Jorge Leitão Ramos é um dos críticos de cinema em Portugal que escreve há mais anos nos jornais. Começou em 1975, tendo passado pelo Jornal Novo, Se7e e Diário de Lisboa, escrevendo, desde 1988, no Expresso. Também fez rádio e televisão. Escreveu vários livros sobre cinema português, em especial a fundamental publicação em três volumes, Dicionário do Cinema Português 1895-1961, 1962-1988 e 1989-2003. O sua vasta base de dados dedicada ao cinema português encontra-se agora em linha, em constante actualização, em Memoriale do Cinema Português.

O que me move a continuar a comprar assiduamente filmes em DVD e em Blu-ray não é o simples prazer de coleccionar (que também sei o que é – e sinto), mas a vontade de ter à mão, disponíveis a qualquer momento, filmes que me apeteça ver ou sobre os quais tenha que voltar a escrever profissionalmente. Porque, nesta idade em que se diz que tudo está disponível na internet (e não está, legalmente não está – e para a pirataria não me convidem…) a verdade é que, quando de súbito tenho vontade de ver (ou de mostrar a alguém) um filme de Lubitsch, ou de Imamura, ou de Truffaut, ou os tenho em casa ou a satisfação não se vai cumprir.
Em França, Inglaterra e Estados Unidos o grande cinema tem editores que o tratam com desvelo e até nichos menos óbvios merecem atenção. Não em Portugal, está bom de ver, onde os editores desertaram.
Para além disso, uma videoteca atenta às novidades pode sempre ir adquirindo as melhores cópias possíveis e, com o advento do Blu-ray, não faltam versões gloriosas. Em França, Inglaterra e Estados Unidos o grande cinema tem editores que o tratam com desvelo e até nichos menos óbvios (tenho visitado, com curiosidade, o giallo em edições muito cuidadas) merecem atenção, a provar que a morte dos formatos físicos está longe de ser uma realidade. Não em Portugal, está bom de ver, onde os editores desertaram e nem sequer todo o cinema português encontra fixação em suportes físicos.
Uma videoteca é como uma biblioteca, não me aliciem para viver sem uma ou sem outra. São caras amantes? Não sāo baratas, não, mas se o dinheiro não servir para alimentar os nossos prazeres, serve para quê?

Há anos a perseguir a globalidade dos filmes de Shohei Imamura, foi com grato prazer que adquiri esta edição britânica muito recente. Com ela acrescentei um filme raro desse cineasta japonês – Zegen (O Imperador dos Bordéis, 1987) -, ao mesmo tempo que substituía cópias em DVD por novas – e muito melhores – edições em Blu-ray de Narayama bushikô (A Balada de Narayama, 1983) e Kuroi ame (Chuva Negra, 1989).
Jorge Leitão Ramos – crítico de cinema
Texto escrito em resposta ao nosso apelo em defesa dos suportes físicos, publicado no dia 19 de Novembro de 2020 e assinado pelos editores do À pala de Walsh.