang-soo
  9. Voyage à travers le cinéma français (2016) de Bertrand Tavernier
  10. Toivon tuolla puolen de Aki Kaurismaki
João Lameira

Em termos de estreias comerciais, 2017 foi estranho (no que toca a reposições foi bastante forte, como aliás os últimos três ou quatro anos). Por um lado, esta lista inclui quase todos os filmes de que gostei. Deixei muito pouca coisa de fora o que, embora não tenha visto alguns dos filmes que aparecerão noutras listas, poderia indicar um ano fraco. Por outro, os três primeiros classificados da minha lista são de tal forma extraordinários (arriscaria escrever que Lost City of Z é uma obra-prima) que deixarão uma memória bastante positiva de 2017. Os que se lhe seguem também não são maus (sobretudo Logan Lucky).
Noto, ao fazer a lista, a predominância de filmes norte-americanos. Nada de outro mundo, é o cinema que mais vejo, mas normalmente aparecem obras de outra proveniência nos lugares cimeiros, por vezes até portuguesas. Este ano, nem por isso. Tanto Hong Sang-soo (autor do meu filme preferido do ano passado) quanto Kaurismaki desapontaram um pouco. E não me ocorrem muitos outros exemplos que pudessem constar nos melhores do ano se os tivesse visto (Aquarius e pouco mais). Não sei se isso significará pobreza na distribuição ou a fraca qualidade do cinema “do resto do mundo” (ou então somente a minha desatenção). Filmes portugueses, nem um (pelo que leio, talvez Verão Danado entrasse, mas não me foi possível vê-lo a tempo).

Lumière! (2016) de Thierry Frémaux
  1. Lumière! L’aventure commence de Thierry Frémaux
  2. Geu-hu de Hong Sang-soo
  3. Toivon tuolla puolen de Aki Kaurismäki
  4. La mort de Louis XIV de Albert Serra
  5. Une vie (2016) de Stéphane Brizé
  6. Moonlight de Barry Jenkins
  7. Return to Montauk (Reviver o Passado em Montauk, 2017) de Volker Schlöndorff
  8. À jamais (Até Nunca, 2016) de Benoît Jacquot
  9. Personal Shopper de Olivier Assayas
  10. Valley of Love (Vale de Amor, 2015) de Guillaume Nicloux
José Bértolo

Visto com o comentário em over de Frémaux, Lumière! é interessante. Visto em silêncio, é uma séance. Tal como aconteceu com Górki no início, a realidade das imagens volta a perturbar, escandalizar e espantar. Acima de tudo, no momento de escolher “os melhores filmes do ano”, Lumière! torna evidente que o conceito de filme é insuficiente para lidar com o carácter oceânico do cinema. Um filme (entendido como cinema) não tem quadro, não é uma coisa com tempo ou espaço, não acontece entre a primeira e a última imagem, nem na tela ou no ecrã. É mental, acontece em nós, onde não há coordenadas ou leis. Por isso, esta lista não foi concebida como uma tentativa de esclarecimento, mas sim como uma celebração da natureza gasosa, imprecisa e elusiva da experiência do cinema.
O Dia Seguinte e O Outro Lado da Esperança podem ser tomados como variações sobre Ozu. Não como variações cinéfilas, mas como variações de cineastas para quem a vida e o cinema partilham a mesma matéria. La Mort de Louis XIV pode ser sobre a morte do rei, a vida de Léaud, a vida de Doinel, a morte de Truffaut, a nossa morte, a vida do cinema, etc, etc. A fluidez impressionista de Une vie lembra-nos de que a vida da literatura não reside nos livros, mas no exacto mesmo cérebro que vivifica as imagens do cinema. Moonlight materializa o sonho de um jovem negro, gay, dealer, cuja visão do mundo é informada pelos melodramas de Wong Kar-Wai que viu na adolescência. Return to Montauk é sobre os perigos de transformar os outros em personagens dos nossos filmes. À jamais e Personal Shopper parecem ser apenas esboçados, tornando-se, por essa razão, filmes particularmente intermináveis. Ignorando o título e um certo humanismo (que também não é a razão pela qual escolhi o filme de Kaurismäki, mas é a razão pela qual voltei a recusar ver vários filmes em 2017), Valley of Love pode ser sobre o conflito entre o mundo aparente (grotesco, em múltiplos sentidos) e a verdade insondável do invisível, naquilo que é a explicitação de um problema que está, evidentemente, no centro do cinema.
Lamento não ter tido a oportunidade de ver: 120 battements par minute, Ama-san, Les fantômes d’Ismaël, Voyage à travers le cinéma français.
Lamento que esta lista não seja concebida para os Cahiers du cinéma: Temporada 3 de Twin Peaks.

