• Homepage
    • Quem Somos
    • Colaboradores
  • Dossier
    • Raoul Walsh, Herói Esquecido
    • Os Filhos de Bénard
    • Na Presença dos Palhaços
    • E elas criaram cinema
    • Hollywood Clássica: Outros Heróis
    • Godard, Livro Aberto
    • 5 Sentidos (+ 1)
    • Amizade (com Estado da Arte)
    • Fotograma, Meu Amor
    • Diálogos (com Estado da Arte)
    • 10 anos, 10 filmes
  • Críticas
    • Cinema em Casa
    • Em Sala
    • Noutras Salas
    • Raridades
    • Recuperados
    • Sem Sala
  • Em Foco
    • Comprimidos Cinéfilos
    • Divulgação
    • In Memoriam
    • Melhores do Ano
    • Palatorium Walshiano
    • Passatempos
    • Recortes do Cinema
  • Crónicas
    • Entre o granito e o arco-íris
    • Filmes nas aulas, filmes nas mãos
    • Nos Confins do Cinema
    • Recordações da casa de Alpendre
    • Week-End
    • Arquivo
      • Civic TV
      • Constelações Fílmicas
      • Contos do Arquivo
      • Do álbum que me coube em sorte
      • Ecstasy of Gold
      • Em Série
      • «Entre Parêntesis»
      • Ficheiros Secretos do Cinema Português
      • Filmado Tangente
      • I WISH I HAD SOMEONE ELSE’S FACE
      • O Movimento Perpétuo
      • Raccords do Algoritmo
      • Ramalhetes
      • Retratos de Projecção
      • Se Confinado Um Espectador
      • Simulacros
      • Sometimes I Wish We Were an Eagle
  • Contra-campo
    • Body Double
    • Caderneta de Cromos
    • Conversas à Pala
    • Crítica Epistolar
    • Estados Gerais
    • Filme Falado
    • Filmes Fetiche
    • Sopa de Planos
    • Steal a Still
    • Vai~e~Vem
    • Arquivo
      • Actualidades
      • Estado da Arte
      • Cadáver Esquisito
  • Entrevistas
  • Festivais
    • Córtex
    • Curtas Vila do Conde
    • DocLisboa
    • Doc’s Kingdom
    • FEST
    • Festa do Cinema Chinês
    • FESTin
    • Festival de Cinema Argentino
    • Frames Portuguese Film Festival
    • Harvard na Gulbenkian
    • IndieLisboa
    • LEFFEST
    • MONSTRA
    • MOTELx
    • New Horizons
    • Olhares do Mediterrâneo – Cinema no Feminino
    • Panorama
    • Porto/Post/Doc
    • QueerLisboa
  • Acção!
À pala de Walsh
Acção! 0

Esse rosebud é que é lindo!

De Francisco Noronha · Em 6 de Maio, 2021

Este texto já foi escrito. Ou melhor, filmado. Não o vou esconder: a ideia mais justa para o exercício que me foi proposto – “Let’s get physical”: contra o fim dos suportes físicos, a favor da liberdade do espectador – já eu a desenvolvi num filme co-realizado pelo walshiano Vitor Ribeiro em homenagem ao “Senhor Close-Up”: Cinco para Kiarostami (no qual, aliás, corrijo a ideia – que havia vertido num texto aquando do seu falecimento – relativa a uma cassete VHS, trazida de Inglaterra pela minha mãe, supostamente do Nostalgia de Tarkovsky, mas que correspondia, na verdade, a um filme do cineasta iraniano). Tati, O Sabor da Cereja, Tarkovsky, Chaplin… está tudo lá.

Estará? Nem tudo. Há uma coisa que falta. Um dos rosebud não resolvidos da minha vida. E, porém, subterraneamente conservo, insidioso, o desejo de que ele permaneça desse modo… não resolvido. Como se a impossibilidade de ligar totalmente as pontas das memórias mais remotas da minha infância animasse uma certa satisfação pela incompletude. Pela inquietação. Manter o mito; suspender a habitual frustração que o seu desvelar propicia. A cinefilia e a sua costela masoquista; nada de novo…

O rosebud de que falo corresponde a uma cassete VHS. Provavelmente, a um DVD, também (um Blu-ray, até!). Em que nunca toquei. A um filme, afinal. Que estreou, disto estou certo, em Portugal em meados/finais dos anos 90, teria eu 10 anos ou pouco mais. Um filme provavelmente originário de um país do Médio Oriente (talvez um pouco acima). Vinha engalanado no jornal Público com 5 estrelas por parte de todos os críticos da casa, o único filme que eu vira até então lograr tal proeza. Foi isso, na verdade, que me fez arrancar a minha mãe de casa para o irmos ver ao Cinema Passos Manuel. Muito provavelmente, a primeira vez que fui à sala de cinema – ainda hoje, resistente, em funcionamento – junto ao Coliseu do Porto. Embora à data eu estivesse obviamente longe de compreender o papel e a importância da crítica, tinha o hábito de olhar para o quadro das estrelas. Não tenho a certeza de saber explicar a razão para tal; gostava simplesmente, creio eu, de imaginar o que estaria por detrás dessas esfíngicas classificações.

