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Jornalismo: como produzir uma notícia?

De Luís Mendonça · Em 30 de Janeiro, 2018

Para quem estudou jornalismo, e se interroga dia sim, dia não sobre as linhas com que a verdade se cose, filmes que lidam com a relação entre a imprensa e o poder político servem sempre de alimento a um desejado debate. Escrevia recentemente sobre The Post (2017), a última – e muito aclamada – obra de Steven Spielberg, produzida dentro da tradição do chamado cinema liberal americano. É interessante ver como, nestes tempos em que se discute a virtude do denunciador, Spielberg se concentra maioritariamente numa decisão administrativa de publicar ou não informação confidencial de interesse público, os chamados Pentagon Papers, que comprometeram a imagem dos vários governos americanos que sancionaram a guerra no Vietname. O denunciador Daniel Ellsberg aparece no início do filme, mas o palco que se monta não lhe é destinado. Spielberg canta a coragem dos jornalistas e da directora do The Washington Post, um jornal que ganhou com este caso o estatuto de publicação de referência no campo do jornalismo de investigação. Ainda com o filme de Spielberg a ocupar-me o espírito, dei de caras nestes dias com dois filmes nos Canais TVCine que colocam o foco sobre outros momentos no processo de produção da verdade jornalística: Snowden (2016) de Oliver Stone e Truth (Verdade, 2015) de James Vanderblit, conhecido argumentista de filmes como Basic (Básico, 2003) e, ainda a maior obra-prima sobre jornalismo a sair do cinema americano em décadas, Zodiac (2007).

Truth (Verdade, 2015) de James Vanderblit

É curioso ver como nestes filmes não interessa tanto a decisão sobre o valor dos factos descobertos, mas mais o modo como eles foram comunicados. É de comunicação como produção que falamos, já que, nestas histórias, é sempre indissociável a convicção política da facticidade publicada. Snowden opera como uma toupeira ao serviço de um ideal sobre o que deve ser o Estado de Direito e uma América verdadeiramente democrática. A jornalista do programa 60 Minutes Mary Mapes, interpretada por Cate Blanchett, “atira-se” para a história da suposta fuga de George W. Bush ao exército durante a guerra no Vietname movida por uma vontade de descoberta à qual não terá sido alheia (ou foi?) a sua desconfiança endémica em relação ao governo. O que se passa é que fazer política e fazer jornalismo podem ser a mesma coisa. Contudo, importa muito a maneira de se chegar a uma verdade que mais convém. E é aqui que Snowden foi cauteloso e fez a papinha toda aos jornalistas do The Guardian e The Washington Post. Talvez se tenha inspirado no exemplo de Ellsberg. Pelo contrário, Mapes não soube fundamentar a sua convicção, apresentando provas documentais pouco fiáveis, que comprometeram a imagem da estação, a CBS News, e de toda uma vasta equipa de jornalistas, começando pelo veterano pivô Dan Rather (interpretado por Robert Redford). Mapes é um curioso exemplo de anti-heroísmo tal como nos é mostrado no filme, sendo que este se deixa animar, por vezes demasiado, pela vontade de redimir a falta de profissionalismo que terá estado na origem de uma (suposta) fake news.

É importante perceber que o jornalismo só se salva quando entendermos que ele está cheio de muito afiados ângulos em bico que, por vezes, nos magoam. São os ossos do ofício, um que é condição das nossas liberdades em democracia. 

Quando dissemos “produção de verdade”, estávamos mesmo a falar de produção. Como se percebe a certa altura no processo do 60 Minutes, já não interessa propriamente onde está a verdade, mas como se produziu aquela verdade, a mesma que se transmitiu para todo o país com garantias de irrefutabilidade. Nesta economia da confiança, do público nos seus jornalistas, dos jornalistas nas suas fontes, jogam-se interesses múltiplos, mas da sua convicção política o jornalista nunca se conseguirá desembaraçar por completo. No filme de Spielberg, à consciência da directora interpretada por Meryl Streep fala mais alto a importância dos factos contidos no dossier classificado. Não se falava, à época, pelo menos com tanta premência, na hipótese de manipulação ou de falsificação de documentos. Em Snowden, o nosso herói dá o rosto precisamente porque sabe que só assim poderá proteger as costas dos jornalistas, autenticando, desse modo, num acto sacrificial verdadeiramente heróico (com o seu quê de inconsciente), a informação que estava a libertar. O “Garganta Funda” ou Ellsberg saiu da sombra e passou a estar não atrás, mas ao lado de quem reporta. O jornalista já não é suficiente, ninguém é suficiente ao jornalista se não estiver pronto a dar a cara por aquilo que denuncia. A lição talvez tenha chegado bastante tarde à repórter do 60 Minutes, que confiou numa fonte pouco credível – mas foi chamada à responsabilidade por isso – e, com isso, feriu temporariamente a credibilidade de toda uma estação.

