Tsvet armyanskoy zemli (The Color of Armenian Land, 1969) de Mikhail Vartanov
Formas expandem-se, movimentos delineiam as linhas da ilusão, planos contemplam – e representam – a multiplicidade da significação. O concreto retira-se do abstracto, o abstracto retira-se do concreto: um percurso infindável de crença no real, de busca interminável pela fé no imaginário.
Uma terra, uma cor, uma voz. O movimento, a construção da imagem dá-se através do olhar sobre (e d)o outro, numa paisagem singular de distância incalculável. A claridade prevalece sobre o desconhecido: as peças são a vida, a luz que cria – e que é – a terra.
Retratos (des)conhecidos, objectos da eternidade, perfis de uma cultura. A – alma da – obra está no desenho do espírito da nação: no resultado da tradução, da materialização dos desejos, dos medos, dos pensamentos, dos impulsos daqueles que moldam as cores, as formas do concreto num imaginário sem fim.
A palavra ausente, a voz do natural, o canto da tradição. Cruzamentos num tecido que nos encaminha pelos passos do individual – o artista, a obra – e do colectivo – a terra, a obra. Sopros de leveza bruta, numa dança de transcendência imaterial. No físico, temos séculos, milénios; presentes e passados de erupções expressivas, captadas na lente do (futuro potencial in)tempo(ral).
Esse é o princípio e o fim: o oculto que vinga.
Esse é o fim do princípio: a arte da elevação da obra.
Esse é o gesto oculto: o olhar que observa, o olhar que antecede – e transparece – a concretização.
Esse é o prelúdio adiado: o primeiro passo da voz silenciada, do olhar (quase) perdido.
Essa é a dança, a canção, o quadro, a escultura, o desenho, a forma, a nação.
Essa é (tão somente) a sua voz , essa é a sua (tão sua) cor, essa é a sua (e talvez a nossa, tão nossa, tão densa, tão clara) terra.
Esse é o todo.
Este é um esboço, um toque de nada.
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“In his censored 1969 documentary debut, which resulted in his decades-long blacklist, Mikhail Vartanov presents the ancient and the modern art of Armenia (…). The Color of Armenian Land features the now world famous behind-the-scenes sequences of Sergei Parajanov at work on his landmark film Sayat Nova [A Cor da Romã, 1969]. It was the portrayal of the nonconformist Sergei Parajanov and Minas Avetisyan that caused The Color of Armenian Land to be shelved while Vartanov was blacklisted. When his artistic freedom was restored 20 years later, he responded with Minas: A Requiem (1989) and Paradjanov: The Last Spring (1990), completing a trilogy. The Color of Armenian Land (…) had its first public screening (…) 43 years after it was made.” – referência aqui.