  1. Mother! (2017) de Darren Aronofsky
  2. Good Time de Benny Safdie e Joshua Safdie
  3. Verão Danado de Pedro Cabeleira
  4. Split de M. Night Shyamalan
  5. The Lost City of Z de James Gray
  6. Une vie de Stéphane Brizé
  7. La mort de Louis XIV de Albert Serra
  8. 120 battements par minute (120 Batimentos Por Minuto, 2017) de Robin Campillo
  9. O Futebol (2015) de Sergio Oksman
  10. I Love You, Daddy de Louis C. K.
Luís Mendonça

Foi um ano com vários bons filmes. Isso fez dele um bom ano de cinema? Não forçosamente. O nível médio foi relativamente alto, mas houve poucos picos de entusiasmo. Num ano sem uma única obra-prima, houve, ainda assim, propostas arrojadas de cinema. Darren Aronofsky (o único filme do ano que me deixou estarrecido, sem saber se ria ou gritava), os irmãos Safdie (electricidade pura) e Pedro Cabeleira (electricidade pura, danada) são os que levam mais longe uma ideia destrutiva de festa. O filme de Campillo, celebração do amor como activismo e do activismo como amor, é também um tratado sobre a morte e a vida, o filme mais difícil de ver – e mais fácil de sentir – do ano. A morte é também o assunto central em O Futebol – pequeno e comovente filme vindo do Brasil -, La mort de Louis XIV – filme de um rigor formal extraordinário com a assinatura de Albert Serra – e Une vie – cineasta a continuar a seguir bem de perto, Stéphane Brizé. Uma nota especial para a viagem encantatória, embalada também ela pela morte, de James Gray. Por outro lado, Split é um filme-puzzle eivado de um muito old fashioned sentimento e prazer lúdico (devedor de Tourneur). Por fim, I Love You, Daddy é uma comédia agridoce que nos mete num quadrado onde a gargalhada ganha a densidade de uma culpa quase trágica.
Destaco ainda, deste ano de cinema (por ordem de preferência), Moonlight (sim, absolutamente sim: o Óscar foi melhor que a Palma), Silence, War for the Planet of the Apes, Logan, Manchester By the Sea, Annabelle 2, São Jorge e O Dia Seguinte. Vi exactamente 61 filmes estreados comercialmente este ano, mas lamento muitíssimo não ter conseguido assistir a tempo da formulação deste top a Ma Loute, Lucky, Last Flag Flying e Lumière!.

  1. Toni Erdmann de Maren Ade
  2. I Am Not Your Negro de Raoul Peck
  3. Paterson de Jim Jarmusch
  4. A Fábrica de Nada de Pedro Pinho
  5. Centro Histórico (2012) de Aki Kaurismäki, Pedro Costa, Victor Erice e Manoel de Oliveira
  6. Eldorado XXI de Salomé Lamas
  7. La mort de Louis XIV de Albert Serra
  8. Aquarius de Kleber Mendonça Filho
  9. Oleg y las raras artes (2016) de Andrés Duque
  10. Valley of Love de Guillaume Nicloux
Raquel Morais

A vida moderna é variada. Os filmes estreados em Portugal durante 2017 não dão de modo absoluto conta disso, mas também não seria razoável exigir que assim fosse. Deixo uma selecção branda e branda será provavelmente qualquer selecção que se ofereça do banquete deste ano. Esta lista, motivada por humores pessoais, deve também muito à contingência. Uma mão cheia dos filmes que por cá estrearam ficou, no meu caso, por ver. A vida moderna é variada, mas quase nunca fácil. Ainda assim, nela se encontra muitas vezes alguma beleza. Salve-nos isso. Se ao cinema chegámos sossegados, do cinema nem sempre saímos sossegados. Com mais ou menos respostas, que ao menos algum arrebatamento nos tenha acometido.

