1.º Undine (2020) de Christian Petzold — 73 pts.
2.º The Card Counter (The Card Counter: O Jogador, 2021) de Paul Schrader — 71 pts.
3.º First Cow (First Cow – A Primeira Vaca da América, 2019) de Kelly Reichardt — 67 pts.
4.º Domangchin yeoja (A Mulher Que Fugiu, 2020) de Hong Sang-soo — 55 pts.
5.º State Funeral (Funeral de Estado, 2019) de Sergei Loznitsa — 39 pts.
6.º Madres paralelas (Mães Paralelas, 2021) de Pedro Almodóvar — 37 pts.
7.º A Metamorfose dos Pássaros (2020) de Catarina Vasconcelos — 36 pts.
8.º Babardeala cu bucluc sau porno balamuc (Má Sorte no Sexo ou Porno Acidental, 2021) de Radu Jude — 33 pts.
9.º Gûzen to sôzô (Roda da Fortuna e da Fantasia, 2020) de Ryûsuke Hamaguchi — 32 pts.
10.º The Disciple (O Discípulo, 2020), de Chaitanya Tamhane — 31 pts.
Mais um ano, mais uma viagem. O ano horribilis de 2021 – com a pandemia a não dar descanso – reservou algumas felicidades aos cinéfilos, mesmo que não tenha sido imune a uma série de frustrações, angústias e dúvidas. A maioria dos nossos walshianos interroga-se: o ano foi mau? Má foi a pandemia, porque o cinema, e inclusive o já dado por mais morto do que vivo “cinema em sala”, não foi de todo assim tão horrível. De facto, como também nota mais do que um walshiano, tivemos o prazer – o luxo, apetece dizer – de ver um punhado de filmes realizados por nomes grandes, alguns pertencentes a um certo cânone recente do cinema de autor (caso do indiano Tamhane, mas podíamos incluir ainda Catarina Vasconcelos e a vencedora da Palma de Ouro, referida nalguns tops individuais mas não contemplada no top final, Julia Ducournau) e, acima de tudo, mesmo muitos (um número anormalmente grande) de pesos-pesados: Clint Eastwood, Steven Spielberg, Paul Verhoeven, Pedro Almodóvar, Nanni Moretti, Paul Schrader e já estabelecidos mas ainda relativamente jovens nomes no panorama do cinema de autor “não-americano”, tais como Christian Petzold, Hong Sang-soo, Sergei Loznitsa e Miguel Gomes (que aqui partilha a realização com Maureen Fazendeiro), só para citar alguns casos. Uns quantos destes realizadores conseguiram ver os seus filmes destacados, outros, seja pela não escolha, seja pela manifestação de algo gravosas decepções nos textos de apresentação dos tops individuais, levaram com o chicote dos nossos críticos. Foi, no limite, um óptimo ano para nos reencontrarmos com alguns dos monstros (heróis e vilões) de tantas cinefilias e para nos situarmos de novo no – e face ao – seu cinema.
Quem saiu a ganhar? Parece-nos que claramente três importantes habitués aqui do burgo, acima de tudo e de todos, Christian Petzold (o number one), que já tinha entrado no top colectivo com Petzold (2014) (terceiro lugar em 2015) e Transit (Em Trânsito, 2018) (sexto lugar em 2019), e o inevitável Hong Sang-soo (aqui no quarto lugar), o mais distinguido cineasta dos nossos tops, sendo o único realizador a obter por duas vezes a distinção máxima: em 2013, com Da-reun na-ra-e-suh (Noutro País, 2012) e, em 2016, com Ji-geum-eun-mat-go-geu-ddae-neun-teul-li-da (Sítio Certo, História Errada, 2015). Já o americano Paul Schrader, uma velha raposa que não costumava constar dos nossos tops, repete o segundo lugar, depois de em 2018 ter obtido o consenso walshiano graças a First Reformed (No Coração da Escuridão, 2017).
O cinema nacional aparece representado por uma longa de estreia de Catarina Vasconcelos – assinale-se que, lamentavelmente, no ano passado nenhum filme português chegou aos nossos “mais que tudo”. A outra realizadora deste grupo é Kelly Reichardt, uma das nossas favoritas, que é distinguida depois do seu filme anterior [A Certain Women (2016)] não se ter estreado em Portugal: First Cow ocupa o terceiro lugar, sendo que em 2020 pela primeira vez os walshianos escolheram como filme do ano a obra de uma realizadora, a francesa Céline Sciamma com o magnífico Portrait de la jeune fille en feu (Retrato da Rapariga em Chamas, 2019).
Sobre os números deste top, destacamos a grande proximidade na contagem de votos entre os três primeiros, algo que não se verificou de todo no ano passado – a proximidade entre os títulos continua do quinto posto, com State Funeral, até ao décimo lugar, ocupado por The Disciple (o único filme deste top que teve estreia apenas no streaming; apenas 8 pontos separam estes filmes entre si). Isto é sinal de uma grande dispersão de votos, talvez também de uma certa indecisão ou, enfim, de uma qualidade aproximada dos filmes, sendo que, lendo os textos de apresentação dos tops individuais, fica evidente a sensação de que a coisa podia ter corrido bem pior do que, no final e feitas as contas, efectivamente correu. E, apesar de confinamentos, vacinas, reforços e muito teletrabalho, fomos bastante ao cinema. Por isso, palmas para nós!
