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À pala de Walsh
Family Film Project, Festivais 3

Family Film Project 2018: desarquivar a memória segundo Daniel Blaufuks

De Luís Mendonça · Em 11 de Outubro, 2018

É um dos mais ambiciosos e arrojados festivais de cinema do país. Disse de cinema, mas a ementa é variada, misturando palestras, performances, oficinas e lançamentos de livros, convocando no mesmo plano académicos de prestígio e artistas que trabalham nas fronteiras do cinema. Esta vertente multimédia está presente nesta que é a sétima edição do Family Film Project, reunião de artes que terá como centro nevrálgico o Passos Manuel, na cidade do Porto, e que acontecerá entre os dias 15 e 20 de Outubro. A oferta é, como disse, rica. Por exemplo, além de uma selecção de filmes em competição provenientes dos quatro cantos do mundo, um grupo de performers levará até ao bar Maus Hábitos um espectáculo baseado em materiais de arquivo. A par disto, um dos académicos mais citados na área do cinema documental, o norte-americano Bill Nichols, dará uma masterclass que, lê-se no site, “usará uma variedade de exemplos de documentários para examinar cenas de abertura e como elas se relacionam com o sucesso geral do filme”. Articulando a investigação académica com uma indagação mais pessoal, Paula Rabinowitz tem ganho notoriedade no âmbito dos estudos feministas em cinema e vem falar sobre, cito, “uma dupla biografia / livro de memórias investigando dois pais da Guerra Fria – o seu e o do seu marido”.

Rabinowitz irá ser a interlocutora na conversa com o artista em foco nesta edição do festival: o português Daniel Blaufuks. A exibição de parte importante da sua obra enquanto cineasta ou videasta é merecedora da nossa máxima atenção. Olhar para o corpus de filmes com a assinatura de Blaufuks, mais conhecido porventura pelo seu trabalho enquanto fotógrafo investigador ou investigador fotógrafo, permite-nos mergulhar a fundo num universo multimedial que oscila quase sempre entre a memória individual e a memória colectiva, entre a interrogação do medium ou a natureza do trabalho do artista e as implicações de tudo isto num “grande outro”, omnipresente na sua obra, chamado “processo histórico”. Blaufuks, como cineasta ou fotógrafo, é um prolífico “desarquivista”, alguém que procura não só limpar o pó de materiais esquecidos (texto, fotografias, filmes) como, para mais, os insere num novo fluxo crítico, renovando o nosso olhar sobre o presente.

A sua fotografia e os seus filmes andam de mãos dadas. Não é incomum na obra de Blaufuks que os media acabem unidos por um mesmo projecto artístico, seja exibidos paredes-meias num museu, seja organizados entre folhas e DVDs sob o formato de livro. A obra que o Family Film Project reúne aqui é paradigmática de um muito desafiante exercício de permanente apropriação ou reapropriação de elementos que o artista desenterra e – passo crítico fundamental – reconfigura a partir de um vasto acervo de materiais. Todos os filmes questionam este gesto, quase arqueológico, de escavação sobre um dado arquivo físico ou sobre um dado recanto esquecido (“arquivado”) da memória. Num trabalho de resistência contra o esquecimento e aspirando à actualização crítica do passado no presente, Blaufuks coloca-nos debaixo dos céus estranhos da História. Por exemplo, o seu cinema visita dois lugares ou, na realidade, é visitado por eles. Falo do palácio onde viveu o músico Luís Freitas Branco [Carpe Diem (2010)] e de uma casa-museu localizada no Rio de Janeiro [Três quartos de memória (2011)]. O primeiro filme, o melhor dos dois, é o que deve mais a um certo avant-garde lírico de Joseph Cornell e Stan Brakhage. Trata-se de um verdadeiro exercício de (des)assombramento do lugar. Nele, imagens (em Super 8) e sons (destaca-se a música de Freitas Branco) revelam a memória desta casa. Ao mesmo tempo, a câmara é atraída pela luz, e Blaufuks é sensível à forma como esta se inscreve em cada ângulo da habitação. É uma claridade dourada, com uma certa qualidade messiânica, esta que banha as divisões cheias de ausência, habitadas por essa presença ausente chamada memória. Este é um abandono repleto de vida, de vivências, de texturas, de sons e imagens. Uma colecção de vestígios debaixo de uma inebriante luz silenciosa.

