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Críticas, Em Sala 1

BlacKkKlansman (2018) de Spike Lee

De Luís Mendonça · Em 5 de Setembro, 2018

Entrevistado pela Vanity Fair, Spike Lee dá mostras de ter medo de usar aquela palavra suja começada por “c”: “comédia”. Cita realizadores sérios que, em dado momento das suas carreiras, assinaram sátiras que desmontavam as contradições, e os demónios, do seu tempo. Evoca, por exemplo, Elia Kazan e o seu A Face in the Crowd (Um Rosto na Multidão, 1957) ou Stanley Kubrick e o seu Dr. Strangelove (Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb, 1964). É verdade que Spike Lee raramente cedeu completamente às coordenadas de um género fílmico. Mesmo o seu anódino remake de Oldeuboi (Oldboy – Velho Amigo, 2003) pode conter pistas sobre qualquer coisa que ultrapassa o mero exercício de género. Por exemplo, como o protagonista interpretado por Josh Brolin, Spike Lee reaparece agora com o muito falado BlacKkKlansman (BlacKkKlansman: O Infiltrado, 2018) como se também ele tivesse estado cativo num quarto durante os últimos vinte anos, assistindo, passivo mas sempre espantado, ao desenrolar da história americana pela televisão: tomadas de posse de Bill Clinton, George W. Bush e Barack Hussein Obama. Esta apreciação não é justa, na medida em que 25th Hour (A Última Hora, 2002) será eventualmente “a obra-prima” da América Bush pós-11 de Setembro. Contudo, e mesmo que não seja verdade, apetece escrever: subitamente, Spike Lee regressa. Regressa com um filme, também apetece escrever, que é uma resposta contundente aos tempos em que vivemos, particularmente a esta Amérikkka – com três “k”, sim – que, alega-se, não só se tornou glande – com “l”, sim – como se tornou estranha outra vez.

Não é que Lee tivesse estado parado nos últimos anos, mas é inegável que o seu cinema precisava de um novo combate como de pão para a boca. Talvez o poderoso, e subestimado, Chi-Raq (2015) seja dos filmes recentes o que mais eloquentemente preparou Lee para este comeback em força – digo “em força”, porque, sem prejuízo da minha opinião, há demasiado tempo que um “Spike Lee Joint” não era tão falado. Ora, Chi-Raq é uma tragédia musical – ou um musical trágico – que tem o sentido operático de um Do the Right Thing (Não Dês Bronca, 1989) e o gosto pela sátira mais corrosiva que faz deste BlacKkKlansman a comédia mais séria do momento. São filmes que têm coisas a dizer, cheios da energia e da boa raiva que fez/faz de Spike Lee um dos cineastas mais politicamente relevantes.

Em teoria, tudo isto que escrevo faz sentido – pelo menos para mim. Mas na prática também é verdade que este Spike Lee é mais pesado, “cansado” e previsível na mensagem que nos debita. Hélas!, os seus cocktail molotovs vão quase sempre na mesma direcção, quando no seu melhor filme, Do the Right Thing, a mensagem por vezes lhe ardia na própria mão. BlacKkKlansman é uma comédia com medo da sua comédia, um buddy cop movie disfarçado de sitcom que se vai apresentando consumido pelo medo e pelo horror de uma América destroçada por uma guerra mais ou menos invisível – invisível talvez para os mais distraídos – que se trava dia-a-dia no coração da sociedade. É uma resposta urgente, sem papas na língua, mas também sem grandes subtilezas, a Trump e à recrudescência dos movimentos ou “organizações” racistas de extrema-direita.

Gosto, desde logo, do ruído que abre o filme. O ruído vem do grão da película, que continua a seduzir Lee, mas também vem do que ela regista: Alec Baldwin, o mais conhecido impersonator de Trump do momento, debitando lições de bom americanismo na pele do Dr. Kinnebrew Beauregard. Um discurso “lava mais branco” metralhado com toda a garra. A voz tem de estar nos decibéis certos, pelo que o nosso fervoroso orador vai intervalando a prelecção com ruidosas excreções sonoras que o permitem não perder o tom certo, de frase em frase, de mensagem em mensagem. Cómica e tenebrosa, esta sequência de abertura protagonizada por Baldwin permite-nos a nós, espectadores, entrarmos no tom deste filme, desta comédia cheia de ruído e raiva. Esta é a história de um polícia negro com muita lata, Ron Stallworth (John David Washington com uma afro mais memorável que a sua actuação), que se infiltra, por telefone e mediado in loco pelo seu parceiro judeu Flip Zimmerman (excelente Adam Driver), na “organização” do K.K.K..

Spike Lee sempre foi bom nisto: ele é dos poucos cineastas americanos a conseguir dar com o cravo na ferradura e a ferradura no cravo. A sua política também consiste em dar uns quantos “tiros nos pés”.