Ana Cabral Martins
- West Side Story (2021) de Steven Spielberg
- Dune: Part One (Dune – Duna, 2021) de Denis Villeneuve
- The French Dispatch of the Liberty, Kansas Evening Sun (Crónicas de França do Liberty, Kansas Evening Sun, 2021) de Wes Anderson
- Luca (2021) de Enrico Casarosa
- Titane (2021) de Julia Ducournau
Esta não será a selecção mais minuciosa. Houve alguns filmes que me escaparam ao longo do ano, outros que ainda não tive tempo de ver nestes meses finais do ano. Mas esta compilação mostra o que me ficou na mente e no coração. A mestria de Steven Spielberg de West Side Story (a crítica está prestes a sair), que consegue trazer um pouco do velho Hollywood que me educou aos nossos dias, juntando uma inconsciente homenagem a Stephen Sondheim, cujo peso e valor são incalculáveis, a uma amostra do que o filme musical pode ser. Dune porque Denis Villeneuve fez o melhor blockbuster do ano, e possivelmente a melhor adaptação possível, conseguindo trabalhar a uma escala épica como poucos têm conseguido na contemporaneidade. Ficamos à espera do resto da aventura de Paul. The French Dispatch porque, se puder citar a minha própria crítica, “tem algo mais profundo e comovente do que as suas camadas estéticas podem deixar transparecer” e é um dos filmes deste ano que melhor mostram o quão idiossincrática, pessoal e destilada pode ser a visão de um realizador. Luca, porque no meio da volatilidade do ano, ainda há espaço para sinceridade e emoção (o único filme sobre pessoas a ultrapassar as suas circunstâncias em Itália que interessa este ano — sim, estou a olhar para ti, House of Gucci). E, finalmente, Titane. A Palme d’Or segue a mesma veia do filme de Wes Anderson no sentido em que é exactamente aquilo que quer ser, sem pedidos de desculpas ou palavras tímidas. Uma montanha russa e um filme que oferece ideias e imagens perturbadoras, que ficam na cabeça, que pedem para se ficar a matutar. E há que tirar o chapéu a isso.
Carlos Alberto Carrilho
- Titane de Julia Ducournau
- Censor (2021) de Prano Bailey-Bond
- First Cow de Kelly Reichardt
- The Power of the Dog (O Poder do Cão, 2021) de Jane Campion
- A Metamorfose dos Pássaros de Catarina Vasconcelos
- Babardeala cu bucluc sau porno balamuc de Radu Jude
- France (2021) de Bruno Dumont
- State Funeral de Sergei Loznitsa
- Benedetta (2021) de Paul Verhoeven
- Annette (2021) de Leos Carax
E ainda dez séries de televisão: Midnight Mass (Mike Flanagan, 2021), Black Summer (John Hyams, Karl Schaefer, 2019– ), Servant (Tony Basgallop, M. Night Shyamalan 2019– ), Ojing-eo geim (Squid Game, Hwang Dong-hyuk, 2021– ), Mare of Easttown (Brad Ingelsby, 2021), WandaVision (Jac Schaeffer, 2021), The White Lotus (Mike White, 2021–2022), Jiok (Hellbound, Yeon Sang-ho, 2021– ), 30 Monedas (30 Coins, Álex de la Iglesia, 2020– ), Chapelwaite (Jason Filardi, Peter Filardi, 2021– ).
Carlos Natálio
- Annette de Leos Carax
- Babardeala cu bucluc sau porno balamuc de Radu Jude
- State Funeral de Sergei Loznitsa
- Mães Paralelas (Mães Paralelas, 2021) de Pedro Almodóvar
- Benedetta de Paul Verhoeven
- The Power of the Dog de Jane Campion
- A Metamorfose dos Pássaros de Catarina Vasconcelos
- Colectiv (Colectiv – Um Caso de Corrupção, 2019) de Alexander Nanau
- Malignant (Maligno, 2021) de James Wan
- Barb and star go to vista del mar (As Férias Loucas de Barb e Star, 2021) de Josh Greenbaum
Haiku 2021
Carax enlouqueceu / Jude despornografou / Loznitza enterrou /Almodóvar biologizou/ Verhoeven dildou / Campion transcendeu / Vasconcelos começou / Nanau descorrompeu / Wan bipolarizou / Greenbaum marshmallou. E adeus cobid, xÔ.
