Em 1941, em gozo da sua plena neutralidade, Portugal proíbe filmes alemães, americanos ou ingleses de propaganda mais directa à beligerância na Segunda Guerra Mundial. Por conta desta lei, por exemplo, o célebre The Great Dictator (O Ditador, 1940) de Chaplin só estrearia nas salas portuguesas em Dezembro de 1945. O mesmo aconteceria com Casablanca (1942) de Michael Curtiz, que só estrearia em Portugal, no Politeama, a 17 de Maio de 1945, dez dias após o fim de Guerra na frente europeia. Mais extraordinário é o caso de The Grapes of Wrath (As Vinhas da Ira, 1940) de John Ford, proibido por “tendências subversivas” e que só estrearia por cá em Outubro de 1979.
Ao mesmo tempo, são autorizadas exibições de actualidades estrangeiras, desde que antecedidas por uma legenda exigindo ao público que não manifestasse “agrado ou desagrado, sob pena de essas actualidades deixarem de ser exibidas”. Excepcionalmente, séries como A Alemanha em Guerra (no Cinearte, a 4 de Junho de 1941) ou A Grã-Bretanha em Guerra (no Coliseu, a 19 de Setembro de 1941) eram autorizadas para exibições organizadas pelas próprias embaixadas. Outro caso curioso seria o de Mrs. Miniver (A Família Miniver, 1942) de William Wyler, estreado no São Luiz a 28 de Fevereiro: ao fim de duas semanas, por pressão da Embaixada Alemã em Lisboa, a censura iria cortar uma cena com um soldado nazi.

A censura foi suavizada nos anos seguintes, devido ao longo desenrolar do conflito. Entre outras excepções, a partir de Outubro de 1943, a propaganda da Alemanha Nazi estabeleceu uma parceria com a gerência do Cine Ginásio para uma programação cinematográfica maioritariamente alemã. Em pleno conflito mundial, os nazis passaram a dispor de uma sala exclusiva “especializada” em filmes da UFA (Universum Film Aktien Gesellschaft), a popular produtora alemã que revelara Fritz Lang, Friedrich Murnau, Marlene Dietrich ou Leni Riefenstahl.

Fundado em 1845, o então Theatro Gymnasio foi sobretudo um espaço para apresentação de espectáculos teatrais, residência de renomadas companhias nacionais como Maria Matos-Mendonça de Carvalho (1916-1918), Lucinda Simões (1919-1920) e Alves da Cunha (1920-1921). Um grande incêndio em 1921 ditou a sua remodelação e nova reabertura em 1925. A falta de público convenceria os promotores do espaço a adaptá-lo também para exibições cinematográficas. Em 1932, o Cine Ginásio é inaugurado e o cinema passa a ser a ocupação principal da histórica casa de espectáculos.

Desde 21 de Outubro até final de 1943, em apenas 9 semanas, estreariam no Ginásio cinco filmes de produção alemã, entre eles: Tanz mit dem Kaiser (Dança com o Imperador, 1941) de Georg Jacoby, Münchhausen (O Barão Aventureiro, 1942) de Josef von Báky, e Verwehte Spuren (Pista Descoberta, 1938) de Veit Harlan. No ano seguinte, seriam oito as estreias alemãs ao longo do ano no Ginásio, entre os quais Der große König (O Grande Rei, 1942) de Veit Harlan, vencedor da Taça Mussolini no Festival de Veneza na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Finalmente, em 1945, estreariam mais quatro filmes alemães até à data do armistício, nomeadamente Wiener Blute (Sangue Vienense, 1942) de Willi Forst, também vencedor da Taça Mussolini em Veneza.



Envolvida na parceria entre Ginásio e a Embaixada Alemã estava também a distribuidora Mundial Filmes. Terão sido, muito provavelmente, os interesses económicos desta distribuidora que justificariam que no período de “programação nazi”, entre Outubro de 1943 e Maio de 1945, apenas três filmes de longa-metragem não-alemã fossem exibidos no Ginásio, no caso franceses: O Clube dos Namorados (estreia a 17 de Fevereiro de 1944), Já Sou Mulher (estreia a 8 de Abril de 1944) e A Sua Causa Maior (estreia a 20 de Maio de 1944).

Em 1944, quase um ano após o início da gestão nazi, o Ginásio seria redecorado por um engenheiro da UFA. A parceria do Ginásio terminaria em 1945, com a rendição e o consequente desmantelamento da propaganda nazi. O fim do Ginásio chegaria alguns anos mais tarde, em 1952.
