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Ver, tocar, possuir

De À pala de Walsh · Em 27 de Janeiro, 2021

No meu tempo, os animais ainda falavam e não havia cinematecas. Nem dvds nem vídeos sequer. Se não se vivesse em Paris, Pierrot le fou (Pedro, o Louco, 1965) conservava-se anos numa espécie de wishlist interior, antes de o cineclube local o exibir numa cópia em 16mm meia desfigurada. O cinéfilo era um ser paciente, lia muito e imaginava ainda mais. Ademais, tinha apenas a memória como arquivo; rever um filme podia implicar esperar mais uns anos ou revelar-se mesmo impossível. Era uma época horrível.

Muitos suportes depois, vivemos hoje uma espécie de idade de ouro da cinefilia. O trabalho de conservação e divulgação (este último frequentemente limitado aos grandes centros) das cinematecas é considerável e todas as grandes superfícies têm um escaparate oferecendo edições DVD de clássicos do cinema como Gladiador e Matrix…

Que ver filmes em casa não é o mesmo que os ver em sala, parece-me uma evidência. Que os formatos “caseiros” venham a substituir o cinema em sala, parece-me uma perda irremediável. Mas que o acesso quase relâmpago àquela wishlist interior é um fenómeno cultural enriquecedor, parece-me inegável. 

Vídeo, laserdisc, DVD, blu-ray… Os suportes foram-se aperfeiçoando e a introdução da tecnologia digital transformou os mais recentes em verdadeiros complementos, quando não concorrentes, da película, operando uma verdadeira ruptura epistemológica na cinefilia: passava a ser possível ver, rever, ver parcialmente, etc., com uma qualidade muito apreciável, grande parte do cânone cinematográfico estabelecido (não de todo, não nos enganemos) e, mesmo, reapreciá-lo, com um simples controlo remoto.

Lembro-me com nostalgia dos primeiros anos do DVD. Os conteúdos eram quase exclusivamente constituídos pelas saídas recentes dos grandes estúdios. Havia excitação no ar com o anúncio de novas edições, muitas delas de péssima qualidade, constituídas por simples transferências das edições vídeo, pan & scan incluído, mas muitas outras excelentes e com trabalhos editoriais mais cuidados, permitidos pelos novos formatos. Duas décadas depois há ainda muito caminho a percorrer, mas o espírito de coleccionador teve razões, terreno e tempo para medrar.

E como medrou! Podia encher páginas e páginas descrevendo as várias fases da minha colecção, revelando as várias fontes de alimentação, os caminhos percorridos em busca de raridades, as descobertas feitas nos locais mais insólitos, os erros cometidos pela precipitação, as pérolas encontradas ao fim de uma pesquisa intensa… Para este testemunho, pedem-me apenas que destaque do conjunto um dos meus “tesouros”. Vão dois, correspondentes a fases e formatos distintos.

The Crowd (DVD — edição pirata chinesa)

Do ponto de vista do cinéfilo coleccionador, aqueles primeiros anos do DVD foram simultaneamente excitantes e frustrantes: havia pela primeira vez a possibilidade de “tocar” nos filmes que amávamos e, mesmo, “possuí-los”, mas havia também que enfrentar a lei da selva e sujeitarmo-nos à preguiça das editoras. Levou muito tempo até que estas se apercebessem de que o património histórico tinha o seu nicho de público e podia, inclusive, ser rentável. Com o tempo, a coisa foi melhorando, mas não se pense que a guerra está ganha. Cada um de nós tem o seu exemplo de filme “canónico” ou simplesmente favorito que não tem nenhuma edição oficial — ou de qualidade mínima — em suporte digital em nenhuma parte do mundo. Os dois primeiros que me vêm à cabeça, e não dos menores: La maman et la putain (A Mãe e a Puta, 1973), de Jean Eustache; Xi meng ren sheng (The Puppetmaster, 1993), de Hou Hsiao-hsien.

Os livros sempre fizeram parte dos meus souvenirs de viagem; a partir de certa altura, somaram-se os DVD. Da minha viagem à China, em meados da primeira década do século, livros não vieram muitos…; porém, o mesmo não poderei dizer dos DVD.  A “criança dentro de mim” deslumbrou-se ao descobrir as inúmeras lojas de vão de escada ou de quarto dos fundos repletas de DVDs, todos editados localmente, sem o menor respeito pelas regras da OMC, na sua maioria com títulos ilegíveis e capas irreconhecíveis, misturados com raridades, à época inexistentes no ocidente (algumas ainda hoje) como Lancelot du Lac (Lancelote do Lago, 1974) do Bresson ou The Sun Shines Bright (O Sol Nasce para Todos, 1953) do Ford. Realizadores como Jia Zhang-ke reconheceram já que a sua formação cinéfila se deveu em grande parte à edição pirata dos clássicos do cinema, de outra forma impossíveis de aceder à esmagadora maioria dos estudantes e do público em geral chinês.

Por entre as preciosidades que vieram na minha bagagem, encontrava-se a obra-prima de King Vidor The Crowd (A Multidão, 1928). Na minha colecção, o valor deste DVD excede largamente o valor de estimação de uma “recordação” de viagem: não fôra ele, teria tido de prolongar em relação a este filme a espera, mantendo-o por tempo indefinido na wishlist interior pois ainda hoje, por estranho que pareça, é difícil encontrar uma edição — não falo de uma edição decente, mas tão simplesmente de uma edição qualquer — de uma das obras mais emblemáticas do cinema mudo. Ainda por cima, embora a navegação no menu do DVD exija cautela, a qualidade da imagem é surpreendente.

America Lost and Found — The BBS Story (Blu-Ray — Criterion)

O segundo tesouro corresponde já a outro formato — a alta definição — e a outro cuidado no tratamento dos clássicos — a edição com “curadoria”, apanágio de umas poucas editoras de ambos os lados do Atlântico. 

Tendo começado ainda na época do laserdisc, a Criterion impôs-se como uma das mais sérias nesse segmento do mercado, e o seu “selo” é quase sempre garantia de qualidade. A caixa que dedicou ao grupo independente que ficou conhecido como BBS Productions (sigla resultante dos nomes dos seus principais “membros”, Bob Rafelson, Bert Schneider e Steve Blauner) contém sete filmes, alguns deles dos mais emblemáticos do New Hollywood. Cada filme, para além de ter sido objecto de uma transferência para HD ultracuidadosa (são cópias “pristinas”, como se diz na gíria), vem acompanhado por uma avalanche de comentários e entrevistas com todos os realizadores (por vezes dois comentários, como no caso de Bogdanovich) ou membros do cast, documentários, makings-of e outros documentos, que ajudam a contextualizar e a compreender a época em que surgiram e o significado que tiveram. 

O conjunto pode ser abordado de várias maneiras, quer ao sabor de um hedonismo momentâneo — que melhor sessão de abertura do que The Last Picture Show (A Última Sessão, 1971), o filme fundador da minha cinefilia —, quer com um pendor mais académico, seguindo uma ordem cronológica — começando por Head (1968), o mais antigo do grupo, e terminando por The King of Marvin Gardens (O Rei de Marvin Gardens, 1972), ambos de Bob Rafelson — e complementando as sessões com os luxuosos extras. Um trabalho exemplar e fascinante. Horas de prazer; o melhor antídoto para o confinamento.

Carlos Nogueira, cinéfilo e programador de cinema

Texto escrito em resposta ao nosso apelo em defesa dos suportes físicos, publicado no dia 19 de Novembro de 2020 e assinado pelos editores do À pala de Walsh.

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