Daniela Rôla
- Undine de Christian Petzold
- The Card Counter de Paul Schrader
- Les choses qu’on dit, les choses qu’on fait (As Coisas Que Dizemos, As Coisas Que Fazemos, 2020) de Emmanuel Mouret
- A Mulher Que Fugiu de Hong Sang-soo
- First Cow de Kelly Reichardt
- Fabian oder Der Gang vor die Hunde (Fabian, 2021) de Dominik Graf
- France de Bruno Dumont
- Dorogie tovarishchi! (Caros Camaradas!, 2020) de Andrey Konchalovsky
- The French Dispatch de Wes Anderson
- Bergman Island (A Ilha de Bergman, 2021) de Mia Hansen-Løve
E enfim, mais um ano com uma valente síncope quando ainda mal iniciava, cerca de três meses com as salas de cinema fechadas. Undine é, pois, o filme ideal para encabeçar esta lista: com uma estreia abortada logo no início do ano, imaginamo-lo em projecção contínua, suspensa, durante todo esse tempo, num ecrã de cinema subtraído aos nossos olhos, até ao momento da sua concretizada estreia em Abril. Se France se conspurca num presente corrosivo, Undine é um filme com as entranhas maculadas de passado, da mesma história que alimenta outros filmes desta lista. Bem vistas as coisas, todos estes filmes parecem alimentar-se da História e de histórias – de revisitações, reinterpretações, reescritas.
Duarte Mata
- The Card Counter de Paul Schrader
- The Father (O Pai, 2020) de Florian Zeller
- A Metamorfose dos Pássaros (2020) de Catarina Vasconcelos
- Babardeala cu bucluc sau porno balamuc de Radu Jude
- Rifkin’s Festival (2020) de Woody Allen
- First Cow de Kelly Reichardt
- Spencer (2021) de Pablo Larraín
- Le sorelle Macaluso (As Irmãs Macaluso, 2020) de Emma Dante
- Sous le ciel d’Alice (Céus do Líbano, 2020) de Chloé Mazlo
- Nobody (Ninguém, 2021) de Ilya Naishuller
3 considerações sobre este ano:
- Aconteceu um par de vezes neste último trimestre: vou a um cinema NOS e passam trailers de produções da Netflix que, ao que o indicativo deixa saber, terão uma certa janela de exibição em sala. Infelizmente, ambos os filmes a que se referiam eram blockbusters, pelo que o novo da Campion ou a estreia na realização da Rebecca Hall não compartilharam de sorte idêntica. Em suma: se parece que as plataformas e distribuidoras estão dispostas a findar dissidências e a entrar em negociações quanto à possibilidade híbrida da exibição de determinadas obras, o número e características de títulos permitidos nesse regime de graça ainda são bastante limitados (e, francamente, um tanto desinteressantes). Mas, dado que estamos em época natalícia, vamos acreditar que este é só o primeiro passo numa caminhada promotora de mudanças paradigmáticas cujo destino poderá satisfazer todo e qualquer tipo de cinéfilo.
- Aparentemente, a pandemia acabou por originar um inovador género cinematográfico, o qual gosto de intitular de “comédia de confinamento”. Dele incluo Radu Jude na minha lista (embora, enfim, nem seja essa camada pandémica a mais importante nele) e, se houvesse espaço para mais 5 títulos neste top, constaria nele o subvalorizado Locked Down (2021) do Doug Liman. Se atravessamos uma situação calamitosa a nível global, é óptimo compreender que não existe medo em usar o riso como arma para nos ajudar a enfrentá-la. Ao fim e ao cabo, é tão necessário como uma vacina. Talvez mais, até.
- Se hoje a minha geração cinéfila olha para trás a questionar-se, com alguma inveja, como seria acompanhar directamente a carreira de Ford, Hawks, Hitchcock ou Renoir à medida que os seus novos trabalhos iam estreando, daqui a uma ou duas gerações a mesma questão será feita sobre Schrader, Allen, Eastwood ou Almodóvar. Independentemente das apreciações subjectivas em torno dos resultados finais, convém lembrarmo-nos que os nossos veteranos não estarão cá por muito mais tempo, e que é um privilégio poder dizer que, quando chegaram as devidas alturas, estivemos lá para eles: vendo-os, pensando-os, discutindo-os. E é graças a eles, às novas vozes promissoras (Zeller, Vasconcelos, Mazlo, Naishuller) e aos que ocupam o espaço geracional intermédio entre uns e outros (Larraín, Reichardt, Dante) que posso afirmar sem receios: em 2021, não foi desta que o cinema morreu.
Francisco Noronha
- Tre piani (Três Andares, 2021) de Nanni Moretti
- Madres paralelas de Pedro Almodóvar
- Benedetta de Paul Verhoeven
- Undine de Christian Petzold
- Bergman Island de Mia Hansen-Løve
- The Card Counter de Paul Schrader
- Last Night in Soho (A Noite Passada em Soho, 2021) de Edgar Wright
- Halloween Kills (Halloween Mata, 2021) de David Gordon Green
- Malignant de James Wan
- Rifkin’s Festival de Woody Allen
Outros: Minari (2020), La Flor (A Flor, 2018), First Cow, France, Titane, A Voz Humana (The Human Voice, 2020), Miss Marx (2020), Gûzen to sôzô (Roda da Fortuna e da Fantasia, 2021).
