O À pala de Walsh organiza com a Medeia Filmes, com o apoio da Leopardo Filmes e da Linha de Sombra, a projecção de La fille de nulle part (A Rapariga de Parte Nenhuma, 2012) de Jean-Claude Brisseau, a ter lugar no dia 24 de Janeiro (quarta-feira), às 19h30, no Espaço Nimas, seguida de um debate sobre “A Criação e o Artista: Como Separar a Obra do seu Criador?”. Para tentarmos responder à “grande pergunta”, convocámos a directora do Doclisboa Cíntia Gil e o crítico de cinema e director do Ípsilon Vasco Câmara. A moderar estará o walshiano Luís Mendonça.
Esta sessão/debate serve também para marcar o lançamento da obra À pala de Walsh O Cinema Não Morreu: Crítica e cinefilia À pala de Walsh (Linha de Sombra), que estará à venda no Espaço Nimas.
Brisseau é, para nós, À pala de Walsh, um dos realizadores da actualidade a ter em conta. O seu La fille de nulle part foi das obras mais aclamadas entre nós desde a nossa fundação, há 5 anos. Por isso, incluímos no livro a crítica ao filme da autoria de Ricardo Gross. Em «A Sabedoria da Luz» (pp. 177-178), Gross escreve que La fille de nulle part “funciona como súmula da sua obra inteira”; fala ainda de “um medir de forças com algo superior a nós por via da criação, como refere a frase de Van Gogh que Brisseau mostra.”
O filme de Brisseau é mostrado no mês em que deveria ter decorrido na Cinemateca Francesa a retrospectiva da sua obra com a sua presença. Esta acabou cancelada devido à vaga de denúncias contra o assédio sexual e casos de abuso de poder protagonizados por realizadores, actores e produtores que têm tomado conta da agenda mediática – Brisseau conta com duas condenações em tribunal por assédio sexual envolvendo três actrizes. A decisão de passarmos La fille de nulle part nesta data não deixa dúvidas sobre o facto de subscrevermos a ideia de que uma coisa é a obra, a outra é o criador – ideia essa vertida neste texto, que subscrevemos. Contudo, o debate está aberto e urge ser feito, num clima de respeito pelas visões dissonantes.
É fundamental aproveitar este momento simbólico para sentir o pulso ao zeitgeist e perguntar: será possível/desejável separar-se a obra do seu criador? Até onde deve ir a censura à “má conduta” do autor, para este, para o espectador, para os agentes da “indústria”? E aqui, em Portugal, onde ainda não chegou uma vaga séria de denúncias, como se perspectiva uma mudança de comportamentos no domínio das artes e da sociedade? Estas e outras questões serão tocadas num debate franco e aberto, em que o público está convidado a intervir e a partilhar, livremente, a sua visão.
O bilhete para a sessão custa 5 euros.