Snowden (2016) de Oliver Stone

O anti-heroísmo de Mapes merece um filme, porque precisamente Truth relembra como uma notícia mal dada hipoteca o valor de verdade do que é reportado. Portanto, o jornalismo também é uma questão de forma: não tanto o que é a verdade, mas como é a verdade. O “como” é determinante, baluarte da exigência e responsabilidade adstritas ao acto de dar notícias. Mas não haja dúvidas também de que a convicção é o que embala. O jornalista não é acrítico. Não o pode ser sob pena de ser um mau jornalista. É aqui que Truth também marca pontos na sua “pedagogia invertida”. Pena que o filme não esteja, na sua forma, isto é, no seu “como”, à altura do caso singular que relata. As situações colam-se umas às outras num modelo de “sociodrama” próprio da mais normal e anónima linguagem televisiva, ao arrepio, portanto, da melhor escola do cinema liberal americano (em que Alan J. Pakula é o grande catedrático) ou do grande cinema clássico com o mesmo pendor [à cabeça, Citizen Kane (O Mundo a Seus Pés, 1941), Ace in the Hole (O Grande Carnaval, 1951) e Park Row (A Dama de Preto, 1952)]. O filme de Stone, por sua vez, é uma obra que não foge à marca, bem histriónica, do seu realizador: uma espécie de Discovery Channel on acids (sempre o lado “stoner” de Stone…) que nos debita a história de Snowden, transformando-o no primeiro dos messias da guerra cibernética em curso (a que se faz, sem mediações, nos bastidores do warfare mais tradicional, de hackers para hackers).

O papel-caricatura de Joseph Goron-Levitt é tão pálido quanto o tom de pele do próprio Snowden – o seu tom de pele é, aliás, alvo de umas quantas private jokes ao longo deste filme epidérmico, cheio de borbulhas estilísticas. Por excesso (Stone) ou por defeito (Vanderblit), o “como” jornalístico é encarado de frente nestes tempos de grande fluidez dos modos de construção da verdade jornalística. Na “realidade alt“ é verdade aquilo que é dito mais alto e mais forte. Nesse sentido, Stone funciona como o esteta contrariado desta nova ideologia: ele grita a transparência e puras convicções por trás das acções do seu herói. O filme de Vanderblit deixa-se anular por um registo low, de “televisão normal”, que acaba por aniquilar o valor dramático do caso exposto. Já o filme de Spielberg faz um elogio, com câmara e cores elegantes, ao jornalismo, mas não sabe substantivar, e, a meu ver, faz mal em negligenciar a história de Ellsberg. Talvez por isso a The New Yorker se sentiu na obrigação de contar a sua história num artigo publicado ontem. The Post, precipitado que foi pela vontade política de Spielberg em enaltecer os jornalistas – ou, mais genericamente, o jornalismo -, acaba por não saber como dar corpo ao heroísmo dos seus homens. Eles, ao contrário dos “do presidente”, não têm nuances, arestas por limar. Aparecem prontos a consumir, pedindo o nosso aplauso acrítico. É importante perceber que o jornalismo só se salva quando entendermos que ele está cheio de muito afiados ângulos em bico que, por vezes, nos magoam. São os ossos do ofício, um que é condição das nossas liberdades em democracia.

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Luís Mendonça

"The great creators, the thinkers, the artists, the scientists, the inventors, stood alone against the men of their time. Every new thought was opposed. Every new invention was denounced. But the men of unborrowed vision went ahead. They fought, they suffered, and they paid - but they won." Howard Roark (Gary Cooper) in The Fountainhead (1949)

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