Nascido em 1935, em Lisboa, Américo Coimbra estreou-se no cinema em 1961, logo como um dos protagonistas de As Pupilas do Senhor Reitor, a primeira versão colorida do clássico de Júlio Diniz já antes adaptado ao cinema por duas ocasiões (em 1924, por Maurice Mariaud, e em 1935, por Leitão de Barros). As boas relações pessoais com o produtor Francisco de Castro valeram-lhe uma entrada triunfante neste filme de Perdigão Queiroga, uma co-produção luso-brasileira entre as Produções Cinematográficas Perdigão Queiroga e a Cinesdistri, uma produtora paulista especializada em chanchadas durante a década de 50. Por esta circunstância, e a pensar na distribuição comercial no Brasil, o principal protagonista masculino seria Anselmo Duarte, um galã do teatro e do cinema brasileiro muito popular por esses anos. O filme estrearia em Lisboa a 17 de Abril de 1962, ia o Ben-Hur (1959) na sua 15.ª triunfante semana de exibição.
Esta experiência portuguesa seria importante para Anselmo Duarte, que apostaria no regime de co-produção para realizar a sua segunda longa-metragem. A partir de um romance de Dias Gomes, um importante romancista e dramaturgo comunista, O Pagador de Promessas, Duarte consegui garantir uma participação portuguesa na produção da parte de Francisco de Castro. Como contrapartida, o produtor português voltaria a impôr a presença de Américo Coimbra no elenco, que interpretaria o papel do galã vilão da história, o Bonitão. Na altura poucos poderiam prever, mas o filme acabaria por vencer a Palma de Ouro em Cannes, perante uma concorrência de luxo: Luis Buñuel [El ángel exterminador (O Anjo Exterminador, 1962)], Michelangelo Antonioni [L’eclisse (O Eclipse, 1962)], Agnès Varda [Cléo de 5 à 7 (Cléo das 5 às 7, 1962)], Pietro Germi [Divorzio all’italiana (Divórcio à Italiana, 1961]) ou Robert Bresson [Procès de Jeanne d’Arc (O Processo de Joana d’Arc, 1962)].


No entanto, Américo Coimbra perderia a sua oportunidade de ouro. É o próprio Anselmo quem o explica, na primeira pessoa: “Pouca gente sabe, mas O Pagador foi feito em duas versões, uma delas especial para Portugal, porque havia um pouco de dinheiro português na produção. A diferença é que havia um ator português no papel do Bonitão, que o Geraldo Del Rey fez de maneira tão maravilhosa. (…) O português era um cara de quem fiquei amigo no período em que filmei As Pupilas do Senhor Reitor. Era até um cara bonito. Coloquei o Américo Coimbra no Pagador porque ele entrou com 50 latas de negativos, em troca dos direitos de distribuição em Portugal. Mas o Américo não dava. Era ruim de doer. Um tipo duro, sem ginga nenhuma. O Geraldo [d’el Rey] era perfeito, estava no chão dele para fazer o papel. O Américo era um lorde inglês perdido em Portugal, rico, bem nascido, servia mais para o coronel do que para o gigolô. Mas, pelo acordo firmado com ele, comecei a filmar o Bonitão com o Américo. No início, não havia essa coisa de duas versões. Era uma só e o Américo era o intérprete. Fiz uns dez takes com ele e pressenti o desastre. Abri-me com o Américo. Disse que o filme era muito importante para mim, que tinha o ator perfeito e não ia arriscar. Ele compreendeu e aceitou que eu fizesse com ele só a versão que ficou sendo a portuguesa, para o mercado de Portugal. E a versão que foi a Cannes foi a com o Geraldo. Para não comprometer o Américo, que era um astro e tinha medo de que fizessem comparação entre o trabalho do Geraldo e o dele, cumpri o compromisso de nunca exibir o filme que venceu a Palma de Ouro na terrinha. Os portugueses nunca viram O Pagador de Promessas do jeito que venceu em Cannes. Como tínhamos pouco dinheiro, o filme teve de ser feito a toque de caixa.”


Como é natural, no dia seguinte à inédita conquista em Cannes, a imprensa portuguesa fazia eco da participação portuguesa na mais recente Palma de Ouro, destacando o co-produtor Francisco de Castro e o galã Américo Coimbra. Em Portugal, onde só foi exibida a “versão portuguesa” do filme, ninguém duvidou do contributo de Américo Coimbra na conquista da Palma de Ouro, tendo ele prosseguido uma carreira de galã em mais um filme de Perdigão Queiroga – Parque das Ilusões (1963) – e em dois filmes realizados por Henrique Campos – Pão, Amor e Totobola (1963) e Canção da Saudade (1965).
Seguiu-se a televisão, com participação em algumas produções para a RTP – a série de seis episódios de teatro filmado, Terceiro Esquerdo (1965) de Fernando Frazão) e os telefilmes Véspera de Casamento (1968) de Victor Manuel) e O Marido da Vedeta (1968) de Oliveira e Costa -, e o teatro, um percurso natural para qualquer galã de cinema neste período.

Américo Coimbra tentaria ainda a internacionalização no cinema, trabalhando em mais algumas co-produções espanholas: no filme de espiões Comando de asesinos (Fim-de-semana com a morte, 1966) de Julio Coll, onde contracenou com António Vilar e Artur Semedo, e a italiana Letícia Román, a estrelas de vários filmes de Russ Meyer; no filme de terror de Jesus Franco, Necronomicón (1968), onde faria um pequeno papel secundário; nos Os cinco Avisos de Satanás (1970) de José Luis Merino, onde contracenaria com Madalena Iglésias; em Crimen de Amor (Crime de Amor, 1972) de Rafael Moreno Alba, onde protagonizaria um triângulo amoroso com Núria Espert e Máximo Valverde; finalmente, terminaria a carreira cinematográfica em El love feroz o Cuando los hijos juegan al amor (Amor ao Domicílio, 1975) de José Luis García Sánchez.


Para além de actor, Américo Coimbra seria também produtor de alguns desses filmes, nomeadamente Os Cinco Avisos de Satanás e Crimen de Amor, este último um projecto bem mais ambicioso. Para além das habituais versões para os mercados português e espanhol, esta co-produção previa também uma versão em inglês para o circuito internacional. Associado a Victor Zapata, director executivo da Fotofilm, acabadinho de trabalhar com Catherine Deneuve em Tristana (1970) de Luis Buñuel, o filme conseguiria distribuição comercial nos Estados Unidos da América.

Aos 38 anos, depois de uma estreia fulgurante no cinema, Américo Coimbra retirou-se da vida pública. Após o falecimento do seu pai, Américo Coimbra regressou a Portugal para se dedicar aos negócios da família, tornando-se sócio-gerente das duas fábricas herdadas do pai, no Cartaxo e em Sacavém. A morte do sócio espanhol Victor Zapata, as “ameaças” às suas fábricas durante o PREC e o nascimento da sua segunda filha afastaram definitivamente Américo Coimbra do cinema, o Bonitão que deixou de o ser.