A premissa tem muita graça, mas o filme não se rende por completo à comédia – pois, nestes tempos de Trump, ela é quase uma palavra suja na boca de Lee, por isso, falemos em c*média. A ironia da premissa é tão grande que acaba por libertar Lee para que este possa espraiar toda a sua revolta. Revolta contra o quê ou contra quem? Já falei de Trump, mas aqui Lee arrisca-se a pregar a convertidos. Por isso, diria que mais desconfortavelmente ele visa a própria Hollywood, naquelas que são as suas fundações culturais ou ideológicas. O filme abre com um famoso plano de Gone With the Wind (E Tudo o Vento Levou, 1939), que espectaculariza os efeitos da Guerra Civil americana, e depois culmina na sequência em que David Duke (Topher Grace em ponto rebuçado) e os seus seguidores assistem, deleitados, a uma projecção do ideologicamente dúbio The Birth of a Nation (O Nascimento de Uma Nação, 1915), a obra de D. W. Griffith que foi – e ainda será – o padrão-ouro de todas as produções da grande Hollywood.

A crítica à obra monumental de Griffith já havia sido aduzida antes, mas é só nesta sequência que Lee leva mais longe o seu ataque à indústria a que pertence e que, segundo este, se tem constituído como um império de brancos. Lee socorre-se de um dos dispositivos que precisamente celebrizaram a gramática griffithiana, a montagem alternada, para mostrar de um lado um encontro de apoiantes dos Black Panthers com o activista Jerome Turner (Harry Belafonte, em jeito de presença-homenagem), que conta a história de Jesse Washington, uma das várias vítimas da opressão branca, e do outro lado Lee dá-nos a ver o regozijo dos novos “cavaleiros” do K.K.K. durante a projecção de The Birth of a Nation. Há, de facto, desconforto aqui, nesta montagem que cruza uma narrativa de choque e horror com a do entretenimento mais alarve despertado pela infame “primeira superprodução” que inventou Hollywood. A frontalidade de Spike Lee volta a causar faísca, porventura como nos seus melhores dias.

Ao mesmo tempo, e ainda que não tenha a fluidez e frescura do Lee dos anos 1980 e 1990, BlacKkKlansman também se sabe comportar como uma c*média arguta e provocadora, que encontra no riso mais ligeiro motivos para uma reflexão que bate fundo. Desde logo, em diálogo quiçá involuntário com o cinema recentemente redescoberto do francês Sacha Guitry, esta é uma divertida e inteligente c*média de telefones. Lee constrói os gags em torno de um campo/contra-campo tradicional entre quem telefona da polícia, o oficial negro undercover – uma voz à paisana… -, e quem recebe a chamada, o copinho de leite David Duke. Em certa medida, Lee regressa a Girl 6 (A Rapariga: Código 6, 1996), c*média ligeira sobre uma rapariga, aspirante a actriz, viciada no seu trabalho enquanto operadora de linhas eróticas, e transforma este jogo esconde-esconde, entre um lá e um cá, num exercício visual extremamente divertido que, no limite, faz troça do próprio maniqueísmo em que todo o filme pode cair – e efectivamente cai.

Perto do fim, um split screen oferece-nos a possibilidade de uma irmandade perfeita, estabelecida entre o polícia negro e o branco supremacista. Na imagem, cortada – apetece antes dizer “unida”! – em dois por uma linha diagonal, temos a demonstração de que todas as diferenças são pueris quando baseadas apenas na cor da pele ou que fenómenos como o K.K.K. sobrevivem mal à vida quando saem do seu estreito esquema ideológico. Lee sugere: “esquemas e estratégias de poder à parte, estes dois homens podiam ser os melhores amigos do mundo”. A caricatura humanista, de traço grosso, vai tão longe quanto isto: no fim, quase, quase temos pena do patético David Duke, por este ter sido objecto da mais malandra das prank calls e no fundo, no fundo por este apenas ansiar por um “novo amigo” que o distraia da sua solidão humana. Por outro lado, quase, quase sentimos desprezo pelo nosso herói, ele que não vê a “lata” e fanfarronice que o caracterizam ser muito severamente castigadas pelo desfecho desta sua inopinada – para não dizer “estúpida” – missão policial. Spike Lee sempre foi bom nisto: ele é dos poucos cineastas americanos a conseguir dar com o cravo na ferradura e a ferradura no cravo. A sua política também consiste em dar uns quantos “tiros nos pés”. E nós, espectadores, ficamos sempre algo abananados quando isso acontece. Acontecesse mais vezes em BlacKkKlansman e estava aqui a gritar “obra-prima”.

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Luís Mendonça

"The great creators, the thinkers, the artists, the scientists, the inventors, stood alone against the men of their time. Every new thought was opposed. Every new invention was denounced. But the men of unborrowed vision went ahead. They fought, they suffered, and they paid - but they won." Howard Roark (Gary Cooper) in The Fountainhead (1949)

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1 Comentário

  • Palatorium walshiano: de 11 de Setembro a 8 de Outubro | À pala de Walsh diz: 8 de Outubro, 2018 em 12:03

    […] a filmar em Portugal, Ossang e Green. Destaque também para o entusiasmante filme de Speke Lee, o aborrecimento do cinema de Pawlikowski, os contrastes de Cosmatos, o terror místico de Trier, […]

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