O critério adoptado é o de sempre: filmes estreados apenas e só em sala. Carpir o encerramento das salas decorrente da pandemia e depois, na reabertura, ver estreias em casa é peditório para o qual, se alguém já deu, só desperdiçou os tostões necessários para um bilhete de cinema (até os sites que contabilizam as estreias passaram a incluir os néteflicses e quejandos nas suas listas; se não os podes vencer, não te juntes mesmo a eles). Sim, foi um ano que começou mal: ainda se ouviam os ecos das Janeiras e eis que as salas, já de si túmulos fantásticos, se amortalhavam. Depois da reabertura, poucos motivos de regozijo. Só foram chegando mesmo no último semestre, trimestre até, primeiro timidamente (A Ilha de Bergman, Maligno), depois com estrondo (Almodóvar, Moretti, Verhoeven). A Flor poderia ser uma empreitada formidável, as primeiras duas partes (e, em parte, as últimas duas) para isso apontam; depois, vem a redundância, o vazio de ideias, a mesmidade de soluções. É pena. 2021 terminou com Dumbo (1941) (e com a enésima constatação de que a memória é uma cousa tão consistente como um gelado ao sol) – em sala, claro, a da Casa das Artes (Cineclube do Porto). Pela primeira vez desde a estreia de L’arrivée d’un train à La Ciotat (1896), não foi possível mandar calar os faladores na sala – “Oh, Mãe! É um elefante no ar…!”… Casa das Artes onde, aliás, é por estes dias possível visitar a exposição Mário Bonito: Experimentação do Moderno, por ocasião dos 100 anos do nascimento do cineclubista, cinéfilo, artista e arquitecto portuense. Imperdível. 2022, andiamo!
Inês N. Lourenço
- Undine de Christian Petzold
- First Cow de Kelly Reichardt
- The French Dispatch de Wes Anderson
- The Disciple de Chaitanya Tamhane
- Madres paralelas de Pedro Almodóvar
- Roda da Fortuna e da Fantasia de Ryûsuke Hamaguchi
- A Metamorfose dos Pássaros de Catarina Vasconcelos
- The Card Counter de Paul Schrader
- Minari de Lee Isaac Chung
Embora não vá elaborar sobre cada uma das minhas escolhas, não deixo de sentir gosto em passar os olhos pela lista um par de vezes. E eis que percebo algo na sua configuração interna: este ano oscilo entre filmes fluidos (Undine, First Cow, The Disciple, Madres paralelas, Minari) e de estrutura rígida (The French Dispatch, Roda da Fortuna e da Fantasia, A Metamorfose dos Pássaros, The Card Counter). Com certeza a psicanálise terá uma explicação para isso. Entretanto, o que me chateia é deixar de fora o meu verdadeiro filme do ano, por condicionalismos do dia de estreia (30 de Dezembro). Não preciso de dizer qual é, mas posso revelar que tenho um fraquinho por Cooper Hoffman.
João Araújo
1. First Cow de Kelly Reichardt
2. Beginning (O Começo, 2020) de Dea Kulumbegashvili
3. A Mulher Que Fugiu de Hong Sang-soo
4. Nomadland (Nomadland – Sobreviver na América, 2020) de Chloé Zhao
5. Gûzen to sôzô (Roda da Fortuna e da Fantasia, 2021) de Ryûsuke Hamaguchi
6. The Card Counter de Paul Schrader
7. Cry Macho (Cry Macho – A Redenção, 2021) de Clint Eastwood
8. The Power of the Dog de Jane Campion
9. Colectiv de Alexander Nanau
10. France de Bruno Dumont
Uma menção honrosa para filmes que podiam também estar nesta lista: Malignant de James Wan, Minari de Lee Isaac Chung, Nuevo orden (Nova Ordem, 2020) de Michel Franco, Babardeala cu bucluc sau porno balamuc de Radu Jude, Madres paralelas de Pedro Almodóvar, Druk (Mais Uma Rodada, 2020) de Thomas Vinterg, Undine de Christian Petzold, Le sorelle Macaluso de Emma Dante, Spencer de Pablo Larraín e Waves (Ondas, 2019) de Trey Edward Shults.
O ano que não podia ser pior que 2020 mas que afinal foi, foi um ano estranho para o cinema: se ficou marcado por um regresso (dentro da normalidade possível) às salas de cinema depois de novo encerramento, parecia estarmos a viver uma espécie de delay, já que a maior parte das produções parecia ainda ser anterior à pandemia – o filme de Radu Jude foi mesmo o primeiro a encarar de frente este novo mundo (e ninguém lhe tira um dos melhores momentos do ano, com aquele belíssimo primeiro terço do filme e da sua fuga antonioniesca). Neste ano atípico três “aventuras” merecem elogios pelo arrojo do seu lançamento: o restauro e estreia de O Movimento das Coisas (1985) de Manuela Serra, a maratona de sessões das 13 horas de La Flor (2018) Mariano Llinás, e o ciclo “Mestres Japoneses Desconhecidos”, com a beleza dos seus filmes e a descoberta da obra-prima Jochukko (O Menino da Ama, 1955) de Tomotaka Tasaka. Atípico também porque, olhando para a lista, este não é o melhor filme de Kelly Reichardt, nem de Ryûsuke Hamaguchi, Paul Schrader ou Bruno Dumont, mas não é por isso que não deixaram uma impressão forte. Alguns momentos que ficam gravados na memória: a primeira sequência de Beginning, primeira obra da realizadora georgiana Dea Kulumbegashvili e a revelação do ano; o gesto de voltar a entrar numa sala de cinema logo após o filme terminar para o ver outra vez (Hong Sang-soo); o par central de First Cow e, mais do que uma parábola sobre as origens americanas, a forma de criar uma história através de repetições; a Fern de Frances McDormand e Chloé Zhao e aquela solidão contagiante e imponente; e a forma como Hamaguchi, de forma minimalista, consegue dizer tanto.