Naquele dia, esse generalizado e faiscante aplauso chamou particularmente a minha atenção – “Porque é que estes senhores dizem que este filme é tão bom? O que é que eles viram? Quero perceber”. O mesmíssimo raciocínio que um cinéfilo conserva até ao fim dos seus dias, interessado que está não em apreciar ou desprezar um filme pelas mesmas razões do crítico (atitude que, existindo desde que o cinema é cinema, enche hoje em dia os estádios das redes sociais), mas simplesmente em pensar sobre elas. Pode detestar-se um filme pelas mesmas razões que o crítico o ama e vice-versa; pode detestar-se um filme por razões opostas àquelas pelas quais o crítico igualmente o detesta e pode amar-se um filme por motivos completamente diferentes daqueles pelas quais o crítico o ama; pode, até, passar a gostar-se mais (ou menos) de um filme de que originalmente não se gostou (ou gostou) depois de vistas as razões pelas quais o crítico o atacou (ou elogiou); … As hipóteses são infinitas. Quantas vezes não damos por nós a defender um filme – que, num contexto anterior, desprezámos – simplesmente pela forma (pelas razões) como o nosso interlocutor o está agora a desqualificar? Um cinéfilo sofre. Mas pelo menos pensa.

Quantas vezes não damos por nós a defender um filme – que, num contexto anterior, desprezámos – simplesmente pela forma (pelas razões) como o nosso interlocutor o está agora a desqualificar? Um cinéfilo sofre. Mas pelo menos pensa.

As vaguíssimas memórias que tenho dessa tarde no Passos Manuel (as outras cedi-as, naturalmente, ao sono) remetem-me para aquilo que, ao estilo de uma sinopse esburacada, tentarei, muito pobremente, descrever em seguida.  Ora então… Há uma família muçulmana, ortodoxa… A família viaja, atravessa lugares e paisagens, cruza estações do ano, uma família nómada…. Uma história de desonra familiar… Por alguma razão (uma relação proibida? Com um homem de outra casta ou credo? Ou uma virgindade corrompida?), a família excomunga uma mulher (a filha?)… A  família faz uma travessia por um deserto (?)… Num outro momento, há neve, muita neve…

  • (Citizen Kane, 1941, Orson Welles)

E, depois… escuridão total. A memória esvai-se-me. A minha mãe – quem não a conhecer que a compre – diz que não senhor, que não tirou um cochilo nessa tarde (como eu), mas, atendendo ao facto de se lembrar sensivelmente tanto do filme quanto eu, sou levado a crer que também ela terá “olhado para dentro” – sempre espantosa a agudeza, inclusivamente poética, de algumas expressões idiomáticas do Português corriqueiro – nessa tarde no número 137 da Rua Passos Manuel. Ai o slow cinema e os seus colaterais efeitos…

Acredite o leitor ou não, mas, depois desse glorioso flop, o miúdo que eu era não achou que o filme era uma porcaria, que tinha sido perda de tempo, que as pessoas dos jornais eram doidas ou, hélas, snobes. Antes: “Aqueles senhores viram algo que eu não vi”. O quê? Porquê? Como?

São estas, de resto, as perguntas que sempre me assaltaram, em muitos outros campos que não apenas o cinema, perante objectos causadores de estranheza. Em vez de distância, curiosidade. Em vez de rejeição, fascínio; um irreprimível desejo em compreender. Não para necessariamente concluir que afinal se gosta do que inicialmente não se inteligiu, pois que o gostar bem pode nada ter que ver com a razão. Pode compreender-se e detestar-se. Aliás, o segundo só é verdadeiramente possível uma vez verificado o primeiro – não compreender et por cause detestar é asnice.

Caro leitor, o momento de rogar a sua prezada ajuda enfim chegou: que filme é este?

Anos 90, Médio Oriente, mundo árabe, uma desonra familiar, deserto, neve, 5 unânimes estrelas no Público… Falta-me esse filme-trenó, quero saber qual é, tê-lo nas minhas mãos, preencher o buraco na sala de casa dos meus pais. Quero que tenha uma capa, um título grafado num tipo de letra que me surpreenda, os rostos das personagens que não vejo forma de imaginar (estará o da mulher ostracizada no centro da capa? Não sei, conjecturo, apenas…), o nome do realizador, dos actores, o ano…. Quero colocar o DVD no aparelho (ou a VHS, consigo reproduzir ambos…) e revê-lo com a minha mãe (o filme de Almodóvar é, vejo agora, um dos filmes que ladeia o buraco negro na fotografia acima sem que eu tenha conspirado nesse sentido…). Quero guardá-lo para sempre comigo. Quem sabe mostrá-lo um dia a um filho. Ou aos filhos dos outros.