Por falar em lugar, Blaufuks traz a este Family Film Project a sua obra mais ambiciosa: Como se/As if (2015). Já tinha tido a oportunidade de ver parte deste filme de 4 horas e 40 minutos na exposição Toda a Memória do Mundo, Parte Um, no Museu do Chiado. Blaufuks trabalha os temas da memória e do lugar, reconvoca o trauma do Holocausto a partir de uma colecção de imagens quase estáticas – recorrência em Blaufuks: planos como fotografias ou fotografias como planos – recolhidas aquando da visita do artista a Terezín, na República Checa. Found footages do infame filme que os nazis produziram no antigo gueto judeu e de produções cinematográficas que posteriormente reconstituíram esse “acontecimento da História” cruzam-se com uma sucessão de longos planos que percorrem a cidade nos dias de hoje. Fachadas, paredes, naturezas mortas em interiores desocupados… A câmara de Blaufuks, na sua fixidez fotográfica reificante, parece convocar a respiração de um James Benning (no cinema) ou de um Walker Evans (na fotografia). Por entre este “tempo sólido” insinua-se o arquivo que vem reclamar um lugar, devidamente “actualizado”, no tempo presente. É portentoso o efeito na montagem do drama americano, a minissérie Holocaust (1978), vis-à-vis o filme mentiroso realizado pelos nazis. Estas imagens rompem com a placidez do hoje, uma calmaria aparentemente característica daquele lugar. Blaufuks leva-nos à pergunta: o que esconde esta placidez? Será ela signo da bonança antes da nova tempestade que se anuncia por cima das nossas cabeças e que promete fazer regressar à Europa velhos fantasmas do passado?

Sobre esse passado marcado pelo trauma, o Family Film Project também programa Under Strange Skies (Sob Céus Estranhos, 2002), provavelmente a obra mais vista e reconhecida de Blaufuks. É uma incursão na história da cidade de Lisboa durante a Segunda Guerra Mundial. Através de uma colecção de documentos, memórias, “confissões” que Blaufuks desenterra do seu arquivo pessoal misturado com “imagens” da História, conta-se a história de uma espera agoniante: a dos imigrantes judeus, que nos anos da guerra ansiavam pela partida para a América. Entre os imigrantes, contavam-se os avós de Blaufuks. Estamos no tal domínio partilhado, do eu e do tal “grande outro” chamado História. Este filme de montagem oscila sempre entre esses dois eixos, procurando, nos intervalos, uma identidade que se fixe e que redima a condição de exilado deste cineasta, que, claro está, coincide com a condição de exílio das suas imagens – as tais fotografias como planos ou planos como fotografias.

O cinema de Blaufuks abre, preenche e volta a abrir buracos, que é como quem diz: ausências. The absence (2009) é um espirituoso ensaio fílmico, digno de Mark Rappaport ou Martin Arnold. Este ensaio busca inspiração – apropriação crítica número 1 – no romance, em que a letra “E” está omissa, La Disparition de Georges Perec, romancista que também gostava de flirtar com os interstícios do cinema e da fotografia [vide Un homme qui dort (1974), filme de Bernard Queysanne com argumento de Perec]. Mais: este ensaio – apropriação crítica número 2 – procede de uma remontagem de À bout de souffle (O Acossado, 1960), obra seminal da Nouvelle Vague. Através de um acto de supressão – adeus a todos os planos em que conste a star principal do filme, Jean-Paul Belmondo – Blaufuks solicita uma presença: a da nossa memória do filme. Os vinte minutos que restam da obra emblemática de Jean-Luc Godard são os vinte minutos que totalizam, corpo inteiro, The absence. A falta origina um processo de preenchimento, uma forma de redenção crítica, a ponto de, a certa altura, descobrirmos um novo filme (ainda mais radical? Ainda mais sedutor?) dentro de um dos mais vistos e amados filmes do mundo. Que novo filme é esse? Um que se apresenta totalmente dominado pela presença feminina de Jean Seberg. Vêmo-la, frágil, desamparada, sem um contra-campo que lhe componha o drama. Sem um contra-campo que a torne femme, que a torne fatale. The absence faz-nos descobrir em Blaufuks mais uma faceta, para lá da de cineasta e fotógrafo: a de um brilhante crítico de cinema.

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Luís Mendonça

"The great creators, the thinkers, the artists, the scientists, the inventors, stood alone against the men of their time. Every new thought was opposed. Every new invention was denounced. But the men of unborrowed vision went ahead. They fought, they suffered, and they paid - but they won." Howard Roark (Gary Cooper) in The Fountainhead (1949)

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3 Comentários

  • Passatempo Family Film Project: Blaufuks x 2 | À pala de Walsh diz: 12 de Outubro, 2018 em 14:22

    […] Para ajudar à resposta, leia a nossa antevisão aqui. […]

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  • Passatempo Family Film Project 2018: Blaufuks x 2 | À pala de Walsh diz: 12 de Outubro, 2018 em 14:27

    […] Para ajudar à resposta, leia a nossa antevisão aqui. […]

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  • Daniel Blaufuks: “precisamos de um certo grau de identificação com a História” | À pala de Walsh diz: 26 de Dezembro, 2018 em 13:48

    […] dos seus filmes em dois festivais do Porto, o Family Film Project – sobre o qual escrevi aqui – e o Porto / Post / Doc ou a exposição que organizou recentemente no Musée National […]

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