Caderneta de Cromos é um questionário breve, mais ou menos imbecil, sobre o mundo do cinema, em geral, e sobre o mundo em toda a sua inteireza, em particular. O feliz contemplado desta edição é o humorista Hugo Simões, autor com Luís Francisco Sousa, da série de culto A Bola Maciça e criador do Podcast A Hora da Rádio. Celebramos a Segunda Temporada deste verdadeiro banquete maciço de humor nonsense – em cartaz na SIC Radical, todos os sábados à noite e repetindo algumas vezes em horário indefinido – com mais uma edição da Caderneta de Cromos, o inquérito (cinéfilo? Também!) mais estrambólico da Internet.

1. Gostava de ouvir a tua opinião sobre a seguinte frase cujo autor não vou atribuir: “sandes de panado”.
Calha bem porque, quer quisesses quer não, começaria por aí. Às vezes há coisas que, moídas de fininho pela nossa cabecinha, mesmo assim não dão de si. Assim é a “sandes de panado”. A sandes de panado, diga-se, é uma sandes de sandes. Se sandar é envolver com pão, pois é isso um panado. Se o panado é uma sandes, a sandes de panado é uma sandes de sandes. Uma sandes da sandes que o panado for. Mas pode a sandes estar refém do conteúdo do panado? Quem é o panado, que à sandes não se diz? Não é ninguém, amigo. Não é ninguém.
2. Para despachar o “debitanço” das referências cinéfilas da comédia, gostava de te perguntar: qual é aquele comediante, actor ou realizador, filme ou série, que te esqueces sempre de referir em conversas ou entrevistas e que só te lembras a tarde e a más horas, quando já não está ninguém para registar?
Garth Marenghi’s Darkplace (2004)! Garth Marenghi’s Darkplace! Garth Marenghi’s Darkplace! Vejam, que está no youtubi.
3. O que te esqueces mais vezes em casa: do telemóvel, da carteira, das canetas, do batom do cieiro, da máscara ou da edição Ultra HD 4K Dual Format de Monty Python and the Holy Grail (Monty Python e o Cálice Sagrado, 1975)?
Da carteira.
4. Sabemos que és um novo talento da comédia em Portugal. Por isso, gostava de saber qual a tua opinião sobre o actual estado do sector dos transportes e… onde é que está o Pardal Henriques?
A saber de alguma coisa, sei de ferrovia. Mas como dizia meu compadre Quelemém, os transportes estão como hão-de ir.
Já o Pardal Henriques, parecendo que não, encontrei-o n’O Bitoiro, um café cá do pedaço. Estava de volta duns palitos, a fazer que eram rodinhas. Partia-os de mansinho, para não se despegarem, e depois fazia as rodas. Ficava tudo cheio de cantos. Mas ele não via, e tem mais lunetas que pescoço. Quando saí ele ainda estava naquilo, e dizia para si: “ainda vais fazer um carro…”. Todo cheio de farpas.
5. Agora uma pergunta mais séria: é possível uma pessoa ver A Bola Maciça e mesmo assim dizer-se um “intelectual de esquerda”?
Dizer-se um intelectual é cocó, logo à partida. Quem o diz é quem o come. E anda tudo à caça, ôxa! No meio dessa nhaca toda A Bola Maciça é a Helter Skelter: quem quer meter coisas na cabeça, mete. Mas é para ouvir alto e no final o Ringo tem bolhas nos dedos.
6. Voltando às referências pop mas nacionais, há algum comediante português que devia estar a fazer humor absurdo neste preciso momento da sua carreira? Para além de Fernando Mendes, claro.
Para além de Fernando, ninguém.
7. Põe quatro dos teus realizadores favoritos a apresentarem os seguintes programas de TV portugueses: Quem Quer Ser Milionário?, Preço Certo em Euros, Passadeira Vermelha e moderando A Circulatura do Quadrado.
Não cedo ao cunhismo! Depois vai tudo querer meter-me a cunha para substituir o Palmeirim. Escolho antes quem se presta ao ofício: para o Preço Certo fica o Renoir, que é parrudo, tem arcaboiço – mais Victor Mendes que Fernando. Quem diz Passadeira Vermelha diz Tarkovsky, que além do óbvio, cruza bem a perna. O Quem Quer Ser Milionário? manca com um apresentador só, por isso leva dois: Powell e Pressburger, ao colo um do outro, a fazer crochet ao som do timer (tem som? Tem timer?). A Circulatura do Quadrado, o nome mais estúpido desde Vamberto, quero ver moderada (moderado?) pelo Leone, de charuto, para ficar tudo cheio de fumo e a-fungar-a-fungar e no final ele apaga a beata no Jorge Coelho. Ou no Lobo Xavier.
8. Na nova temporada da Bola Maciça, Pedro Mexia surge como uma espécie de locutor de continuidade ou o vosso muito particular Criswell [Plan 9 from Outer Space (Plano 9 do Vampiro Zombie, 1957)]. Admite: tentaram antes o Pacheco Pereira, não foi?
Edmundo Calcifredo só há um. Mas o cabelo do Nuno Rogeiro foi muito tentador.
9. Queria agora que nos arranjasses uma frase provocadora para depois destacarmos nas redes sociais ou fazermos click bait usando, sem decoro, o teu nome. Obrigado.
“O limite do humor é o meu traseiro.”
10. Por fim, um jogo que se tornará habitual na rubrica. Abrimos este espaço para poderes enviar uma mensagem ao Presidente de Portugal: Luís Filipe Vieira.
Cávani? Cavaní? Cavâni?