Paterson: Morning, Donny.

Donny: Ready to roll, Paterson?

Paterson: Yeah. Everything okay?

Donny: Well, now that you ask, No, not really. My kid needs braces on her teeth, my car needs a transmission job, my wife wants me to take her to Florida but I’m behind on the mortgage payments, my uncle called from India and he needs money for my niece’s wedding and I got this strange rash on my back. You name it, brother. How about you?

Paterson: I’m okay.

Ma Loute (2016) de Bruno Dumont
  1. Ma Loute de Bruno Dumont
  2. Lumière! L’aventure commence de Thierry Frémaux
  3. Coco (2017) de Lee Unkrich e Adrian Molina
  4. Verão Danado de Pedro Cabeleira
  5. Good Time de Benny Safdie e Joshua Safdie
  6. Un beau soleil intérieur (O Meu Belo Sol Interior, 2017) de Claire Denis
  7. Ah-ga-ssi de Park Chan-wook
  8. Eldorado XXI de Salomé Lamas
  9. The Lost City of Z de James Gray
  10. Lucky de John Carroll Lynch
Ricardo Vieira Lisboa

E porque o cinema não é só filmes com mais de uma hora, nem filmes que têm distribuição comercial, deixo outros 13 (!) grandes filmes que se puderam ver por por cá durante este ano. Bom proveito.

Depressive Cop (2016) de Bertrand Mandico
Electro-Pythagorus (A Portrait of Martin Bartlett) (2017) de Luke Fowler
Fajr (2017) de Lois Patiño
Fraktur (2016) de Giles Ribeiro
Jokinen (2016) de Laura Horelli
Keep That Dream Burning (2017) de Rainer Kohlberger
Les îles (2017) de Yann Gonzalez
Os Humores Artificiais (2017) de Gabriel Abrantes
Protokolle (2017) de Jan Soldat
Rubber Coated Steel (2017) de Lawrence Abu Hamdan
Sergei/Sir Gay (2017) de Mark Rappaport
The Hollow Coin (2016) de Frank Heath
Wednesday with Goddard (2016) de Nicolas Ménard

 

  1. Paterson de Jim Jarmusch
  2. Geu-hu de Hong Sang-soo
  3. Toivon tuolla puolen de Aki Kaurismäki
  4. Lucky de John Carroll Lynch
  5. War for the Planet of the Apes (Planeta dos Macacos: A Guerra, 2017) de Matt Reeves
  6. Lost City of Z de James Gray
  7. Good Time de Benny Safdie e Joshua Safdie
  8. A Fábrica de Nada de Pedro Pinho
  9. Get Out de Jordan Peele
  10. Félicité (2017) Alain Gomis
Sabrina D. Marques