João Lameira
- Malignant de James Wan
- First Cow de Kelly Reichardt
- The Card Counter de Paul Schrader
- Les choses qu’on dit, les choses qu’on fait de Emmanuel Mouret
- A Mulher Que Fugiu de Hong Sang-soo
- Madres paralelas de Pedro Almodóvar
- Undine de Christian Petzold
- The Velvet Underground (2021) de Todd Haynes
Reparo, mais uma vez, que vi poucos filmes em sala, e, consequentemente, poucas estreias. É verdade que as coisas se compuseram nas semanas mais recentes — The Card Counter, Les choses qu’on dit, Madres paralelas. No entanto, para completar esta lista, tentei fazer uma maratona de filmes em atraso. que acabou por nem ser uma meia-maratona (quando muito uma mini — ficou muito por ver). Ainda assim, tive boas surpresas, quando não excelentes, como First Cow.
E, se não escolho dez filmes, é tanto pela dificuldade em conseguir fazê-lo — no máximo, acrescentaria The French Dispatch de Wes Anderson à lista—, como pela vontade de abrir espaço para dois filmes que, pelas regras desta casa, não são seleccionáveis: Jochukko (O Menino da Ama, 1955) de Tomotaka Tasaka, programado pelo Miguel Patrício e pelo Daniel Pereira no ciclo “Mestres Japoneses Desconhecidos”, uma obra belíssima, e, sem sombra de dúvida, o meu filme do ano; e O Movimento das Coisas (1985) de Manuela Serra, também distribuído pelo Daniel (a sua The Stone and the Plot ganha facilmente o grande prémio das estreias tardias).
Sem O Menino da Ama, escolhi para primeiro lugar Malignant, a mistela que saiu da trituradora onde James Wan enfiou Brian de Palma, Dario Argento e a telenovela do meio da tarde para meu grande regozijo.
José Bértolo
- Undine de Christian Petzold
- Annette de Leos Carax
- A Mulher Que Fugiu de Hong Sang-soo
- Roda da Fortuna e da Fantasia de Ryûsuke Hamaguchi
- Gunda (2020) de Viktor Kossakovsky
- Février (Fevereiro, 2020) de Kamen Kalev
- The Power of the Dog de Jane Campion
- Benedetta de Paul Verhoeven
- France de Bruno Dumont
- Madres paralelas de Pedro Almodóvar
Os primeiros quatro filmes são-nos oferecidos por realizadores que perseguem as suas ideias de cinema com obstinação obsessiva mas também com uma clarividência desarmante. Genericamente, prefiro o Sang-soo e o Hamaguchi ao Carax, mas Annette propõe uma reflexão sobre o que é o “audiovisual” hoje ainda mais lúcida do que aquela recentemente desenvolvida por David Lynch na terceira temporada de Twin Peaks. Trata-se de uma espécie de Holy Motors v.2, e é tão iluminado e desconcertante quanto o anterior, ampliando, contudo, o escopo da meditação. No que diz respeito a Undine, não escrevo nada, porque há emoções muito raras que não se traduzem bem em palavras, e particularmente mal em adjectivos. Posso dizer, apenas, que é como um sopro. De resto, destaco a surpresa que foi, para mim, o filme de Jane Campion. É pouco ou nada western e muito Hitchcock: o fabuloso In the Cut (In the Cut – Atracção Perigosa, 2003) ganhou um irmão. Já a propósito de Benedetta, gostaria de referir que Paul Verhoeven voltou a provar que é um dos cineastas mais inteligentes de toda a história do cinema, e, se não vai tão bem aqui quanto em Showgirls (1995) ou Starship Troopers (Soldados do Universo, 1997), continua a ser o melhor a esconder o sorriso escarninho perante aqueles que julgam os seus filmes medíocres. Ironia diabólica, a nossa. O Almodóvar figura nesta lista apenas for old times’ sake. Na verdade, suspeito que até posso ter gostado mais do Luca.
