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À pala de Walsh
Críticas, Em Sala 1

Nelyubov (2017) de Andrey Zvyagintsev

De Luís Mendonça · Em 9 de Fevereiro, 2018

Há filmes frios que nos exaltam os sentidos e tomam conta do nosso espírito. Por exemplo, os de Stanley Kubrick, os de David Fincher, alguns momentos – poucos, infelizmente – de Michael Haneke. Há filmes frios que assim ficam: gelados como um cubo de gelo. O que se passa com Andrey Zvyagintsev é que se torna cúmplice daquilo que, segundo diz, pretende espelhar criticamente; de uma certa apatia da sociedade russa debaixo da asa de Vladimir Putin. O que se passa é que o seu cinema perdeu a sedução de tempos idos – o da sua longa de estreia, Vozvrashchenie (O Regresso, 2003), filme que tinha a elegância e o mistério próximos do seu herói Michelangelo Antonioni. Zvyagintsev passou a emprestar ao seu mundo – nos seus planos – a frieza e o rigor – a rigorosa frieza – próprios de uma radiografia que não nos permite ler qualquer forma de tratamento.

Estamos (de novo) no cinzento e convulso mundo das relações intrafamiliares – era assim em Elena (2011) e em Leviafan (Leviatã, 2014). Estamos (de novo) dentro deste mundo e sem podermos sair dele. A câmara filma o desamparo e a alienação sentimentais com vaidade. Ela não oferece espaços de habitação ao espectador, porque este percebe rapidamente que o realizador não quer resolver o que mostra, nem mesmo convocar-nos nessa dúvida. Ele concentra esforços em encenar, com requinte, o vazio desesperançado que pontua a existência das suas personagens. Zvyagintsev não gosta delas – e a certa altura, por extensão, sentimos que também não gosta de nós, porque se é verdade que ninguém está bem onde está, nesta Rússia sem aparente salvação, o seu cinema deleita-se, por sua vez, a mimar essa inospitabilidade. No fundo e na forma, “Sem Amor” é, de facto, o título justo. Demasiado justo.

Todo o filme é um bloco de gelo, congela-nos num impasse angustiante. Um impasse que consubstancia a procura frustrante de alguma coisa que valha a pena ser vivida – e sentida – neste mundo.

Num país derrotado, pais execráveis motivam a fuga do seu único filho. Juntam-se os progenitores desavindos para encontrar a criança em fuga? Não propriamente. Com efeito, são as circunstâncias que obrigam o casal a uma coabitação indesejada, fétida, que não pede, não quer – e tem horror à possibilidade que possamos nós, espectadores, encontrar – uma qualquer forma de redenção. Todo o filme é um bloco de gelo, congela-nos num impasse angustiante. Um impasse que consubstancia a procura frustrante de alguma coisa que valha a pena ser vivida – e sentida – neste mundo. Para (supostamente) habitarmos este filme “sem amor”, Zvyagintsev oferece-nos imagens bonitas, rigorosamente encenadas, que acabam por decorar com pompa a apatia das personagens e do seu mundo tão igual a elas. Elas mostram-se – nesta radiografia, neste cinema desalmado, que faz do vazio motivo de vaidade estética – destituídas de humanidade, mas o filme incha na proporção do seu “aprumo estético”. E ficamos ali, mais ou menos esquecidos, a assistir à humilhação: a da câmara na relação com estas personagens, com este retrato da “Rússia de Putin”, que se mostra, certo, mas que se esgota na gratuitidade de quem aponta o dedo para confirmar um problema, um estado de espírito, conservado pelas mais gélidas temperaturas humanas.

Se calhar o problema está em mim, espectador entre espectadores mais generosos com a brutal falta de amor deste realizador pelo (seu) mundo. Se calhar acho que um realizador tem de sentir algum amor – uma forma de paixão que seja – por aquilo que filma. Penso que sim, que, de uma maneira ou de outra, cabe ao cineasta, mesmo um tão orgulhosamente gélido como este, convocar uma qualquer forma de acção – um cantinho “habitável”, não podia haver? Porque “responder a Putin” não se compraz com o acto de elevar a tratado estético a apatia, a “impossibilidade de agir” – e de modo algum isto ainda é Antonioni. Veja-se como umas Pussy Riots estilhaçam o cinzentismo da Rússia contemporânea. Este filme, ao pé delas, da sua acção estilhaçante, soa a desistência. Zvyagintsev não quer verdadeiramente abanar nada, porque odeia sem remédio o mundo que a sua câmara habita. E odeia-nos, espectadores que acreditam no poder redentor ou interpelante do grande cinema, mesmo o mais granítico. Porque digo que nos odeia? Porque me parece que a única coisa que faz passar nas suas imagens “caras”, de “cinema de autor”, é a beleza da “apatia pela apatia”. Todo o filme é como a sequência passada na varanda, em que a mãe, de expressão impenetrável, corre intrepidamente, pisando a passadeira automática. Está frio, muito frio, e ela corre sem sair do mesmo sítio. É aí que o filme fica – nunca sai dessa passadeira gélida, odiosa, que não intima qualquer forma consequente de acção. Em suma, eis uma muito pouco excitante – ia escrever “cobarde” – proposta política escondida por trás de um biombo de boniteza estética “para festival ver”.

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2010'sAndrey ZvyagintsevDavid FincherMichael HanekeStanley Kubrick

Luís Mendonça

"The great creators, the thinkers, the artists, the scientists, the inventors, stood alone against the men of their time. Every new thought was opposed. Every new invention was denounced. But the men of unborrowed vision went ahead. They fought, they suffered, and they paid - but they won." Howard Roark (Gary Cooper) in The Fountainhead (1949)

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1 Comentário

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    […] of Water (A Forma da Água, 2017) de Guillermo del Toro, e ainda o prémio do Júri de Cannes, Nelyubov (2017) de Andrey Zvyagintsev. Ainda o novo filme de Steven Spielberg, The Post (2017), a […]

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