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Ma vie de Courgette (A Minha Vida de Courgette, 2016) de Claude Barras
Cinema em Casa, Críticas 0

Ma vie de Courgette (2016) de Claude Barras

De Ricardo Vieira Lisboa · Em 28 de Junho, 2018

O cinema de animação, pelo menos aquele que se apresenta em metragem longa e nas salas comerciais, apresenta-se cada vez mais como género formulaico ao qual nem os estúdios da Pixar conseguem já escapar. A animação digital é a técnica de excelência, todas as histórias caminham para uma sempre equivalente ideologia da diferença e respectiva superação (portanto aborrecida, pelo marasmo de ideias que – não – convoca), todos os filmes seguem esquemas do cinema de acção (com perseguições, narrativa por etapas, heróis e vilões, etc.) e, invariavelmente, tudo trabalha segundo o gosto pelo fofinho (queriduxo > amigável > confortável > doce > açucarado > meloso > enjoativo > peganhento > viscoso > gosmento). E se olharmos para a televisão o vómito sobe à boca com ainda maior velocidade: tudo parece feito por indivíduos mentecaptos a favor do desenvolvimento doutros como eles. Ma vie de Courgette (A Minha Vida de Courgette, 2016) de Claude Barras é a excepção a esse inferno de unicórnios com crinas de algodão-doce.

Ma vie de Courgette (A Minha Vida de Courgette, 2016) de Claude Barras

Aqui as crianças dominam o discurso e concentram o ponto de vista – raros são os momentos em que o filme toma a perspectiva do adulto (e quando o faz é só para os mostrar na sua fragilidade, não tão diferentes das crianças afinal…). Não existe aqui uma “tradução pedagógica” nem a pretensão dos criadores do filme de reduzirem as crianças-espectadoras a gastrópodes acéfalos para as quais um festival de cores vivas com vozes esganiças e uma historia banal é suficiente. Ma vie de Courgette não tem a presunção de descer ao suposto “nível infantil”, pelo contrário, pede que as crianças subam os degraus da alteridade e acedam a realidades que constantemente lhes são vedadas pelos adultos “conscienciosos” (fenómeno que já não é próprio da relação dos adultos com as crianças, mas também dos adultos uns com os outros, vide o falo de resina de Clara Menéres em “exposição” na Fundação Calouste Gulbenkian). Aliás, o único verdadeiro “vilão” do filme é aquele que afirma, a certo ponto, “as crianças não têm vontade”, como que dando voz à produção corrente do cinema de animação popular.

Clade Barras, que aqui filma a adaptação de Céline Sciamma do livro de Gilles Paris (Autobiographie d’une Courgette), explora neste filme os temas do homicídio (involuntário e voluntário), do suicídio, do alcoolismo, da violência doméstica, do roubo, da pedofilia, da crise dos refugiados na Europa (entre outros), recusando o didactismo da pacotilha adocicada. Aqui as crianças vivem com o trauma porque todas elas presenciaram situações familiares horrendas (os personagens vivem num lar de crianças, ao cuidado do estado) e, apesar disso, tentam ser felizes. Não se trata de protegê-las porque elas já perderam, de certo modo, a patina da inocência. Trata-se sim de encontrar formas de lidar com esses vários horrores de formas produtivas, isto é, de encontrar um ambiente onde o passado não determine um (des)fecho no desenvolvimento daquelas crianças.

Ma vie de Courgette faz um retrato complexo sobre as emoções conflituosas de uma criança que sofre sucessivas separações e que procura um bem-estar “apesar de tudo o resto”.

Mas Barras está bem longe do universo dickensiano dos renegados do mundo, e mais longe ainda do pobrete-alegrete de coisas como Annie (1982) e derivados. Não é por acaso que, a certa altura, um dos personagens do filme (uma menina de 11 anos) esteja a ler A Metamorfose de Franz Kafka. Esse é o universo que o filme convoca, não tanto o body horror do escaravelho mas a figura do exógeno (daquele que é posto de parte, excluído, abandonado). E por isso não é surpreendente ouvir-se uma criança pequena vociferar em raiva “mato-me ou mato-a” e pouco depois manejar uma espingarda com conhecimento. Por tudo isso, um dos momentos mais impactantes do filme corresponde ao fotograma que encima estas linhas: quando numa excursão à neve as várias crianças do lar assistem a um momento de afecto entre uma mãe e o seu filho (no contra-campo) ao que se segue este plano de conjunto – bem longo e silencioso –, onde cada uma delas se identifica na/pela ausência (ausência essa que as une – dizem duas delas, a certa altura, que se não tivessem ocorridos todas aquelas coisas horríveis nas suas vidas nunca se teriam conhecido).

Se referia que o filme impelia um movimento ascendente no espectador (infantil e não só), esse motivo revela-se na própria matéria dramatúrgica do filme. Logo no início, nos primeiros minutos de filme, são dispostas uma série destas manifestações ascendentes: o quarto do menino está no sótão; ele pinta um papagaio de papel que lança bem alto nos ares (elemento que percorrerá toda a narrativa); nesse papagaio desenha um super-herói voador e uma galinha (representação dupla do pai ausente, ideal de força e de fraqueza); e contrói uma torre de latas de cerveja bem alta (precisando para isso do auxílio de um banco). Daí em diante vários são os andares de cima, os beliches, as subidas íngremes, a “ida para o céu” dos familiares próximos, ou a introdução de uma subplot dedicado a um ninho de pássaros de uma árvore vizinha que (bem alto) se constrói lentamente para depois poder acolher os novos rebentos. Esta ideia de altura e de subida literaliza-se, no final, com a marcação da altura dos personagens na parede da sua nova casa.

E aí espelha-se outra das recorrência do filme: as pinturas/os desenhos. A primeira imagem do filme é de uma parede pejada de desenhos de criança (o quarto do menino protagonista, o tal sótão). Daí em diante – isto é, no lar de crianças – as paredes já não podem acolher os ímpetos artísticos das crianças e estes passam a fazer-se sobre papel. Ao longo do filme percebemos que o desenho mais que qualquer outra coisa é elemento narrativo: as crianças desenham para através dos desenhos mais facilmente conseguirem contar o que se passou, e contando acabam por compreender melhor os eventos traumáticos do seu passado. Pois bem, quando Courgette e Camille chegam à sua nova casa (à sua nova família) a primeira coisa que fazem é escrever nas paredes (marcar as suas alturas). Porque a parede não é transitória, como o papel de desenho do lar de acolhimento, a parede fica. Daí que o filme termine com uma série de crianças a elencar todos os motivos pelos quais uma mãe não irá abandonar o seu filho.

Ma vie de Courgette faz assim um retrato complexo sobre as emoções conflituosas de uma criança que sofre sucessivas separações (da sua família problemática que não deixava de ser a sua família, depois a separação do lar e dos amigos que lá conhecera) e que procura um bem-estar “apesar de tudo o resto”. Ou seja, uma felicidade que só existe em relação: é melhor o lar que um pai abusivo, é melhor uma família de acolhimento saudável que um lar estatal… Mas essa complexidade – que é no fundo a complexidade humana – é aquilo que Courgette tem de sobra, por oposição à simplificação maniqueísta do mundo que o cinema de animação mainstream tende a produzir.

Ma vie de Courgette (A Minha Vida de Courgette, 2016) de Claude Barras

Ma vie de Courgette pode ser visto em streaming na mais recente plataforma de VOD nacional, o Filmin.

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Ricardo Vieira Lisboa

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