Luís Mendonça
- Undine de Christian Petzold
- Colectiv de Alexander Nanau
- A Mulher Que Fugiu de Hong Sang-soo
- Malignant de James Wan
- Belye nochi pochtalyona Alekseya Tryapitsyna (As Noites Brancas do Carteiro, 2014) de Andrey Konchalovskiy
- The Card Counter de Paul Schrader
- Cry Macho de Clint Eastwood
- Nomadland de Chloé Zhao
- Annette de Leos Carax
- Candyman (2021) de Nia DaCosta
O ano de cinema foi melhor do que o ano “fora do cinema”, por todas as razões. Quero com isto dizer que houve, apesar de todos os problemas ligados à distribuição e à própria produção, “motivos para sorrir”. Por exemplo, parece-me que a economia dramática e formal de Petzold está mais afinada do que nunca – os primeiros minutos de Undine são a fina flor “de palmaniana”. O documentário de Nanau é uma experiência aterradora, em que se pode assistir ao desmoronamento de um país mas sem fugir à dura reflexão sobre a situação em que vivemos, neste país que nos calhou na rifa “divina”. Depois, Hong Sang-soo assina um dos seus filmes mais airosos e subtis, ao passo que Wan perde a cabeça e realiza um delírio cinematográfico que, estou em crer, vai dar muito que falar talvez não já, já mas no futuro. Dos restantes títulos, destacaria a manutenção da boa forma por Schrader, depois de First Reformed (No Coração da Escuridão, 2017) ter entrado em tantos tops do ano em 2018 (eu coloquei-o em terceiro lugar) e um Eastwood que é honesto, doce e sereno, um filme de passagem para qualquer lugar, que me comoveu genuinamente (sei que Schrader detestou, daí ter colocado Cry Macho a morder-lhe os calcanhares). E ainda duas coqueluches do cinema mainstream: Chloé Zhao, justa vencedora do Óscar, e a surpreendente realizadora de Candyman Nia DaCosta (muita coisa impressionante neste filme para não acabar referenciado neste top) são, digamos assim, “fotografias do momento”, numa altura em que os seus nomes aparecem associados ao universo “triturador” dos super-heróis…
O título de Konchalowsky havia sido dos filmes de que mais gostei do distante ano de 2014, mas só agora estreia, e Leos Carax está aqui no top para me lembrar que tivemos em 2021 um importante realizador que, pese embora as más críticas, não ficou aquém das expectativas (muito por força da maneira como abre e da maneira como termina esta saga musical surpreendentemente dura acerca da paternidade). Apesar de tudo, e por ordem crescente de decepções, outros não podem dizer o mesmo, para o meu gosto, claro está, a saber: Almodóvar [ainda que tenha gostado bastante de Madres paralelas, coloco-o um ou dois patamares abaixo de Dolor y gloria (Dor e Glória, 2019)], Reichardt [bonita mas sonolenta ode à amizade já tão, mas tão longe da simplicidade comovente de Old Joy (2006)…], Verhoeven [os primeiros 30 minutos de Benedetta (2021) são de luxo, mas o resto deixou-me algo indiferente], Wes Anderson (algumas vinhetas sim, mas o todo deixa um sabor algo enjoativo na boca), Miguel Gomes (um esboço é um esboço é um esboço) e Shyamalan (a maior desilusão do ano, um filme falhado que, vou rezar porque o cepticismo é grande, talvez possa merecer algum tipo de reavaliação futura). Uma nota final para Licorice Pizza (2021): não vi ainda, mas talvez caiba num top em 2021, porque tem tudo, mesmo tudo, para ser, como diz o outro, “bigue”.
Raquel Morais
- The Works and Days (of Tayoko Shiojiri in the Shiotani Basin) (2020) de C.W. Winter e Anders Edström
- Nuhu Yãg Mu Yõg Hãm: Essa Terra É Nossa! (2021) de Isael Maxakali, Sueli Maxakali, Carolina Canguçu, Roberto Romero
- Ich war zuhause, aber… (I Was at Home, But…, 2019) de Angela Schanelec
- Her Socialist Smile (2020) de John Gianvito
- Longa Noite (2019) de Eloy Enciso
- State Funeral de Sergei Loznitsa
- First Cow de Kelly Reichardt
- Danses macabres, squelettes et autres fantaisies (2019) de Rita Azevedo Gomes, Pierre Léon e Jean-Louis Schefer
- Cinetracts ’20 (2019–20) Natalia Almada, Tony Buba, Charles Burnett, Tamer El Said, Akwaeke Emezi, Su Friedrich, Kelly Gallagher, Cameron Granger, Christopher Harris, Sky Hopinka, Karrabing Film Collective, Bouchra Khalili, Gabriel Mascaro, Rosine Mbakam, Natasha Mendonca, Sheilah and Dani ReStack, Beatriz Santiago Muñoz, Cauleen Smith, Apichatpong Weerasethakul, Želimir Žilnik
- South (2020) de Morgan Quaintance
O narrador de La Ronde, de Max Ophüls, inaugura o filme sugerindo que as pessoas conhecem, geralmente, apenas uma parte da realidade, por poderem ver, unicamente, um lado das coisas. As listas reunidas aqui dão conta da parcialidade de que ali se fala: o que cada um viu ao longo do ano condiciona o que se pode inventariar. Acresce que conhecer só uma parte da outra pessoa (uma lista de dez que alguém fez para nós) deixa de lado os filmes que acompanharam essa dezena, inexplicada. Condenados que estamos, ajudam-nos às vezes as limitações. Entretive-me a reencontrar nos filmes exibidos em Portugal (no cinema, na televisão, nas plataformas de streaming, nos websites) coisas que tinha calhado ver. Como os malvados confinamentos multiplicaram as salas, aproveito para elogiar filmes que chegaram a casa: urge continuar a ir ao cinema, mas também se aprende muito sobre o cinema e sobre o mundo noutros lugares.
