Bure baruta (Cabaret Balkan, 1998) de Goran Paskaljević
Sente-se um travo a obscena insanidade pelo caminho que se inicia: do espectáculo do mundo que se (pre)vê descer pelas profundezas das condutas – agora expostas.
Homens em jeito de resíduos que se espalham, se cruzam, se aglomeram, se conduzem por meandros de uma água tíngida pela podridão de uma cultura de desordem moral, ética, social e política.
Este é o mundo daqueles que, em si, já pereceram; daqueles que, em si, representam o potencial obscuro do universal degredo da natureza subjacente ao impulso humano.
Num terreno de conflitos [re(conhecidos)], seguimos um trajecto que extravasa fronteiras geográficas e temporais: um encontro do indivíduo com o arquétipo, do cidadão com o mundo, do homem com o país, numa aventura de extinção.
Num campo de destruição [im(pre)]visível, somos guiados por um fluxo constante de pequenos acontecimentos, de pequenas personagens – os pequenos homens – que expandem os limites da (re)acção, da (pre)tensão a pontos de incalculáveis pontos de (suja) crueldade, fatalidade.
Estes são os destinos daqueles que, em si, se sentem (im)potentes; daqueles que, em si, representam a negritude da (im)possibilidade humana.
A incredulidade reina sobre qualquer espectador deste espectáculo do terror proposto por Paskaljević: uma noite de explosões (de temperamento inconstante) despoletadas pelo toque na fragilidade do espírito dos homens perdidos.
Um gatilho que se aperta a cada gesto, a cada palavra, a cada momento em que o seu conceito de si é agitado pela natural existência do (sempre presente) mundo exterior. Um disparo de seres que deambulam pela penumbra da loucura de tentativa de imposição de um regime de regras que os prevejam enquanto os elegidos messias do caos.
A pena imposta pela tragédia foge das mãos da matriz da sanidade: uma visão cáustica de um mundo regido pelo dejecto fálico. Numa noite pontuada pelas emoções expelidas pelos restos – e rostos – de uma virilidade morta, ressalta somente a fraqueza, a insegurança dos abanões – dos gestos do comum – sobre os pobres da existência.
Num grito pela salvação, somos levados a um questionamento sobre a origem da enfermidade. Questões de um mundo (ainda) presente, pistas de uma visão (longe) do passado. Mas os reais culpados – esses – fogem até hoje.