Há uma coisa que falta. Essa coisa é que é linda!

***

Post Scriptum 1: Há, na verdade, outra coisa que falta nesse filme em que participei dedicado a Kiarostami. Não é, porém, um unsolved mystery; pelo contrário, trata-se de uma memória muito bem resolvida, muitíssimo amada, da minha infância (uma cena em particular tratei de deixar gravada num texto para outro dossier desta casa). Segue mais abaixo…

Post Scriptum 2: “Physical” é uma óptima canção do LP homónimo de 1981 (John Farrar, produtor, em grande forma). Mas não é a única. É tão injusto pensar no nome de Olivia Newton-John e associá-lo exclusivamente a esse hit como falar de, sei lá, Joseph Losey para o reduzir a The Servant (O Criado, 1963). “Make A Move On Me”, por exemplo (“Recovery” é outra), eis um tesourinho à espera de ser redescoberto – e não menos físico, pois claro…

“Won’t you spare me all the charms and take me in your arms?

I can’t wait

I can’t wait

I’m the one you want

That’s all I wanna be

So come on baby, make a move on me

Got nowhere to go

All my time is free

So come on baby, make a move on me

Tonight

I can’t wait

I can’t wait

You made the prettiest speech I’ve heard

But a single touch surely is worth a thousand words

To a heart that’s open wide

And from the start was on your side

(I can’t wait to)

Won’t you spare me all the charms and take me in your arms?

I can’t wait

I can’t wait…”

Texto escrito em resposta ao nosso apelo em defesa dos suportes físicos, publicado no dia 19 de Novembro de 2020 e assinado pelos editores do À pala de Walsh.

Partilhar isto:

  • Twitter
  • Facebook
Abbas KiarostamiAndrei TarkovskyEm defesa dos suportes físicosOrson WellesPedro AlmodóvarVítor Ribeiro

Francisco Noronha

francisconoronha10@hotmail.com

Artigos relacionados

  • Acção!

    Formatos físicos na era do streaming: do VHS à pirataria

  • Acção!

    A propósito do objeto como prolongamento da experiência fílmica

  • Acção!

    Os habitantes das estantes

Últimas

  • Passatempo The Stone and the Plot: “Diálogo de Sombras”

    24 de Março, 2023
  • E depois outro e outro e outro

    23 de Março, 2023
  • “Great Yarmouth: Provisional Figures”: o vampirismo do corredor de longa distância

    22 de Março, 2023
  • Passatempo The Stone and the Plot: “Sacavém”

    22 de Março, 2023
  • “Crossing Delancey”: amor à terceira vista

    20 de Março, 2023
  • Cartas na mesa

    20 de Março, 2023
  • “Pacifiction”: o cinema de Serra por fim pacificado

    17 de Março, 2023
  • Júlio Alves: “é maravilhoso falarmos de pessoas normais”

    15 de Março, 2023
  • “O que Podem as Palavras”: todos os caminhos vão dar à sororidade

    14 de Março, 2023
  • “I comme Iran”: a gramática também é política

    14 de Março, 2023
  • Caderneta de Cromos #16: Pedro Florêncio

    13 de Março, 2023
  • Vai~e~Vem #49: a ameaça é diversa

    8 de Março, 2023
  • “La Noire de…”: monólogo de uma mulher chamada Diouana com a sua patroa

    8 de Março, 2023
  • Viver e Viver

    7 de Março, 2023
  • “A Touch of Zen”: a vingadora

    3 de Março, 2023
  • Quem Somos
  • Colaboradores
  • Newsletter

À Pala de Walsh

No À pala de Walsh, cometemos a imprudência dos que esculpem sobre teatro e pintam sobre literatura. Escrevemos sobre cinema.

Críticas a filmes, crónicas, entrevistas e (outras) brincadeiras cinéfilas.

apaladewalsh@gmail.com

Últimas

  • Passatempo The Stone and the Plot: “Diálogo de Sombras”

    24 de Março, 2023
  • E depois outro e outro e outro

    23 de Março, 2023
  • “Great Yarmouth: Provisional Figures”: o vampirismo do corredor de longa distância

    22 de Março, 2023
  • Passatempo The Stone and the Plot: “Sacavém”

    22 de Março, 2023
  • “Crossing Delancey”: amor à terceira vista

    20 de Março, 2023

Etiquetas

1970's 2010's 2020's Alfred Hitchcock François Truffaut Fritz Lang Jean-Luc Godard John Ford João Bénard da Costa Manoel de Oliveira Martin Scorsese Orson Welles Pedro Costa Robert Bresson

Categorias

Arquivo

Pesquisar

© 2021 À pala de Walsh. Todos os direitos reservados.