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A praça branca contra a Praça Vermelha

De Paulo Cunha · Em 4 de Fevereiro, 2018

1951 seria um ano crucial para o culto mariano em Portugal e para a afirmação internacional do santuário de Fátima. A pedido do Governo e da Igreja Portuguesa, o Papa Pio XII escolheu Portugal para o encerramento do Ano Santo Universal, que culminariam com uma das maiores celebrações do 13 de Outubro. Nesse mesmo ano, o bispo auxiliar de Boston, Fulton Sheen, declarou que a praça branca do Santuário de Fátima era a melhor resposta à Praça Vermelha de Moscovo. Quatro anos mais tarde, o cardeal Cerejeira retomava esta ideia e sentenciava que Fátima era, por aqueles anos, uma luz de esperança contra o comunismo ateu que ameaçava conquistar o mundo e destruir a Igreja.

Capa do número 720 d’O Século Ilustrado (20 de Outubro de 1951)

Assim colocados no epicentro da Guerra Fria, mais de três décadas depois, os acontecimentos de Fátima de 1917 chegariam finalmente ao cinema através de dois filmes estrangeiros, um espanhol e um norte-americano. Antes disso, o cinema português havia já abordado indirectamente os acontecimentos de Fátima em duas produções audaciosas – Fátima Milagrosa (1928), de Rino Lupo, e Fátima, Terra de Fé (1943), de Jorge Brum do Canto – mas nenhum tratara de cristalizar a narrativa dos acontecimentos fundacionais da devoção mariana na pequena povoação do então concelho de Ourém.

o malogro do projecto de Gentil Marques sugere que nem a Senhora de Fátima conseguiu operar o milagre de reabilitar o cinema português numa época de hesitações e de precipitações.

A primeira tentativa de relatar fielmente os acontecimentos de Fátima tinha sido tentada precisamente em 1951, quando Gentil Marques apresentou ao SNI um pedido de apoio para o filme O Milagre de Fátima, realizado por si a partir de uma planificação feita por António Lopes Ribeiro. O pedido para produzir uma curta-metragem de ficção dramática que pretendia relatar a história dos três pastorinhos foi concedido no final de 1949, dando-se início à pré-produção. Devido a várias razões, o projecto foi crescendo de importância e transformado numa longa-metragem, mas logo começaram os problemas. Em primeiro lugar, vindos da vizinha Espanha, os rumores de uma produção semelhante com maior potencial comercial ensombraram os planos de Gentil Marques que, mesmo com o apoio da Igreja Católica portuguesa, temeu pela comparação e haveria de abandonar o projecto.

De facto, em Espanha, Rafael Gil trabalhava na ambiciosa produção La Señora de Fátima (1951), que contava afinal com a colaboração não-creditada de um produtor português, Aníbal Contreiras, que desde a Guerra Civil espanhola se movimentava muito bem no meio cinematográfico espanhol e que acabara de produzir a ambiciosa co-produção Rainha Santa/Reina Santa (1947), drama épico sobre a Rainha Santa Isabel com duas versões (a portuguesa realizada por Henrique Campos e a espanhola pelo mesmo Rafael Gil).

Cartaz do filme La Señora de Fátima (Senhora de Fátima, 1951), de Rafael Gil

O argumento de La Señora de Fátima era assinado por Vicente Escrivá, um peso-pesado do cinema espanhol de então, que com Rafael Gil fundara a Aspa Films, produtora dedicada a épicos biográficos, como Agustina de Aragón (1950) e La leona de Castilla (1951). Para credibilizar a empreitada, o argumento contou com dois consultores religiosos, Monseñor Ángel Sagarmínaga e D. Javier Echenique, responsáveis pelos missionários espanhóis. Na ressaca da Guerra Civil espanhola, o culto mariano crescera significativamente em Espanha, pelo que o regime de Franco também tirara proveitos políticos dessa popularidade.

Os três pastorinhos foram interpretados por três jovens actores: a italiana Inés Orsini (19 anos) seria Lúcia, a portuguesa Maria Dulce (15 anos de idade) seria Jacinta e o espanhol Eugenio Domingo (17 anos de idade) seria Francisco. Esta escolha seria criticada pela Igreja Católica portuguesa por não respeitar a “verdade histórica”: os três pastorinhos teriam à época apenas 10 anos de idade e o elenco parecia exageradamente adulto. A seu favor, Inés Orsini apresentava já no curriculum a interpretação da mártir Maria Goretti, a santa italiana que morreu apunhalada com 11 anos ao resistir a uma violação.

https://www.youtube.com/watch?v=WVDokl2WOb4

Poucos meses depois, a Warner também se deixou seduzir pelo milagre de Fátima e produziu a longa de ficção The Miracle of Our Lady of Fatima (1952), realizado por John Brahm, que seria nomeado para o Oscar de Melhor Música (da responsabilidade do judeu Max Steiner) e ao Leão de Ouro do Festival de Veneza. O trio de protagonistas seria agora mais próximo da “verdade histórica” (com idades entre os 10 e 13 anos), mas segundo relatos tidos como fidedignos, a própria Lúcia não terá gostado particularmente do filme. Independentemente destas considerações, o filme foi um sucesso popular em diversos países do mundo.

Cartaz do filme The Miracle of Our Lady of Fatima (Milagre de Fátima, 1952), de John Brahm

Em diferentes contextos, os anos 50 deixaram três relatos singulares sobre a narrativa mariana em Fátima. Ironicamente, não deixa de ser significativa a incapacidade do cinema português aproveitar este episódio português com enorme potencial dramático de internacionalização. Na ressaca da falência da Política do Espírito e em vésperas de “anos zeros”, o malogro do projecto de Gentil Marques sugere que nem a Senhora de Fátima conseguiu operar o milagre de reabilitar o cinema português numa época de hesitações e de precipitações.

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Paulo Cunha

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