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À pala de Walsh
Private Life (2018) de Tamara Jenkins
Críticas, Sem Sala 0

Private Life (2018) de Tamara Jenkins

De João Araújo · Em 5 de Novembro, 2018

Um melancólico, agridoce e humorístico retrato de um casal a atravessar uma crise antecipada de meia-idade, este é um filme que manobra agilmente entre os terrenos do drama e da comédia. Private Life (Vida Privada, 2018) é o primeiro filme de Tamara Jenkins em onze anos, altura do maravilhoso The Savages (Os Savages, 2007), e apenas o terceiro na sua filmografia – Slums of Beverly Hills (1998) completa uma obra que merece atenção. Se em The Savages Jenkins usava a história de dois irmãos (os magníficos Laura Linney e Philip Seymour Hoffman), obrigados a lidar com a deterioração da saúde do seu pai para enfrentarem a sua própria mortalidade e o seu lugar na vida, entre o desespero e a redenção, aqui a história revolve à volta de um casal à procura do primeiro filho, colocados à prova por uma sucessão de tormentas que testam a sua perseverança e a sua relação, numa espécie de À Espera de Godot parental.

Private Life (2018) de Tamara Jenkins

Esta é uma obra que segue uma longa tradição de um subgénero particular do cinema independente americano, de filmes dedicados às vidas urbanas de personagens geralmente de classe média, muitas vezes residentes de Nova Iorque e ligadas ao mundo artístico, que incidem sobre as angústias e transições da vida adulta, de famílias à beira de um ataque de nervos, de relações amorosas conturbadas, obras que não raras vezes recorrem ao humor como forma de desarmar os dramas – mesmo que o humor se evapore, ajuda a lidar com a história. Penso sobretudo nalgum cinema de Woody Allen e nas suas muitas variações neuróticas de histórias nova iorquinas, mas também podemos considerar alguns dos seus “herdeiros” cinemáticos: Noah Baumbach, da família em desintegração em The Squid and the Whale (A Lula e a Baleia, 2005) à família à procura de salvação em The Meyerowitz Stories (New and Selected) (2017), passando pela artista em processo de maturação de Frances Ha (2012); e mais recentemente Little Men (Homenzinhos, 2016) de Ira Sachs, Obvious Child (2014) de Gillian Robespierre e The Big Sick (Amor de Improviso, 2017) de Michael Showalter, são filmes que pertencem a esse universo partilhado com esta mais recente obra de Tamara Jenkins.

A primeira cena de Private Life é sintomática do jogo de aparências que o filme explora, entre o drama e a comédia: uma mulher deitada na cama em trajes menores, um homem que se aproxima, pergunta-lhe se ela está preparada, a sugestão de uma cena romântica, e… ele injecta-a com uma seringa, parte de um tratamento de fertilidade – segue-se uma discussão, não há afinal muito romance, nem sexo, neste casal à procura de engravidar, e isso é a primeira piada. Ela é Rachel (por Kathryn Hahn), uma escritora de renome, e ele é Richard (Paul Giamatti), um dramaturgo que gere agora uma loja de pickles. Mas qualquer aparente estabilidade emocional e social é afinal frágil, questionada pela demanda do casal por um filho.

É um modelo “clássico”, da escrita aliada a uma mise-en-scène, para criar um toque de comédia realista sobre eventos absurdos que pedem que se evoque o humor para os suportar.

À medida que se sucedem as diferentes tentativas e tratamentos, quer seja a fertilização in vitro, o escrutínio da adopção ou a incerteza do recurso a uma “barriga de aluguer”, as consultas, injecções e entrevistas desgastam aos poucos a esperança do casal. Além da impotência física, o casal vive sob o peso de uma impotência psicológica, quer pelas diferentes desilusões, quer baseada num sentimento de perda, de pavor existencial em relação a um mundo conturbado e em transformação, e a impossibilidade de conseguir fazer alguma coisa para mudar: os amigos com as suas famílias em construção, os vizinhos mais novos sempre em festas, um bairro que não parece contemplar a sua existência tranquila e solitária.

Porém, quer o casal quer o filme recusam entrar em fatalismos. Por um lado, o filme desarma a tensão através de pequenos momentos de humor visual que sublinham o disparate de certas situações, muitas vezes através de composições que surgem como punchlines: a imagem dos dois deitados lado a lado na clínica, o ponto de vista da personagem a olhar para o médico, a dúvida sobre manter um quadro explícito na sala antes de uma visita, o desconforto partilhado das salas de espera; por outro lado, a escrita dos diálogos é inteligente e cáustica, reveladora de uma ironia mordaz como forma de lidar com as desilusões diárias (“she’s got a B.A. in journalism and cinema studies, no wonder she’s selling her eggs, she can’t get a job” e uma discussão sobre a responsabilidade de Gloria Steinem na sua actual condição destacam-se), em muito ajudada pelo timing impecável dos actores. É um modelo “clássico”, da escrita aliada a uma mise-en-scène, para criar um toque de comédia realista sobre eventos absurdos que pedem que se evoque o humor para os suportar.

Além destas duas componentes, o filme balanceia as tribulações momentâneas com uma esperança possível de mudança, e isso aparece com a introdução de uma nova personagem que vai abalar a vida do casal e do próprio filme. Trata-se de Sadie (Kayli Carter, um nome a reter), sobrinha do casal, que com o seu futuro académico em causa depois de suspender os estudos, é acolhida pelo casal no seu já pequeno apartamento. No preciso momento em que o casal discute a possibilidade de recorrer a uma doadora de óvulos, e as consequências éticas e emocionais que isso acarreta, eis que surge assim uma possível solução.

Mais do que as implicações e complicações morais desta escolha, o filme parece mais interessado em mostrar a transformação e revitalização do casal, que parece agora redescobrir o entusiasmo pela vida – a forma como Sadie, mesmo que ingenuamente, romantiza o modo de vida do casal e vê algo nos dois que estes parecem ter esquecido, faz com que estes aprendam a apreciar o processo e não a obcecar apenas com os resultados finais. Por entre embates de frente com os contratempos da vida e verdades amargamente divertidas, a forma como o filme mostra como as personagens encontram humanismo nas adversidades é talvez o maior triunfo do filme, ao enaltecer uma velha máxima: “it’s not the load that breaks you down, it’s the way you carry it”.

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João Araújo

"I don't think the film has a grammar. I don't think film has but one form. If a good film results, then that film has created its own grammar" Yasujiro Ozu in "Ozu and The Poetics of Cinema", David Bordwell

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