Em 2017, o meu Top Ten entre as salas comerciais reúne filmes que se destacam pela construção de nova linguagem (Lucky e IT), pela sua depuração narrativa (Good Times e Lost City of Z), pela sua intervenção política sobre o presente (A Fábrica de Nada, Get Out, O outro lado da Esperança e War for the Planet of the Apes) ou pela meditação sobre o gesto criador (Paterson e O Dia Seguinte).
Alvíssaras, Paterson assinala o regresso de Jarmusch a Jarmusch: se o filme celebra a crença no ‘‘artista espontâneo’’, emergido marginalmente entre a banalidade do quotidiano, essa verdade protagoniza o quadro de um amor total, onde a disponibilidade para receber o outro em toda a sua diferença é a única matéria-prima possível a uma poesia em completa relação com o mundo. O Dia Seguinte exalta a vitória da intuição moral: se falta experiência à juventude, é no seu desprendimento face às estruturas que vence o mundano. Aqui, o verso treinado apresenta-se como ornamento sobre a realidade e de fraca correspondência com ela: a jovem poderá não escrever tão bem quanto pensa, mas acredita no que sente e sai ilesa desses cansados jogos entre os homens e as mulheres. War of the Planet of the Apes dá-nos a ler, a certa altura, numa parede: “Ape-apocalypse, now”. Não é preciso muito para que um animal seja mais moral do que um humano – sempre no-lo ensinou esta saga – mas, à escala da difusão Hollywoodesca, o simbolismo político do filme tem a amplitude de uma intervenção num presente assolado pela crise dos refugiados (esses Outros, que também protagonizam o mais recente de Kaurismaki, d’O Outro lado da Esperança). Já em Get Out (que tem a força de uma primeira obra) está em causa a persistência da estratificação racial nos Estados Unidos, pela voz do actor-feito-realizador Jordan Peele, conhecido pelas suas interpretações cómicas de Barack Obama, onde se iniciava já esta meditação. E se Lucky reforça o eco, celebrando a miscigenação da sociedade norte-americana (com foco sobre a riqueza particular da comunidade latina), Good Times desfigura o pretty-fly-for-a-white-guy Robert Pattinson, para falar sobre a desigualdade que atravessa o presente americano para lá de etnias. Se persistem imensas dúvidas em relação à amálgama visual e sonora em que A Fábrica de Nada explode, aplaudimos esta incursão no cinema colectivo (uma irredutível celebração da estrutura grupal sempre implicada no fazer cinema, aqui nivelando quem filma e quem é filmado) e, de cada sequência, destilamos uma mão-cheia de ideias necessárias para tecer uma chamada-à-acção, expondo a veracidade de uma auto-gestão fabril que funcionou ao longo de décadas. Mais do que um filme sobre a crise portuguesa, A Fábrica de Nada é, acima de tudo, um progressivo questionamento sobre a (in)adequação de um sistema global a quem o sustém, o Homem, na sua dimensão mais individual e mais colectiva, pelo caminho celebrando a potência criadora que habita cada um: corpo de trabalho, cabeça de lazer (e vice-versa).

  1. The Lost City of Z de James Gray
  2. Little Men de Ira Sachs
  3. A Fábrica de Nada de Pedro Pinho
  4. Jackie (2016) de Pablo Larraín
  5. Geu-hu de Hong Sang-soo
  6. La mort de Louis XIV de Albert Serra
  7. Paterson de Jim Jarmusch
  8. Ma Loute de Bruno Dumont
  9. Eldorado XXI de Salomé Lamas
  10. Rester Vertical de Alain Guiraudie
Vasco Baptista Marques

Pediu-me a comissão de gestão deste estaminé que lhe fizesse chegar o meu top 10 de 2017. Como facilmente se poderá constatar, o pedido foi aceite (entre lágrimas de júbilo de parte a parte), tal como aceite foi a exigência de complementar esse top com um extenso comentário da minha própria autoria sobre a crise do cinema contemporâneo (a editar a título póstumo em três tomos pelas Éditions du Ennui). Infelizmente, jantei esta noite com um robalo que não me assentou bem nas entranhas, e perdi a pouca vontade que ainda tinha de me dedicar a esse magno projecto. Em vez disso, limitar-me-ei preguiçosamente a fazer notar que, em 1957, quem chegava ao final do ano encontrava atrás de si (entre muitos outros) os seguintes títulos: O Grito (Antonioni); Morangos Silvestres e O Sétimo Selo (Bergman); Um Rei em Nova Iorque (Chaplin); As Noites de Cabíria (Fellini); A Águia Voa ao Sol e Ao Cair da Noite (Ford); Um Rosto na Multidão (Kazan); Donzoko e Trono de Sangue (Kurosawa); 12 Homens em Fúria (Lumet); O Grande Amor da Minha Vida (McCarey); Tokyo Twilight (Ozu); A Noite do Demónio (Tourneur); Noites Brancas (Visconti); Testemunha da Acusação (Wilder). Estou em crer que, para o bom entendedor de um escriba molestado por um robalo, isto servirá à laia de comentário crítico do ano da graça de 2017.

(Texto originalmente publicado na revista Metrópolis.)

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1 Comentário

  • pamela diz: 1 de Outubro, 2018 em 14:53

    Parece fantástico que em um filme se pode ver a Morgan Freeman, Tommy Lee Jones, Rene Russo, Glenne Headly compartindo seus diferentes estilos de atuação. Muitos poucos filmes juntam a tantos talentos como Apenas O Comeco fez. Pessoalmente eu irei ver por causo do Morgan Freeman, acho ele um ator comprometido.

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