Celebrou-se no passado dia 20 de janeiro o centenário do nascimento de Federico Fellini, um dos maiores nomes da história do cinema. Ainda que tenha nascido (em Rimini, em 1920) e vivido em Itália (em Roma, a partir de 1939), apenas por uma vez visitou Portugal, no já longínquo ano de 1957, com a sua musa Giuletta Masina. A ocasião foi ditada pela estreia de Le notti di Cabiria (As Noites de Cabíria, 1957), no cinema Império, na noite de 27 de Novembro de 1957.
Assegurada a distribuição de As Noites de Cabíria, que estreara meses antes em Cannes, a Sonoro Filme preparou uma operação mediática sem precedentes: o filme seria um exclusivo do cinema Império durante um ano e a estreia do filme foi abrilhantada pelas presença do realizador, do director de fotografia Aldo Tonti e da protagonista do filme, Giuletta Masina, a verdadeira atracção mediática.
À época, Felinni juntava já algumas conquistas significativas no seu curriculum: três anos antes, com La Strada (A Estrada, 1954), tinha vencido o Leão de Prata em Veneza e o Oscar para Melhor Filme Estrangeiro. Antes disso, enquanto co-argumentista, já havia sido candidato ao Oscar com Roma città aperta (Roma, Cidade Aberta, 1945), de Roberto Rossellini e Paisà (Libertação, 1946), também de Roberto Rossellini.
Ainda assim, como atesta a cobertura mediática, e a própria campanha de promoção, a grande vedeta desta operação foi mesmo a protagonista do filme, que havia conquistado o prémio para Melhor Actriz no festival de Cannes em Maio desse ano.
A operação terá sido mesmo um sucesso, justificando que a 16 de Maio de 1958, com distribuição da Castello Lopes, o Eden estreasse Lo sceicco bianco (O Cheik Branco), um filme realizado pelo cineasta italiano em… 1952! Da visita a Lisboa seria ainda publicado um álbum com 58 fotografias (10 em formato 6x9cm e 48 em formato 10×16 cm), da responsabilidade da Mundial Fotos, que documentam a chegada a Portugal, a presença em Lisboa na ante-estreia (erradamente identificada como tendo sido no São Jorge) e o regresso a Itália.
No entanto, a acção da censura haveria de “acalmar” distribuidores e exibidores: La Dolce Vita (A Doce Vida, 1960), Boccaccio’70 (1962, onde Fellini realiza um dos segmentos), Giulietta degli spiriti (Julieta dos Espinhos, 1965), Fellini – Satyricon (Satyricon de Fellini, 1969) e Amarcord (1973) seriam proibidos e só seriam exibidos em Portugal após a queda do fascismo. As duas excepções foram 8½ (Fellini 8½, 1963) e Roma (Roma de Fellini, (1972).