Escuso-me a apontar as limitações das listas, que sempre me afligem, e penso no quanto me reconforta ler a de alguma fiel amiga que me ofereça alimento e distracção. Fica para a troca. Espero que alguém se possa ocupar com estes dez filmes, que, não prometo serem os melhores do ano, mas que são belos e me mostraram coisas tão belas quanto as mulheres fugidias e encantatórias de Hong Sang-soo e de Christian Petzold, que deixei para trás por saber que não lhes faltariam as bocas do mundo. Fazendo como o narrador de Ophüls, que olha para os quartos escondidos, retomo a continuidade daquele dispositivo narrativo. Os filmes da minha lista, constroem-se, de formas diversas, sobre gestos de passagem entre e transmissão de dias, terras, cenas, textos, histórias, arquivos, vacas, conversas, flores e canções, de mão em mão, por esta ordem, mas invertida e destrocada, porque a ronda é circular.
Ricardo Gross
- The Disciple de Chaitanya Tamhane
- Le sorelle Macaluso de Emma Dante
- Madres paralelas de Pedro Almodóvar
- France de Bruno Dumont
- The Card Counter de Paul Schrader
- The Little Things (As Pequenas Coisas, 2021) de John Lee Hancock
- Diários de Otsoga (2021) de Maureen Fazendeiro e Miguel Gomes
- Tre piani de Nanni Moretti
- Undine de Christian Petzold
- Nomadland de Chloé Zhao
Este ano ainda consegui fazer uma lista com nove filmes vistos em sala. Até quando resistirei ao streaming e que sentido existe nesse meu gesto?
Ricardo Vieira Lisboa
- Barb and star go to vista del mar de Josh Greenbaum
- Roda da Fortuna e da Fantasia de Ryûsuke Hamaguchi
- A Mulher Que Fugiu de Hong Sang-soo
- Colectiv de Alexander Nanau
- Dune de Denis Villeneuve
- Orphea (2020) de Alexander Kluge
- Malignant de James Wan
- Diários de Otsoga de Maureen Fazendeiro e Miguel Gomes
- The Card Counter de Paul Schrader
- Hygiène sociale (Higiene Social, 2021) de Denis Côté
Para que serve um filme se não nos aquece (especialmente com o preço com que está a eletricidade)? Este ano a minha lista é composta, quase exclusivamente, por filmes que me aqueceram qualquer coisa: o coração, os olhos, a cabeça, o espanto, a indignação, o intelecto, os pés e outras partes mais ou menos pudibundas. Barb and star go to vista del mar foi um lampejo de luz que dourou de alegria e risota o meu confinamento; Roda da Fortuna e da Fantasia encheu-me os olhos de lágrimas (no episódio final), depois de uma das mais estimulantes (em todos os sentidos) cenas à porta aberta; e apesar de visto ainda em 2020, A Mulher Que Fugiu foi um divertidíssimo exercício lúdico de auto-citação que me pôs a cabeça à roda. Noutra ordem, Colectiv mexeu-me com as entranhas do desespero e da afronta e, inversamente, Dune surgiu como monumental mastodonte paquidérmico autoconsciente da sua grandeza. Orphea é puro Alexander Kluge contemporâneo, em tudo o que de melhor e de pior ele tem; Malignant é um carrossel kitsch pela história do cinema de género em modo hiper-truculento; Diários de Otsoga é divertimento conceptual em jeito menor; The Card Counter é um grande filme desequilibrado, como todos os grandes filmes; e Hygiène sociale é um filme falhado que, sabe-se lá porquê, me ficou a roer a mioleira.
Samuel Andrade
- The Velvet Underground de Todd Haynes
- The Card Counter de Paul Schrader
- Women Make Film: A New Road Movie Through Cinema (As Mulheres fazem Cinema, 2018) de Mark Cousins
- State Funeral de Sergei Loznitsa
- The Power of the Dog de Jane Campion
- Colectiv de Alexander Nanau
- Má Sorte no Sexo ou Porno Acidental de Radu Jude
- First Cow de Kelly Reichardt
- Cry Macho de Clint Eastwood
- Censor de Prano Bailey-Bond
Por vários motivos (para além das prosaicas razões pessoais e profissionais, houve ainda os constrangimentos de uma pandemia que não teima em impactar o quotidiano de um cinéfilo), o meu ano de 2021 ficou aquém no que se refere à visualização de cinema.
Contudo, observei títulos suficientes para compor uma lista de dez filmes que residem, de modo especial, em todas as afinidades e características que compõem a minha cinefilia: os documentários found footage, a contenção e desconstrução de géneros cinematográficos, a confirmação de alguns “mitos vivos” da Sétima Arte e uma particular atenção ao cinema “made in Roménia”.
Para além desta dezena de filmes, permanecem na memória: Druk de Thomas Vinterberg, Last Night in Soho, Prazer, Camaradas! (2019), de José Filipe Costa, Benedetta, A Mulher Que Fugiu, The Father, The Hunt (A Caçada, 2020), de Craig Zobel, Dune, Malignant ou I Care a Lot (Tudo Pelo Vosso Bem, 2020), de J Blakeson.
