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Um fascista na terra dos Sovietes

De Paulo Cunha · Em 3 de Fevereiro, 2019

Entre 1928 e 1931, um país europeu com um regime militar ditatorial proto-fascista permitiu que nas suas salas de cinema fossem exibidos uma dúzia de filmes de produção soviética. Esse país chama-se Portugal, que iniciara a 28 de Maio de 1926, com um golpe militar e a dissolução da Assembleia da República, um período de Ditadura Militar que prepararia e conduziria o país ao Estado Novo.

Naturalmente, as sessões autorizadas com estes filmes, apenas nas cidades de Lisboa e do Porto, provocaram diversas reacções. Entre protestos públicos e outras manifestações de indignação, alguns filmes foram sujeitos a cortes da censura [Staroye i novoye (A Linha Geral, 1929) de Sergei M. Eisenstein] ou a proibição integral no próprio dia da sessão de estreia [Novyy Vavilon (1929) de Grigoriy Kozintsev & Leonid Trauberg].

O jornal Diário de Lisboa era acusado de ser um meio de propaganda bolchevique apenas porque escrevera textos elogiosos aos filmes russos exibidos nas nossas salas. Ironicamente, estas acusações surgiam a propósito de Wolga Wolga (Volga, Volga, 1928), um filme alemão realizado por um ucraniano, Victor Tourjansky, que abandonou a Rússia após a revolução bolchevique, tendo trabalhados em estúdios alemães e norte-americanos.

A responsabilidade pela distribuição deste filme foi da Sociedade Geral de Filmes, Lda, uma empresa recém-inaugurada gerida por João Botto de Carvalho, que era simultaneamente o director da revista Imagem, que publicaria a primeira séria entre Junho e Outubro desse ano, apenas com 5 números, e que reuniu um conjunto de colaboradores impressionante: Chianca de Garcia, Brum do Canto, Félix Ribeiro e Ferreira de Castro, entre outros.

Neste puzzle, falta apenas referir a peça central: António Lopes Ribeiro. Então com apenas 20 anos de idade, Lopes Ribeiro era um cinéfilo entusiasta, pioneiro da crítica de cinema na imprensa portuguesa. Começara a publicar críticas e crónicas sobre cinema no Diário de Lisboa, em 1926, sob o pseudónimo Retardador. O jovem crítico também estava na equipa de colaboradores da Imagem. Também integrou, com João Botto de Carvalho, uma comissão que preparou a instalação em Portugal dos primeiros estúdios de cinema sonoro.

Nesse contexto, António Lopes Ribeiro e José Leitão de Barros empreenderiam uma viagem pela Europa para conhecer os principais estúdios de cinema do velho continente e para sinalizar eventuais parceiros para a empreitada. O destino final era Moscovo, por esses anos a proibida capital dos Sovietes.

Quando sairam de Lisboa, o bilhete de comboio comprado só garantia viagem até Varsóvia. Em Paris, os viajantes portugueses lá conseguiram a tão desejada e necessária autorização para entrar na União Soviética, após um calvário burocrático que alguns dias e algumas idas ao consulado e à embaixada soviéticas na capital francesa.

Berlim foi uma paragem obrigatória, por esses anos a capital cinematográfica da Europa, muito graças à Universum Film Aktien Gesellschaft, mais conhecida pela sigla UFA. Foi aí que terminou a viagem para Leitão de Barros, que aí se despediu de Lopes Ribeiro e regressou a Portugal.

Da capital alemã, o comboio segue para Lodz e depois para Varsóvia, ponto de paragem. Na capital polaca, o crítico português visitou um dos dois estúdios polacos então em actividade, o Dan Karen Studio, concluindo, com espanto, que os polacos não dispunham de melhores condições técnicas que os portugueses. Ainda na Polónia, onde viu Potomok Chingis-Khana (Tempestade na Ásia, 1928) de Vsevolod Pudovkin, em Maio de 1929, Lopes Ribeiro acreditava que o filme estrearia em Portugal, apesar de alguns receios por parte dos censores, o que viria a acontecer mesmo em Dezembro desse mesmo ano.

https://www.youtube.com/watch?v=JPctkvMQTts
Excerto de Tempestade na Ásia, 1928.

Ainda antes de visitar a União Soviética, António Lopes Ribeiro já confessava um fascínio especial pela política cinematográfica do estado soviético, a par do italiano, considerando-os os únicos governos europeus que não tratavam o cinema como um inimigo. Para se preparar para a visita, Lopes Ribeiro devorou o livro L’Autre Europe: Moscou et sa foi, da autoria do médico e escritor francês Luc Durtain (1881-1959), publicado nesse mesmo ano, uma espécie de reportagem de um dos primeiros europeus a visitar a capital russa após a sovietização, e que se revelaria um precioso guia para o português.

A tão desejada entrada na União Soviética deu-se por Negoreloye, hoje uma cidade bielorussa próxima de Minsk, então a principal fronteira ferroviária ocidental dos soviéticos. Daí, o comboio seguiu directo a Moscovo. Após algumas peripécias, Lopes Ribeiro acabaria por ficar instalado no VOKS (Sociedade das relações culturais da URSS), um departamento criado em 1924 para acolher agentes culturais estrangeiros de visita a Moscovo, situado na rua Tverskaya, bem próximo da Praça da Revolução.

Na capital moscovita, Lopes Ribeiro terá conhecido pessoalmente Sergei Eisenstein e Dziga Vertov, mas não restam hoje informações detalhadas sobre esse suposto contacto. Bénard da Costa garante que foi nesta viagem que Lopes Ribeiro comprou os direitos de exibição de vários filmes russos que seriam exibidos em Portugal nos meses seguintes.

De facto, os filmes soviéticos regressaram às sala portuguesas em Outubro de 1929, com a estreia no São Luiz de Babi Riasankiie (A Aldeia do Pecado, 1927) de Olga Preobrajenskaia. No dia 17 de Dezembro seguinte, o mesmo cinema recebia a tão aguardada estreia de Tempestade na Ásia. Em 1930, estreariam mais sete títulos, entre os quais: Mat (A Mãe, 1926) de Pudovkin e A Linha Geral. Finalmente, em 1931, estreariam mais dois filmes: a 9 de Fevereiro, no Cinema Central, Kapitanskaia Docka (A Filha do Capitão, 1928) de Jurij Taritsch; e a 4 de Março, no Odeon, Jeio Put (Calvário, 1928) de Alexander Strischat & Dimitri Posnanski.

Ainda que acidentadas, estas sessões deixaram uma marca no cinema português de então. Chianca de Garcia, por exemplo, confessou que o seu Aldeia da Roupa Branca (1938) tinha sido “concebido como uma Linha Geral amena, popular”: “Trata-se, no fundo, da mesma história de substituição de um processo coletivo antigo, por um processo coletivo novo, baseado na máquina” (o trator de Eisenstein e a camioneta de Caneças).

Aldeia da Roupa Branca (1938, Chianca de Garcia)

Quanto aos restantes filmes soviéticos que não estrearam neste período, como os icónicos Bronenosets Potemkin (Couraçado Potemkin, 1925) de Eisenstein ou Chelovek s kino-apparatom (O Homem da Câmara de Filmar, 1927) de Dziga Vertov, tiveram de esperar até 1974 para poderem ser exibidos em salas de cinema portuguesas.

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Paulo Cunha

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