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À pala de Walsh
Críticas, Em Sala 2

L’amant d’un jour (2017) de Philippe Garrel

De Luís Mendonça · Em 7 de Janeiro, 2018

Lembro-me das palavras de Louis Garrel durante a apresentação, no LEFFest, do esquecível Un été brûlant (2011) perante uma plateia de jovens histéricas que ansiavam deitar os olhos – e quiçá as mãos – no produto mais hot do cinema europeu: “o meu pai é um homem da velha guarda. Ele ainda acredita que é possível morrer por amor”. Parafraseio de memória estas palavras porque me parece que o discurso amoroso de Garrel, o pai, habita intensamente esse “ainda”. Ele resiste, quer faça chuva quer faça sol, à ideia de que o nosso mundo sentimental e amoroso se desmoronou por completo e que, portanto, se tornou caduco, irrelevante. Se o amor ainda desempenha um papel na nossa vida, o cinema tem a missão de repetir as suas narrativas, mesmo as mais depauperadas por palavras e gestos mil vezes ensaiados, ditos ou sugeridos. A reincidência de temas, movimentos, obsessões em Garrel está em absoluta harmonia com a circularidade do próprio discurso amoroso, com a sua insistente incapacidade de se resolver a si mesmo como um jogo de sudoku. Ainda se pode morrer por amor? Garrel diz que sim, tal como diz que é possível filmar, a preto-e-branco, o mal au coeur com uma seriedade antiga, “passada”, sem com isso parecer velho, tornando-se, com isso, a coisa mais urgente e revigorante que podemos encontrar nas salas de cinema.

O anacronismo de Garrel permite-nos aceder mais directamente ao essencial do seu cinema: sim, a tecnologia não aparece com grande protagonismo no mundo das suas personagens, ou pelo menos não aparece “como um problema” – ainda que ela seja uma ferramenta que Garrel não ignora – e sim, o amor não se tornou descartável, coisa de one-night stands, para viver alarve e levianamente sem culpa e sem dor. Há em L’amant d’un jour (O Amante de um Dia, 2017) um momento subtil, mas paradigmático disto. Ele é protagonizado por Jeanne, personagem interpretada pela filha de Philippe Garrel (a encantadora Esther Garrel) que agonia em casa do pai por causa do rompimento com “o único homem que verdadeiramente amou”. Ela diz à nova amante do pai, Ariane (fixe o nome, porque o rosto está fixado: Louise Chevilotte), que nunca foi para a cama só por ir, por prazer e mais nada, salvo talvez uma vez. Ariane fica surpreendida com a resposta. Veremos que ambas têm uma relação quase oposta com o sexo, e com o amor, mas fundamentalmente é na resposta de Jeanne que o cinema de Garrel encontra o seu espelho. Não é que haja respostas certas para as questões do coração, mas é esta a noção de amor que enche e mais inflama por dentro o universo sentimental de Garrel, ou dos Garrel.

Em Garrel, neste Garrel, a volúpia no amor não está no sexo, mas na dança.

Sabemos como o cinema de Garrel vive assombrado pelo fantasma das mulheres que tão intensamente amou: acima de tudo, Nico e Jean Seberg. L’amant d’un jour bebe do veneno, da dor e da doçura que caracterizam alguns dos filmes mais remotos de Garrel, desde logo, Les hautes solitudes (1974). A coabitação da amante do pai e a sua filha de coração destroçado convida a um regresso a esse mundo vagamente mizoguchiano em que as mulheres sofrem, de mãos dadas, na ausência dos homens. A empatia e solidariedade femininas são filmadas com um tal cuidado, devoção e, a palavra é essa, é sempre essa, abnegado amor pela câmara de Garrel que nos sentimos inteiramente – que nos sentimos inteiros, leia-se – entre o mundo das personagens. Uma das críticas possíveis a serem feitas a este filme é que se concentra menos do que devia nesta relação feminina, o lugar mais íntimo, do mais íntimo enlace e solidariedade, que L’amant d’un jour partilha connosco. A narrativa dos (des)amores de Ariane e a sua relação turbulenta com o pai de Jeanne é muito menos interessante do que os rostos, gestos e palavras trocados por estas duas mulheres, sensivelmente com a mesma idade, uma no papel de filha, outra no papel de “nova mãe”, que se encontram acidentalmente no tempo para falar e tratar os assuntos, mais ou menos reais, mais ou menos fantasmáticos, do coração.

Mas não há só altas solidões aqui. Também há festa, rodopio, inocente embriaguez. Uma festa de ligeira e frágil alegria que, colocada no meio do funesto turbilhão amoroso, me fez pensar em L’amant d’un jour como sucessor de I fidanzati (1963) de Ermanno Olmi ou, porque desperta o lado mais etéreo do desejo quando jovem, como eco de Les amants (Os Amantes, 1958) de Louis Malle. Garrel sempre me pareceu um cineasta pouco interessado no sexo. Sempre preferiu mostrar amantes a falar, a andar e a sonhar em conjunto. Em L’amant d’un jour ele filma o sexo de frente, mas sem inventividade, de modo repetitivo, mecânico e dramaticamente desajeitado. É importante que tenha sido assim, porque só por via deste contraste acedemos à jouissance da cena do baile. Rapazes e raparigas dançam “à antiga”: de corpos encostados, trocam pequenas carícias, segredam palavras que não ouvimos, pelo menos as que são ditas com a boca, porque há outras, bem audíveis, ditas com os olhos. A coreografia é de uma candura rara, sob o tema musical de Jean-Louis Aubert (com letra de Michel Houellebecq), que rouba à cena o seu som natural. Em Garrel, neste Garrel, a volúpia no amor não está no sexo, mas na dança. Este é um momento pleno desse anacrónico e refrescante sentimento de amor que revela, mais uma vez, Philippe Garrel como o mais relevante “educador sentimental” dos nossos dias.

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Luís Mendonça

"The great creators, the thinkers, the artists, the scientists, the inventors, stood alone against the men of their time. Every new thought was opposed. Every new invention was denounced. But the men of unborrowed vision went ahead. They fought, they suffered, and they paid - but they won." Howard Roark (Gary Cooper) in The Fountainhead (1949)

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2 Comentários

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  • Top Filmin: os melhores filmes de 2018 (e passatempo) | À pala de Walsh diz: 13 de Janeiro, 2019 em 19:43

    […] Luís Mendonça […]

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