Sérgio Alpendre
- Benedetta de Paul Verhoeven
- La Flor de Mariano Llinás
- Cry Macho de Clint Eastwood
- A Mulher Que Fugiu de Hong Sang-soo
- Diários de Otsoga de Maureen Fazendeiro e Miguel Gomes
- The French Dispatch de Wes Anderson
- Roda da Fortuna e da Fantasia de Ryûsuke Hamaguchi
- The Hand of God (A Mão de Deus, 2021) de Paolo Sorrentino
- Relic (A Presença, 2020) de Natalie Erika James
- Undine de Christian Petzold
No Brasil de 2021, com os cinemas ainda vazios apesar do avanço da vacinação, praticamente só houve espaço para blockbusters. Nesse cenário, filmes mais, digamos, autorais como Benedetta, A Mulher Que Fugiu ou Diários de Otsoga só puderam ser vistos em festivais, na maioria das vezes com exibições online.
O streaming parece ter dominado o circuito comercial que agora desloca-se para nossas casas. Um filme só é bem visto quando estreia no streaming. Não sei se acontece a mesma coisa em Portugal. Espero que não. De todo modo, escolho os filmes do Brasil, onde o circuito comercial parece ter enfrentado problemas maiores.
A pandemia parece ter afetado o cinema como um todo, na verdade. Benedetta foi meu primeiro colocado na lista para este site. Devo dizer que apesar de me parecer sensivelmente superior a Elle (2016), foi meu primeiro colocado menos marcante desde que faço listas anuais, já lá vão uns trinta anos, o único que não chega perto de ser uma obra-prima, como chegava o meu primeiro do ano passado, Richard Jewell (O Caso de Richard Jewell, 2019) – não por acaso, estreado antes da pandemia.
A surpresa da lista é um filme de Paolo Sorrentino, do qual nunca gostei de trabalho algum, mas que em seu Amarcord (1973) tingido com o humor e a tragédia de Scola e Monicelli me capturou em cheio. Está tudo virado? Ou é apenas circunstancial?
De todo modo, ainda não pude ver filmes que estrearam em Portugal e poderiam ter entrado neste lista, obras como Madres paralelas, Três Andares, Il peccato (O Pecado, 2019), de Andrei Konchalovsky, Caros Camaradas! ou Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental.
Teresa Vieira
- Women Make Film: A New Road Movie Through Cinema de Mark Cousins
- Titane de Julia Ducournau
- A Metamorfose dos Pássaros de Catarina Vasconcelos
- Má Sorte no Sexo ou Porno Acidental de Radu Jude
- State Funeral de Sergei Loznitsa
- First Cow de Kelly Reichardt
- Serpentário (2019) de Carlos Conceição
- Diários de Otsoga de Maureen Fazendeiro e Miguel Gomes
- Hygiène sociale de Denis Côté
- Kajillionaire (2020) de Miranda July
Nestes momentos de compilação de preferências cinematográficas anuais, apercebo-me do meu conforto (talvez preguiçoso) tanto no calor do passado, como na descoberta de títulos num circuito de festivais internacionais (que, por vezes, tardam em chegar ao público nacional em massa), ou até mesmo na escavação incisiva (e, por vezes, aleatória) de tesouros perdidos na maré do infinito (exercício cujos relances exponho mensalmente neste espaço de cinefilia de tremenda abertura). Nenhuma lista fará jus à (nossa) experiência, mas aproxima-se (na medida do possível) ao elencar de algumas das maravilhas que pudemos experienciar ao longo de um ano. Esta é uma delas.
Faltam muitos filmes, muitas visões, muitas histórias – e ainda bem.
Vasco Baptista Marques
- The Disciple, de Chaitanya Tamhane
- State Funeral de Sergei Loznitsa
- Undine de Christian Petzold
- Hygiène sociale de Denis Côté
- A Metamorfose dos Pássaros de Catarina Vasconcelos
- The Card Counter de Paul Schrader
- First Cow de Kelly Reichardt
- Caros Camaradas! de Andrei Konchalovski
- A Mulher Que Fugiu de Hong Sang-soo
- Malignant de James Wan
É injusto dizer que 2021 foi, no que à distribuição cinematográfica diz respeito, um ano “atípico”. De facto, e pese embora a perpetuação de uma pandemia que obrigou – uma vez mais – ao encerramento das salas de cinema portuguesas durante cerca de três meses, 2021 foi tristemente típico quanto a tudo o resto. E, muito em particular, na sua confirmação de que a multiplicação incessante das plataformas de acesso ao cinema não impede – antes fomenta – a estabilização de um discurso cinematográfico homogéneo, neutro e anónimo, com o qual contrastam vivamente os dez filmes (e mais uns poucos quantos) que englobei no meu top pessoal. De resto, outras tivessem sido as regras que presidem à constituição da minha lista, e teria de bom grado atribuído o lugar cimeiro a um filme datado de 1955. Chama-se O Menino da Ama e foi realizado pelo japonês Tomotaka Tasaka. Podem procurá-los nas plataformas, se tiverem paciência para descobrir que ele não para por lá.